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3 de fevereiro de 2012

A QUESTÃO DA FORMAÇÃO. UM ALIBI DO SISTEMA
A UE propõe agora mais verbas para a qualificação dos jovens trabalhadores. A qualificação é sem dúvida um dos mais recorrentes álibis para iludir as responsabilidades do sistema capitalista na sua crise endémica. Criam-se ilusões pessoais, convencem–se -se as pessoas que o esforço individual basta paraa solução dos seus problemas.
É sem dúvida o canto de sereia mais glosado pelo neoliberalismo. Porém, repare-se que não é por por muita coragem e competência dos seus soldados que um exército não deixa de ser derrotado. É preciso que tenha boa estratégia, condições materiais adequadas e, pelo menos a prazo, que seja numa guerra justa.
Vale a pena refletir sobre esta questão, pois é uma evidência que a qualificação dos trabalhadores é fundamental em termos pessoais e colectivos. Porém isto nada altera as contradições do sistema em que se insere: é como querer colocar um pé perfeito num sapato disforme.
Recordemos do anterior governo as “medidas” para qualificação, as “novas oportunidades” que o atual está a fechar, a demagogia da formação, enquanto o desemprego entre os jovens ia atingindo os 30%, os salários e condições laborais se deterioravam.
O absurdo destas declarações e das boas intenções sobre formação é a crença que o desenvolvimento resulta de automatismos sociais independentes do sistema económico e político em que se inserem. Uma espécie de alavancas do desenvolvimento que movimenta tudo o resto. Não passa de um simplismo mecanicista, a negação da análise dialética que nos levaria a compreender as relações que se estabelecem no âmbito do político e social. Vemos que esta orientação com grande dose de demagogia tem servido para subsidiar “incentivos” aos empresários, permitir fraudes, promover o crescimento dos lucros e o embaratecimento do preço da força de trabalho (o salário), esperando que depois “pingue para baixo” (o "trikle down" do neoliberalismo). Todas estas teses têm sido negadas pela realidade.
Os licenciados têm hoje salários abaixo do nível de subsistência, não filsiológica, mas técnica em termos de reprodução da força de trabalho, o que se verifica pela dependência dos pais e redução da natalidade.
A propagandeada ilusão de “vencer na vida”, o “futuro aberto”, na famosa “sociedade aberta” está afinal fechado para os que não vierem de famílias bem instaladas no sistema ou para os que se juntam à sua clientela. Mas para isso, é preciso vender a sua alma de trabalhador alienando-se dos interesses colectivos.
Como teria dito que Brecht, “os inteligentes não se juntarão à luta dos povos, mas os mais inteligentes sim”. Permitindo-me alterar as sua palavras diria: os espertos não se juntarão à luta colectiva, mas os mais inteligentes sim, pois esses terão a visão do futuro.

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