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1 de dezembro de 2018

O Negocio da saude à custa do Orçamento do Estado e do SNS

Lucrar com a saude á custa do Estado e das suas marionetes
Manuel Agonia, que teve a presença do ex-primeiro-ministro na inauguração do Senhor do Bonfim, em Dezembro de 2014,
Manuel Lopes Marques de Agonia, hoje com 82 anos, é considerado o "fundador da saúde privada em Portugal".

 Sob a sua presidência e com a marca Clipóvoa, o grupo viria também a abrir um hospital em Setúbal e três centros ambulatórios no Porto, Amarante e Vila Nova de Cerveira.

Em 2006, Manuel Agonia vendeu o seu universo empresarial, que tinha adoptado a nome de Hospor - Hospitais Portugueses, à Espírito Santo Saúde (que foi entretanto comprada pelos chineses da Fosun e rebaptizada como Luz Saúde).

O negócio, que envolveu ainda os 40% detidos pela então capital de risco 3i, foi efectuado por cerca de 148 milhões de euros.

Dois anos depois, Agonia anunciava o seu regresso ao sector da saúde, com a construção do complexo Hospitais Senhor do Bonfim, em Vila do Conde, na freguesia de Touguinhó, num investimento da ordem dos 100 milhões de euros.

Um investimento que corporizou o único projecto da área da saúde que foi declarado PIN - Potencial Interesse Nacional.

Viria a ser inaugurado há precisamente quatro anos, no final de 2014, pelo então primeiro-ministro Passos Coelho.

Praticamente "às moscas", acumula prejuízos e atrasa pagamento de salários
 O Hospital Senhor do Bonfim é, ainda hoje, o maior hospital privado do país, com um total de 549 camas – o dobro, por exemplo, do Hospital da Luz, em Lisboa.  
 Quando entrou em funcionamento, Agonia previa que o seu hospital viesse a empregar 865 pessoas e a facturar 44 milhões de euros em velocidade de cruzeiro.
 Mas cedo o Senhor do Bonfim se constituiu o maior "elefante branco" da saúde privada em Portugal. Esteve desde sempre praticamente "às moscas", acumulando 17 milhões de euros de prejuízos e com uma facturação abaixo dos três milhões de euros. 

 Uma situação que o levou, em desespero, a posicionar o impasse com o Estado no campo político: "Não emprego [ex-]ministros nem [ex-] secretários de Estado. Sou uma ‘persona non grata’ para eles porque trato a verdade por tu", disse, na altura, desfiando uma série de metáforas religiosas para concluir que é a sua "fé em Deus", aos 81 anos, que o faz dar continuidade a este projecto.
 Nada se concretizou. Pior: a situação do Senhor do Bonfim entrou em colapso. No final do primeiro trimestre deste ano, com os salários em atraso, admitia fechar o hospital em Abril. 
Promessas de entrada de investidores e internacionalização para Londres e Pertersburgo 

Na mesma entrevista, o empresário contava que iria encontrar-se, nesse mesmo dia, com um potencial investidor internacional. "Oferecem-me 153 milhões de euros por 50% do capital da empresa, mas querem que eu fique como figura decorativa, sem poder decisório, e despachar alguns dos meus colaboradores. Ora, isso não me agrada", afirmou, deixando em aberto a inviabilização do negócio. O processo de internacionalização para Londres e São Petersburgo, dizia, dependia também desta operação.

Assina venda com a Misericórdia, fecha negócio com a Trofa Saúde

Oito meses depois, a 14 de Novembro passado, Manuel Agonia assinou um contrato-promessa de compra e venda do Senhor do Bonfim com a Santa Casa da Misericórdia de Vila do Conde, tendo recebido, a título de sinal, 1,5 milhões de euros.

No dia seguinte, a nova dona do hospital anunciou o negócio aos directores de serviço. Mas, nesse mesmo dia, Agonia informa a Misericórdia de que tinha fechado negócio, no dia anterior, com o grupo Trofa Saúde.

Surpreendida com a forma como Agonia deu o dito por não dito, em poucos dias, querendo anular o contrato-promessa firmado, a Misericórdia ameaça impugnar a venda em tribunal.

"Não entro em charcos! Não ando com aldrabices!", afirma Manuel Agonia

Esta sexta-feira, 30 de Novembro, numa reunião com a presença dos funcionários e dos responsáveis do Senhor do Bonfim e do Trofa Saúde, Manuel Agonia respondeu à ameaça da Misericórdia: "Não entro em charcos! Não ando com aldrabices!", afirmou, garantindo que a situação dará lugar a uma indemnização à instituição vila-condense.

"Confirmo que houve um contrato-promessa de compra e venda. A Misericórdia deu-me, há 15 dias, 1,5 milhões de euros e tem agora, à sua conta, com aviso de recepção, três milhões de euros. Significa que neste período de 15 dias ganhou 1,5 milhões de euros", contra-argumentou o empresário.

O fundador do HSB adiantou que o anterior acordo com a Misericórdia de Vila do Conde contemplava o pagamento de uma verba, não divulgada, durante um prazo de 27 anos, com um período de carência de cinco anos, considerando que conseguiu melhores condições com o grupo Trofa Saúde.

"A Misericórdia queria-me pagar em 27 anos com cinco de carência e eu não faço lares de caridade, faço trabalho para seres humanos", disse.

A Santa Casa da Misericórdia de Vila do Conde, através de um comunicado assinado pelo provedor, Arlindo Maia, disse "lamentar o comportamento de Manuel Agonia" e, igualmente, "que um grupo português de saúde, não obstante ter conhecimento da existência do contrato celebrado com a instituição, tenha aceitado negociar e concluir o negócio".

A instituição de solidariedade social considerou que "foi um dia triste para todos aqueles que acreditam nos valores e missão defendidos pela Santa Casa da Misericórdia de Vila do Conde".

Trofa Saúde mantém os 200 empregos, Agonia continua a ter "Deus como bandeira e o céu como esmola"

Agonia e a Trofa Saúde não avançaram o valor do negócio, sabendo-se apenas que o fundador do Senhor do Bonfim vendeu 76% do capital da empresa, pelo que continuará na estrutura accionista com 24%, deixando no novo conselho de administração o seu neto, Manuel Agonia, e Helena Pereira.

Na reunião desta sexta-feira dos gestores da Trofa Saúde com os funcionários do Senhor do Bonfim, os novos donos do hospital comprometeram-se a manter os cerca de 200 postos de trabalho da maior unidade de saúde privada do país.

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