Nota sobre a evolução da balança de bens em 2014
1.
Em
Outubro de 2013, aquando da apresentação do Orçamento do Estado para 2014, o
Governo apresentava uma previsão para o crescimento das exportações em 2014 de
5,0%, ao mesmo tempo que previa um crescimento das importações de 2,5%. Com
o Documento de Estratégia Orçamental para 2014/2018 apresentado em Maio de 2014
reviu essa previsão passando a prever um crescimento das exportações em 5,7% e
as importações em 4,1%. Finalmente com a apresentação do Orçamento do Estado
para 2015, a pouco mais de dois meses do final do ano reviu novamente essa
previsão estimando agora que as exportações iriam crescer em 2014 3,7% enquanto
para as importações estimava um crescimento de 4,7%.
2. Os dados provisórios hoje divulgados pelo
INE sobre as exportações e importações de bens em 2014 apontam para que estas
exportações tenham crescido 1,9% ao mesmo tempo que as importações tenham
crescido 3,2%. É claro que falta
ainda conhecer o comportamento das exportações e importações de serviços, valor
que será divulgado pelo Banco de Portugal lá mais para o final deste mês, mas
dado o peso das exportações e importações de bens (cerca de 75% do total),
podemos já afirmar que não só o Governo errou rotundamente na sua previsão de
evolução das nossas exportações e importações em 2014, como pela 1ª vez desde a
assinatura do pacto de agressão em 2011, as importações de bens cresceram a um
ritmo superior ao das exportações.
3. Confirma-se
assim aquilo que sempre temos afirmado, dada a destruição do nosso aparelho
produtivo, qualquer melhoria que se possa dar no nível de consumo ou
investimento, conduzirá automaticamente a uma aceleração das nossas importações
e consequentemente ao agravamento do nosso défice comercial. Por esta mesma razão a balança de bens e de
acordo com os dados hoje divulgados pelo INE agravou-se em quase mil milhões de
euros em 2014 (925,7 milhões de euros), atingindo um défice 10 565,3 milhões de
euros.
4.
Vejamos agora de forma desagregada como
evoluíram as importações e as exportações de bens em 2014:
4.1. As
importações que cresceram em valor 3,2% em 2014, atingindo globalmente os 58
746 milhões de euros, tiveram como principais contributos positivos para essa
evolução a importação de automóveis para transportes de passageiros que
cresceram 41,5%, a importação de bens de consumo que cresceram 7,3%, a
importação de máquinas e outros bens de capital e acessórios que cresceram 6,4%
e os fornecimentos industriais de produtos transformados que cresceram 4,4%.
4.2. As
exportações de bens que cresceram em valor 1,9% em 2014, atingindo globalmente
os 48 180,6 milhões de euros, viram a sua taxa de crescimento afectada
negativamente pela queda em 19% das exportações de combustíveis e lubrificantes
comparativamente com 2013, dado o seu peso nas exportações de cerca de 10%.
Para além disso a exportação de bens para a indústria que representa um terço
das exportações cresceu apenas 1,6% em 2014.
5.
Por fim analisemos as importações e exportações
por países e regiões de origem e destino.
5.1. Os
dados agora divulgados mostram que aumentou a nossa dependência dos países da
EU 28 e da zona euro ao nível das importações. As importações da EU 28
representavam no final de 2014 74,7% do total e cresceram neste ano 7,2%,
enquanto as importações dos 18 países da zona euro cresceram 6,0%. Em
contrapartida as importações da fora da EU 28 caíram 6,7%. Entre os cinco
principais mercados de que somos dependentes, por ordem decrescente (Espanha,
Alemanha, França, Itália e Holanda) a maior subida registou-se nas importações
da Alemanha que em 2014 cresceram 12,4%, seguida da França com um crescimento
de 8,9%, da Itália com 5,6%, da Holanda com 5,1% e da Espanha com 4,0%.
5.2. Também
ao nível das exportações se registou uma concentração dos nossos mercados
exportadores. As exportações para os 28 países da EU cresceram 3,0% e
representam agora 70% do total, enquanto as exportações para fora da EU caíram
0,1%. A zona euro com um crescimento das exportações de apenas 1,5% viu o seu peso baixar ligeiramente
entre os países da EU.
CAE, 09 de
Fevereiro de 2015
José Alberto
Lourenço
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