Linha de separação


12 de janeiro de 2016

Fora do mercado...

Era esta a designação, no tempo do fascismo, que as editoras colocavam referindo-se aos livros proibidos pela censura e apreendidos pela PIDE. Apesar dos prejuízos para as editoras e riscos para os livreiros que os divulgassem houve sempre exemplares que escapavam à sanha persecutória e iam circulando entre amigos.
Dir-se-á que são tempos passados, porém o neoliberalismo vigente não passa de um neofascismo,  subtil com seus formalismos democráticos tentando apresentar-se como o máximo da liberdade individual. Uma liberdade contudo limitada e proporcional ao dinheiro que se possui.  Todo o sistema está montado para o aumento das desigualdades e precarizar a condição do comum dos cidadãos em função dos interesses do grande capital monopolista, detentor do fundamental da riqueza. É o caso da UE e das suas regras.
Hoje não se proíbe a publicação de livros, simplesmente tudo o que foge à ortodoxia vigente fica submerso pela montanha de lixo informativo ou supostamente formativo e portanto também editorial. O efeito é o mesmo. A propaganda e divulgação na comunicação social controla se encarrega de assegurar que assim seja: separar o trigo do joio, segundo o critério dos interesses dominantes.
Vem isto a propósito de livros fundamentais para a compreensão da sociedade em que se vive, sua ideologia, processos e consequências, totalmente escamoteados do comum do cidadãos. Falamos, por exemplo de “Dossier BES, um retrato do capitalismo monopolista em Portugal” (Ed. Avante, coordenação de Ana Goulart e Miguel Tiago) ou ainda de “A “Europa” Como Ela É” e “O Euro – Das Promessas do Paraíso às Ameaças de Austeridade Perpétua” (Ed. Página a Página, A. Avelãs Nunes).
Alguém vê estas obras nos centros comerciais, supermercados, grandes livrarias? Foram alguma vez os autores ouvidos na TV, ou mesmo na rádio, onde não falta espaço nem tempo para a mediocridade e o reaccionarismo promovidos a obras primas.
Aqueles são livros “fora do mercado” como tantos outros destas editoras, mais os que ficam nas gavetas, desde que ponham em causa o sistema. Como referido no “Dossier BES”, não se tratava de ser acusador das personalidades envolvidas nas fraudes, independentemente das responsabilidades de cada um, “mas sim acusador do sistema capitalista e da sua natureza destrutiva. O capitalismo enquanto alavanca do desenvolvimento atingiu os seus limites históricos e aproxima-se a passos largos dos limites materiais do planeta, da economia, e da própria humanidade” (p. 126).
São livros fundamentais, obras que não deixam pedra sobre pedra do omnipresente edifício de mentiras e alienação que suporta a sociedade capitalista atual.
Como disse B. Brecht: “as novas antenas difundem as velhas mentiras, a verdade essa transmite-se de boca a orelha”.

Assim terá de ser, neste “admirável mundo” do capitalismo senil, na sua fase neoliberal. Eis a razão desta mensagem.

Sem comentários: