Como se sente em relação ao facto de, como conselheiro de
Estado, se sentar à mesma mesa que Adriano Moreira, ministro de Salazar que
presidiu a um regime contra o qual combateu grande parte da sua vida?
Já me cruzei com o professor Adriano
Moreira noutro contexto. Fomos deputados na assembleia durante 10 anos. Cada um
está no Conselho de Estado por direito próprio. É um facto que Adriano Moreira
foi ministro de um governo fascista, responsável por decisões graves, como foi
a reabertura do sinistro campo de concentração do Tarrafal (Cabo Verde), onde
foram assassinados 32 presos, ou, como ministro do Ultramar, responsável pela
repressão dos povos coloniais. Também nunca morreu de amores pelos comunistas,
a quem sempre atacou de forma violenta. Quanto a estarmos juntos no Conselho de
Estado,
não posso deixar de fazer uma
reflexão. No tempo do fascismo, durante o qual ele foi ministro, eu estava na cadeia.
Hoje, no Portugal de abril, para o qual ele não contribuiu obviamente, ele pode
ser conselheiro de Estado, deputado... Resta saber se Adriano Moreira tira
alguma conclusão da diferença
Um colunista do DN, António Barreto, escreveu há semanas uma
crónica muito crítica para os comunistas portugueses, dizendo que eram um
sintoma do atraso do país, deixando implícito que para os combater tinha que
ser pela força. Sente que é a opinião de muita gente?
A natureza por vezes é demasiado
cruel para algumas pessoas quando chegam a certa idade. António Barreto é uma
personagem pouco séria intelectualmente. Barreto já foi tudo na vida.
Esquerdista, comunista, socialista, social-democrata. Ultrarrevolucionário
quando estava longe da polícia política, na Suíça e contrarrevolucionário no
Portugal de Abril. Ele faz parte de uma fauna que quando não sabe explica.
Desliza a grande velocidade para posições fascizantes. Basta ver as suas
posições sobre a revisão da Constituição e o que defende para a arquitetura do
Estado. Nessa crónica expressa um argumento típico do fascismo, a defesa da
violência contra os comunistas. Sofre da síndrome dos pigmeus. Acredita que bolsando
lama sobre os grandes se torna gigante. É uma doença incurável. Precisávamos
que o Eça ressuscitasse por algum tempo para se ocupar de certas abencerragens.
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