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13 de junho de 2019


Stiglitz enterra o neoliberalismo para salvar o capitalismo.

Num artigo publicado no Guardian (1), Josef Stiglitz (JS), considera que é necessário passar a certidão de óbito ao neoliberalismo, segundo ele (e nós também) um sistema que falhou drasticamente com suas políticas de comércio livre, redução de impostos aos mais ricos, desregulamentação dos mercados de trabalho e financeiros e globalização.
Neste sentido, distingue várias correntes políticas no capitalismo atual, exercício com especial interesse na UE cujo monolitismo político-burocrático alicerçado no neoliberalismo, não passa de um totalitarismo a favor da oligarquia.
JS, refere o nacionalismo de extrema direita, o centro-direita que representa o fracasso neoliberal, o reformismo de centro-esquerda, e a esquerda progressista. Com exceção da esquerda progressista, todas as alternativas continuam a aderir a uma forma de ideologia (o neoliberalismo) que deveria ter desaparecido.
O centro-esquerda, representa um neoliberalismo com algumas preocupações sociais. Seu objetivo é adaptar as políticas do ex-presidente dos EUA, Bill Clinton, e do ex-primeiro-ministro britânico, Tony Blair, ao século XXI, fazendo apenas pequenas alterações à financeirização e à globalização. A direita nacionalista rejeita a globalização e acusa migrantes e estrangeiros de todos os problemas. Mas, como demonstrou a presidência de Donald Trump, continua zelosamente a reduzir os impostos aos ricos, desregulamentar e reduzir ou eliminar os programas sociais.
O lento crescimento económico, a crescente desigualdade, a instabilidade financeira e a degradação ambiental são problemas originados pelo mercado e não podem ser resolvidos pelo mercado. Os governos têm o dever de limitar e organizar o mercado e resolver o problema da crescente concentração do poder de mercado.
Assim a esquerda progressista defende o que JS chama de “capitalismo progressista”, propondo um programa económico baseado em:restaurar o equilíbrio entre os mercados, o Estado e a sociedade civil.
O aumento do poder de mercado das (grandes) empresas, combinado com o declínio do poder de negociação dos trabalhadores, explica em grande parte o aumento da desigualdade e o declínio do crescimento. A menos que o governo desempenhe um papel mais ativo estes problemas provavelmente irão piorar devido aos avanços da robótica e da inteligência artificial.
JS considera que o  "capitalismo progressista" é a alternativa mais viável para uma ideologia que claramente falhou. O “capitalismo progressista” teria de concretizar o rompimento entre o poder económico e o político. Nos EUA, indivíduos e corporações ricas podem financiar eleições sem limites, tornando o país cada vez menos democrático: o sistema é o de "um dólar, um voto". Portanto, na opinião de JS, os capitalistas progressistas devem começar por reduzir a influência do dinheiro na política e as desigualdades.
Diz JS que os danos causados ​​por décadas de neoliberalismo não podem ser resolvidos com uma varinha mágica, porém poder-se-á com um programa de segurança económica, emprego, salário digno, assistência médica e habitação adequada, pensões de reforma garantidas e educação de qualidade para os jovens.
Convém então perguntar a JS como na fábula: “quem vai pôr a coleira com guizos ao gato” (a oligarquia). JS esquece duas coisas. Primeiro, se a lei económica fundamental da maximização do lucro não for alterada então volta tudo ao mesmo, como aconteceu com o keynesianismo. Segundo, as alterações que propõe para serem consistentes só podem ser levadas a cabo por um partido revolucionário, cujo objetivo seja realmente alterar a infraestrutura económica e social com uma política antimonopolista  e promovendo a transição para o socialismo.


 

 

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