Linha de separação


3 de janeiro de 2017

Marcelo e a “economia digital”

Na sua Mensagem de Ano Novo” o PR enunciou um conjunto de boas intenções que deseja que o governo realize no futuro. Não fugindo ao papel habitual dos “comentadores” nem sequer aflorou o “como” ou algumas das condições e condicionantes do que disse.
Nestas intenções incluiu a “economia digital”. É duvidoso que saiba exatamente o que isso quer dizer, e qual o papel da Portugal nessa “economia”. Não entrando em pormenores técnicos a “economia digital” ou antes a “digitalização da indústria”, refere-se à chamada “4ª revolução industrial”, 4.0 ou  4 i”.
Pretende-se usar as mais avançadas tecnologias da informação, comunicação e localização (TICL), robótica, nanoeletrónica, tecnologias de fabrico avançadas, etc. Assim a concepção, a produção, controlo de qualidade, armazenamento, expedição, gestão podem ser realizadas através da ligação de redes informáticas, em diferentes partes ou países por subcontratantes ou tarefeiros “altamente qualificados”. Uma fábrica pode estar no Bengladesh e ser gerida, comandada, controlada de Berlim.
Os próceres do grande capital exultam com estes delírios tecnológicos. Na UE fala-se em 110 mil milhões de euros de “redução de custos”!? Tudo isto é apresentado como grande vantagem para o “consumidor” permitindo oportunidades de inovação, pequenas séries, maior importância com detalhes ao gosto dos clientes, por exemplo em carros topo de gama e equipamento de luxo...Mas as oportunidades não deixam de vir com ameaças: a revolução tecnológica terá um impacto negativo para os que se atrasarem”.
É um processo “com um mínimo de intervenção humana”, em que a “fábrica” está dispersa e não existe mais uma concentração de trabalhadores. Enfim, pretendem atingir o ideal capitalista da fábrica sem operários e o fim do sindicalismo.
Perante isto o patronato e seus ideólogos na CIP dizem que a relação com o trabalho tem de ser muito diferente do passado.  “Os sistemas sociais estão desadequados”. A revolução tecnológica vê a flexibilidade laboral como uma virtude, em que um trabalhador pode ter hoje horário completo, depois parcial, hoje empregado amanhã desempregado. Os que não se adaptarem enfrentarão “o desemprego e a desigualdade salarial”.
Contudo, burocratas e capitalistas sentem que a maior dificuldade aos seus planos é o sindicalismo de classe. Nesta dita “economia digital” não existem pessoas dotadas de vontade e aspirações: são uma espécie de “plasticina” moldada ao sabor de uns seres superiormente iluminados. Outra forma de fascismo que também se apresenta como “modernidade”. Porém está há muito demonstrado que nenhuma “revolução tecnológica” salva o capitalismo das suas contradições e crises. Não esquecendo, como disse Marx, que na fábrica sem operários ”o capital deixaria de ser capital”.
Na sua busca de maiores lucros apenas ao grande capital transnacional são acessíveis os investimentos, os custos de arranque destes processos ainda na fase experimental, exigindo enormes quantidades de produção para se tornarem rentáveis (claro que é de rendas monopolistas que falamos). Tudo isto só é possível ao grande capital transnacional que irá colonizar países dependentes nas condições previstas pelos chamados “tratados de comércio livre”. O que tem isto a ver com as necessidades e interesses do nosso país? Nada. Será como na integração na UE o aumento da dependência e mais destruição do nosso tecido produtivo.

Sem comentários: