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25 de setembro de 2022

Acerca dos media e a Ucrânia

Há uma desonestidade básica nas notícias, comentários, debates: ignorarem as consequências do que estão a defender; ignorarem tudo o que passou antes de 24 de fevereiro. E este ignorar tem o sentido de pôr de lado, tornar irrelevante ou não existente.

Assim a “criminosa invasão russa à democrática Ucrânia”, ignora o que se passou desde 2014, os dois acordos de Minsk assinados e sabotados pela Alemanha e França, cujo objetivo era simplesmente dar garantias – dentro da Ucrânia – a regiões russófonas.

Um puritanismo de direitos humanos e democracia enche a boca a quem nunca se incomodou, pelo contrário justificou, guerras na Europa (Jugoslávia), Iraque, Líbia, os crimes contra os Palestinianos, no Afeganistão, Iémen, golpes de Estado, ditaduras. Tudo isto apoiado pela Nato. Agora apresentam-se como puras vestais guardiãs da democracia, direitos humanos, direito internacional.

Enquanto se passam sucessivos documentários para demonstrar como a Rússia é dominada por um ser diabólico – o que quer que se pense sobre o político – que no entanto tirou os russos da miséria e do horror social a que a “democracia liberal” os tinha conduzido. Não vemos nem os resultados eleitorais, nem resultados de sondagens sobre a opinião pública. Pelo contrário a Ucrânia dominada por grupos neonazis, em que um criminoso de guerra, como Stefan Bandera é herói nacional, é defendida dizendo que se trata de proteger “a nossa liberdade e democracia”, portanto… façam sacrifícios.

Cada vez que se ouvem os “comentadores” mais se parecem com a propaganda nazi encobrindo derrotas e baixas, com hipotéticas “vitórias” pontuais. Assim, o triunfalismo propagandístico sobre a situação militar desapareceu subitamente dos media, concentrando-se na mobilização de reservistas – que significaria a derrota da Rússia - destinados a defender os novos territórios russos, uma frente de 1000 km, face… à Nato/EUA (menos de 1,5% do potencial de mobilização russo)

Também se ignorou que na Ucrânia ao serviço da Nato há seis meses que há uma mobilização geral, a saída do país está fechada para quase todos os homens e a questão de recrutar mulheres para servir está sendo discutida no Parlamento.

Limitadas manifestações contra a mobilização na Rússia foram repetidamente transmitidas e transformadas em movimento nacional contra o “regime”, como de costume misturando imagens nada tinham que ver como o noticiado.

Porém manifestações em Berlim, Colónia (4 de setembro), Leipzig e Magdeburg (Politico, 5 de setembro) exigiram o comissionamento imediato do Nord Stream 2 e o fim das entregas de armas para a Ucrânia, no porto báltico de Lubmin – onde o Nord Stream 2 chega a terra na Alemanha – pediram a proibição das exportações de armas para a Ucrânia e a renúncia do governo federal (Redaktions Netzwerk Deutschland, 4 de setembro). Manifestações em Praga, em França, Itália, etc. Uma concentração pela paz em Torres Novas foi praticamente ignorada não se ouvindo (que se saiba) palavras de participantes.

Nada disto é visto ou considerado contra o “regime” neoliberal, a UE ou a Nato e fica fora de consideração pelos comentadores, que prosseguem de palas nos olhos as suas ladainhas.

Nos EUA desenvolvem-se importantes movimentos pela paz. Exigindo um "Cessar-fogo agora!" Ativistas organizaram eventos anti-guerra em D.C., São Francisco, Filadélfia, Baltimore, Milwaukee, Madison, Boston, Rockville, Santa Cruz, San Mateo, San Pedro, Santa Barbara e Los Angeles.

A Coalizão paz na Ucrânia, a CODEPINK, Veteranos pela Paz, Socialistas Democráticos da América, Ação pela Paz de Massachusetts, Liga Internacional das Mulheres para a Paz e liberdade-EUA e outras organizações, mobilizam-se para negociações, não para a escalada numa guerra por procuração ameaçando uma guerra direta entre as duas mais importantes nações nucleares.

Os membros dos Veteranos pela Paz na Área da Baía escreveram aos deputados democratas Mark Desaulinier (CA-11) e Barbara Lee (CA-13), o único voto contra a invasão dos EUA no Afeganistão e patrocinador da legislação para cortar o orçamento do Pentágono em 350 mil milhões de dólares. "Pedimos que peçam negociações e se manifestem contra o apelo do Secretário de Defesa Austin para continuar a guerra para 'enfraquecer a Rússia'. Essa é uma receita para uma guerra mundial, se alguma vez houve uma", dizem nas cartas.”( Um empurrão para a paz na Ucrânia - Notícias do Consórcio (consortiumnews.com)

E assim vai a “liberdade de informação” no “ocidente”: “Embora lamentando a prostituição arrogante dos media também é importante prestar homenagem aos corajosos jornalistas independentes, escritores, analistas, denunciantes e documentaristas que estão tentando manter e preservar alguma aparência de integridade, decência e sanidade no Ocidente. Eis apenas alguns: Julian Assange, John Pilger, Chris Hedges, Oliver Stone, Pepe Escobar, George Galloway, Robert Scheer, Daniel Ellsberg, Eva Bartlett, Vanessa Beeley, Brian Becker, John Kiriakou, Scott Ritter, Mnar Adley, Lee Camp, Ben Norton, Max Blumenthal, Aaron Mate, Alexander Rubenstein, Patrice Greanville, Rania Khalek, Peter Dale Scott, Aaron Good, Eric Zuesse, Gerald Horne, Garland Nixon, Whitney Webb, Abby Martin, Mike Prysner, o venerável Noam Chomsky, Vijay Prashad, Caitlin Johnstone, Danny Haiphong e, claro, o Saker.

O que eles têm em comum além de falar a Verdade e defender a Paz?

Eles foram difamados como "agentes russos/chineses" e/ou fontes de "desinformação" e/ou sofreram ataques cibernéticos e/ou foram censurados das principais plataformas pelas potências corporativas e estatais. Julian Assange está na prisão, sendo lentamente assassinado.” (https://thesaker.is/propaganda-wars-who-is-actually-spreading-disinformation/ )


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