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24 de janeiro de 2019

Marx e a imprensa dos senhores do Dinheiro

BARATA MOURA – REGISTO. Agostinho Lopes
Em 2018 comemoraram-se 200 anos do nascimento de Karl Marx. Esta efeméride foi praticamente esquecida pela comunicação social dominante. E não fossem as iniciativas promovidas por todo o País pelo PCP, nomeadamente com a realização da Conferência Karl Marx – «Legado, intervenção, luta. Transformar o Mundo.» a 24/25 de Fevereiro na Voz do Operário (aliás também votada ao silêncio pela generalidade dos media) e mais algumas (também) escassas actividades académicas, os 200 anos de Marx e a sua obra não teriam tido qualquer visibilidade pública.
A que vem este arrazoado sobre águas já passadas? É apenas para lembrar e registar que nessa espantosa omissão de jornais, rádios e televisões ditos de referência pesou como chumbo a ausência de qualquer esforço, da mínima lembrança para ouvir sobre o tema Marx, Barata Moura. Que não foi só o cantautor de músicas infantis deliciosas no dealbar dos dias de Abril.
José Barata Moura, Professor Catedrático de Filosofia da Universidade de Lisboa, de que foi Reitor entre 1998 e 2006, tem um trabalho ímpar sobre Marx. Quer de reflexão quer de tradução. Destaque-se como acontecimento científico, cultural, histórico e político da mais alta relevância a publicação em 2017 do Tomo VIII do Livro Terceiro de «O Capital», com a tradução de Barata Moura, finalizando a edição sob a sua direcção e de Francisco Melo, dos 3 Livros e 8 Tomos para a Editorial Avante, da monumental obra de Karl Marx (1). Pela primeira vez em Portugal era publicado todo um texto teórico fundamental para compreender o sistema capitalista. Um texto decisivo para a procura dos caminhos para a sua superação.
Não é possível hoje compreender em todas as suas dimensões o capitalismo, as suas dinâmicas e os seus desenvolvimentos históricos sem a ferramenta teórica de «O Capital» de Marx. E não é preciso ser adepto do socialismo e do comunismo para o perceber. Não é certamente por acaso que, no centro do mundo capitalista, nos EUA, ele continua a ser texto de estudo em prestigiadas universidades. Ou que, certamente reflectindo o momento de crise do sistema, «Karl Marx é um dos autores que mais vende na categoria “Free Enterprise” da Amazon». (2)     
No momento em que a situação económica, social, política na Europa e no Mundo exprimem, reflectem as profundas contradições e impasses, da crise sistémica do sistema capitalista, que explicação poderá haver para o silenciamento mediático de Barata Moura? Ser marxista? Ser comunista?
Só uma intensa e preconceituosa cegueira ideológica, só o perfilhar de uma ignorância sectária e tacanha, só o anticomunismo cavernícola, que vai ganhando espaço nos media dominantes, pode explicar o que aconteceu em 2018 com o forçado «esquecimento» e «silêncio» mediáticos de Barata Moura.
Ou será que o «espectro» – «o espectro do comunismo» – referido na abertura do Manifesto Comunista por Marx e Engels, em 1872, continua vivo e a afligir as almas piedosas do capital?      
Notas:
(1) A tradução dos 3 primeiros Tomos do Livro Primeiro teve a participação de outros tradutores.    
(2) Referido por Daniel Zamora, «Lamentar as desigualdades, ignorar as suas causas», M. Diplomatique, Janeiro 2019.
Agostinho Lopes

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