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1 de junho de 2019

A PERITA

Agostinho Lopes
A PERITA
A perita em campanhas eleitorais veio, em verrinoso e venenoso (cuidado com a língua!) arrazoado, no «dia de reflexão», arrasar as campanhas eleitorais de todos os partidos. Título: «Os Partidos deviam esclarecer os eleitores» (1). Saudemos esta descoberta.
Depois, uma notável conclusão: «o arcaísmo da forma de fazer política em Portugal». Mas como é a «forma de fazer política» moderna, ou mesmo, quem sabe, pós-moderna? A professora não explica. É pena, porque andando nisto há décadas (foi das que decretou o «arcaísmo» dos comícios), já podia ter feito pedagogia eleitoral.
Quais os truques da perita? Todos no mesmo saco: todos partidos, todos iguais! Logo, levam todos pela mesma medida: arcaicos e etc.
A extrapolação redutora. Reduzir as campanhas de todos os partidos à campanha do cabeça de lista, mais ou menos acompanhado pelo líder. A perita só conhece o que lê no seu jornal. E o que não existe no Público, não aconteceu. Como por exemplo, as dezenas e dezenas de iniciativas da CDU por todo o país, à margem da presença de Jerónimo Sousa e João Ferreira, mas com a participação de outros candidatos e centenas de activistas da CDU.
A generalização abusiva. Tomar a parte pelo todo. A partir de episódios menos edificantes reduzir tudo e todos à vulgata eleitoral de alguns jornalistas e comentadores, inclusive do Público, sobretudo em torno do arcaico cliché do «não debate da Europa». E daí, a especialista toma os ares do seu colega Vasquinho, e desata num desatino sobre uma campanha pretensamente marcada por insultos, «dislates», «generalidades», «banalidades», «insanidades», etc., que outra coisa parece não terem dito os (todos) candidatos.
Inversão de causa e efeito. A perita está convencida que a forma e o conteúdo do eixo principal das actuais campanhas, a campanha do cabeça de lista/líder são “fabricados” pelos partidos. Amnésia ou falta de estudo? Pois devia saber que há muito é formatada pelos media e interesses que os comandam! Quem inventou a fake news dos candidatos a 1º Ministro e a bipolarização PS/PSD? E a simultânea liquidação das campanhas dos candidatos a deputados? Numa competição eleitoral, os partidos só não ocuparão todo o espaço mediático disponível se não puderem… mas quem fornece e formata o espaço das campanhas nos media são os grandes órgãos de comunicação social.
Farsa e fraude. A especialista sabe que há partidos que produzem folhetos a esclarecer. Que fazem porta-a-porta a falar com os eleitores. Que fazem sessões de esclarecimento. A perita poderia, com vantagem, consultar as agendas do Avante! das eleições realizadas desde o 25 de Abril. Ou dizer-nos por que razão o Público não esteve, agora, na apresentação da Declaração Programática do PCP. Mas não se esqueceu, no dia de reflexão, da sua piadinha anticomunista: «impossível repetir-se a mítica situação vivida por Mário Soares em 1985 (…) na então comunista Marinha Grande»! Ai estes comunistas são tão maus! Como se pode votar neles?
Por que não há esclarecimento do PS, PSD e CDS (e outros) e dos media sobre a União Europeia? Porque esclarecerem significava assumirem que tudo o que andaram a pregar sobre a UE, e em particular sobre o Euro, era mentira. Ou seja, o esclarecimento é uma impossibilidade!
  1. Todas as citações são do artigo de São José Almeida, no Público, 25MAI19.  
      

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