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18 de junho de 2019

O euro e a quinta do “amigo”

Meu amigo não, mais um conhecido de vista  mas amigo de alguns outros meus conhecidos. Pois o sujeito tem uma quinta, vinhas, adega, pomares, gado, etc.. Falando da sua quinta convidou aqueles amigos e conhecidos - eu incluído - a fazer uma visita às sua propriedade. Pode dizer-se que foi memorável, boas carnes, bons legumes, tudo regado com ótimos vinhos e digestivos 5 estrelas. Os elogios não foram regateados.
Passado algum tempo, fez a seguinte proposta:
- Escutem, vou pôr a quinta à vossa disposição, nunca vos vai faltar nada. Claro que é necessário garantir que vocês e a vossas famílias não vão estragar nada, nem abusar. Parece justo? Mas é como se a quinta fosse vossa. Percebem?
Todos concordaram. Eu mantive-me calado porque me parecia que não íamos ficar por ali. Os outros davam palmadas nas pernas de satisfação:
- Destes amigos é que nós precisamos - diziam.
- Uma condição. O meu caseiro deixa lá um cabaz para cada um quando forem. Em troca só peço reciprocidade é ter acesso também às vossas casa na cidade ou no campo. Que acham?

Os amigos, satisfeitos, acharam lógico e justo, pois o que tinham pouco valia. No meio de tudo isto só eu recusei o que consideravam uma generosa oferta.
- Também só te dás com gente pobre. Nós precisamos é dos ricos. Só assim convergimos com eles.
Acrescentei que ele podia ser rico por várias razões, mas não por ajudar os que tinham menos, mas por se ajudar a ele próprio primeiro.
E assim ficámos. Passados uns tempos voltei a encontra-los com um ar preocupado.

- Então o que se passou? Estão com cara de poucos amigos.
- Não digas nada, O tipo da quinta, mete-se em tudo nas nossas casas, diz que gastamos demais. E temos de o compensar pelo que consumimos lá da quinta.
- Então o tal cabaz não chegava?
- Só fazendo dieta. Mas como, tínhamos de dar fruta às crianças. E o vinho que nos dispensava só dava para os refogados e temperos. Como se não tivéssemos o direito de convidar família e amigos.

- Uma paisagem tão bonita... Não era? - disse eu.
- Pois era. Mas até a máquina de lavar roupa me levou. Agora tenho de me servir da lavandaria dele.
- Também eu. E só posso utilizar o carro para ir para o emprego. Diz que gasto gasolina a mais em vez de pagar o que lhe devo do que consumi. E não podemos comprar nada para nossas casas sem ele saber primeiro.
- Diz que andámos a viver acima das nossas possibilidades e agora temos de viver em austeridade.
- E não podem alterar as condições do acordo?

- Nós vamos dizendo isso às famílias, mas já não acreditam.

- Não se admirem, outros que passavam por mais espertos que vocês caíram numa esparrela semelhante. Com o euro e os seus tratados: nunca iríamos ter problemas de liquidez e havia a história dos 500 milhões de consumidores para comprarem os nossos produtos. Um destes inconscientes até disse que íamos ser como uma nova Suíça na Europa. Outro que os eucaliptos eram o nosso petróleo verde. 
Conclusão, quando se acredita (ou se vota...) em gente desta nunca se sabe o que o futuro pode trazer de pior.

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