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28 de fevereiro de 2016

Domingos Abrantes ao DN

No passado dia 20 de fevereiro o DN publicou uma notável entrevista dada por Domingos Abrantes, a propósito da sua nomeação como Conselheiro de Estado. Vale a pena ler na íntegra. Este destacado militante apesar dos seus 80 anos mostra uma lucidez e coerência a todos os títulos digna de registo. As respostas as perguntas algo provocatórias acerca de Adriano Moreira e Álvaro Barreto são de antologia. Ei-las: 

Como se sente em relação ao facto de, como conselheiro de Estado, se sentar à mesma mesa que Adriano Moreira, ministro de Salazar que presidiu a um regime contra o qual combateu grande parte da sua vida? 

Já me cruzei com o professor Adriano Moreira noutro contexto. Fomos deputados na assembleia durante 10 anos. Cada um está no Conselho de Estado por direito próprio. É um facto que Adriano Moreira foi ministro de um governo fascista, responsável por decisões graves, como foi a reabertura do sinistro campo de concentração do Tarrafal (Cabo Verde), onde foram assassinados 32 presos, ou, como ministro do Ultramar, responsável pela repressão dos povos coloniais. Também nunca morreu de amores pelos comunistas, a quem sempre atacou de forma violenta. Quanto a estarmos juntos no Conselho de Estado,
não posso deixar de fazer uma reflexão. No tempo do fascismo, durante o qual ele foi ministro, eu estava na cadeia. Hoje, no Portugal de abril, para o qual ele não contribuiu obviamente, ele pode ser conselheiro de Estado, deputado... Resta saber se Adriano Moreira tira alguma conclusão da diferença
 
Um colunista do DN, António Barreto, escreveu há semanas uma crónica muito crítica para os comunistas portugueses, dizendo que eram um sintoma do atraso do país, deixando implícito que para os combater tinha que ser pela força. Sente que é a opinião de muita gente?
 
A natureza por vezes é demasiado cruel para algumas pessoas quando chegam a certa idade. António Barreto é uma personagem pouco séria intelectualmente. Barreto já foi tudo na vida. Esquerdista, comunista, socialista, social-democrata. Ultrarrevolucionário quando estava longe da polícia política, na Suíça e contrarrevolucionário no Portugal de Abril. Ele faz parte de uma fauna que quando não sabe explica. Desliza a grande velocidade para posições fascizantes. Basta ver as suas posições sobre a revisão da Constituição e o que defende para a arquitetura do Estado. Nessa crónica expressa um argumento típico do fascismo, a defesa da violência contra os comunistas. Sofre da síndrome dos pigmeus. Acredita que bolsando lama sobre os grandes se torna gigante. É uma doença incurável. Precisávamos que o Eça ressuscitasse por algum tempo para se ocupar de certas abencerragens.

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