A liberdade de escolha é a versão
neoliberal do “livre arbítrio” da
teologia escolástica.
O “livre arbítrio” com aspetos
teológicos é algo que não discutimos. Porém, pelo menos desde Espinosa que nos
aspetos sociais e políticos tal foi posto no caixote do lixo do pensamento. É
lá que o neoliberalismo vai buscar as suas ideias ultrarreacionárias.
A
oligarquia necessita de elites estruturadas no dinheiro para gerir
trabalhadores especializados quanto baste, precários (como defende a UGT, por
ser melhor que nada…) sem perspectivas de cultura integral. Era o que o fascismo
salazarista defendia, pela voz do seu chefe, com as diferenças de requisitos
técnicos de há 80 anos: "Considero até mais urgente a constituição de
vastas elites do que ensinar toda a gente a ler. É que os grandes problemas
nacionais têm de ser resolvidos, não pelo povo, mas pelas elites enquadrando as
massas".
Trata-se, pois, de mais uma machadada na
escola pública, logo da democracia como entendida desde o século XIX.
Por um lado pretende-se fornecer aos
privados professores baratos, sem direitos, coagidos a não se sindicalizarem,
(para que mais serve o exército de reserva de professores desempregados). A
liberdade de escolha é apenas a do dono da escola privada. Escolherá
professores, alunos e também por último mas não menos importante, os critérios
de pedagógicos, isto é, a ideologia da classe dominante, subjacente em matérias
como a História, Filosofia, Economia, Português (na literatura), entre outras,
não esquecendo que tão ou mais importante é o que se comunica nas aulas e se promove
como critério de avaliação para o êxito.
Claro que o grande capital se prepara
para deitar a mão a mais este filão de rendas. Tudo isto,
pago com dinheiros públicos, previsto para dar lucro, pois só o lucro é
respeitável nesta sociedade, nada importando como é obtido.
Liberdade de escolha e os nossos
impostos vão subsidiar a escola privada. Porém o governo quer cortar nas
despesas e amanhã irá impor “taxas moderadoras” ou outros mecanismos para
reduzir a comparticipação e os privados na “sã concorrência” subirão as
propinas. Nessa altura a escola pública já terá sido reduzida ao mínimo, em
quantidade e qualidade, desqualificada e desorçamentada e as famílias acabarão
por preferir que os jovens vão para o privado, sacrificando-se para isso.
Nos EUA parte importante da dívida das
famílias são empréstimos para pagar estudos dos filhos dado que a escola pública atingiu níveis de desqualificação que não permitem a ascensão social.
Recordemos o que se passa na saúde,
custos e degradação do SNS empurraram cada vez mais pessoas para os seguros de
saúde.
Na educação, na saúde, nos
transportes, dos CTT à ANA, das telecomunicações à energia, tudo tem de se
transformar negócio para obter rendas à custa do Estado e dos cidadãos.
A degradação do nível de ensino nos
países que seguiram esta via é evidente nos resultados obtidos em comparações
internacionais.
Que importa isso à direita. Salazar dá
o mote a esta ideologia da “liberdade de escolha”
1 comentário:
E quando muitas famílias quiserem exercer esta "liberdade" e as escolas privadas criarem livremente mais pré-requisitos para nelas entrar, vamos acabar por ver o que, afinal, tem ocorrido com estas políticas de há dezenas de anos: entram sobretudo os filhos de "boas famílias" e os que têm "bons conhecimentos", que normalmente são quem tem possibilidade de pagar. Os outros ficarão nas escolas públicas, já completamente degradadas pelas políticas destruidoras, e ainda andaremos todos a subsidiar os ricos que conseguiram pôr os seus filhos nas escolas privadas. Fantástico, não é?!
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