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23 de maio de 2016

A luta de classes no Brasil e não só

A social-democracia caracteriza-se por recusar a luta de classes. Recusa participar e assumi-la como um dos elementos determinantes para o progresso social e o fim da exploração. A social-democracia tem uma visão idílica da democracia, do capitalismo e da colaboração de classes – quando simplesmente não nega a sua existência, aceitando para a força de trabalho proletária o eufemismo de “colaboradores”.
Pelo contrário, a oligarquia tem uma profunda consciência de classe e assume a sua luta como decisiva para a partilha do poder e das riquezas disponíveis. Sabe que o seu posicionamento dominante na sociedade só está garantido se o poder lhe pertencer. De uma forma geral, podemos dizer que o proletariado agrícola e industrial adquire consciência de classe naturalmente pelo seu posicionamento no sistema produtivo .
As classes médias, franjas de camadas pobres  -  lumpen proletariado - são facilmente desapossadas da sua consciência de classe pela alienação promovida pelos media e outros meios a favor da oligarquia,
A social-democracia brasileira, como a Argentina, apesar das suas políticas distributivas deixaram intocados os interesses e privilégios da oligarquia, apostando na colaboração de classes e de ser o garante contra avanços de movimentos progressistas antimonopolistas e antilatifundiários. Pelo contrário, houve cedências graves em privatizações e as desigualdades aumentaram, apesar da redução da pobreza. Assim, considerando a percentagem do RN disponível para os 10% mais ricos a situação foi a seguinte: 
 
2000
2007
2014
BRASIL
69,4
68,8
73,3
ARGENTINA
63,1
59,9
71,8
Credit Suisse, Global Wealth Report 2014, pág. 33 http://resistir.info/livros/credit_suisse_global_wealth_report_2014.pdf

A oligarquia só transitoriamente admite ceder em alguns privilégios quando a relação de forças lhe é desfavorável, desde que se mantenha a “democracia e economia de mercado”. Mas mesmo que os rendimentos da oligarquia cresçam, se o proletariado melhorar os seus direitos, a oligarquia considera que os seus interesses estão ameaçados. Perante a perspetiva de redução da sua taxa de lucro não hesita perante nenhum crime (Marx), lançando os países se necessário no caos económico e social, recorrendo ao terror fascista e à agressão imperialista se necessário.
A oposição entre direita e esquerda não é como a social-democracia pretende mero “jogo democrático” com seus “consensos”: radica na luta de classes. O caso brasileiro e tantos outros aí estão para o provar: são episódios da luta de classes em que forças que se proclamavam defensoras dos interesses dos trabalhadores claudicaram.
Disse Dilma “a luta pela democracia não tem data para terminar”, é pena que a social-democracia só se lembre disto sempre tarde demais, nunca revendo o seu conceito de democracia.
O caso venezuelano e de outros países)é claramente exposto por John Perkins, em Confessions of an Economic Hit Man (Confissões de um pistoleiro económico), disponível em http://resistir.info/livros/john_perkins_confessions_of_an_economic_hit_man.pdf

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