Nota sobre Inquérito ao Emprego do 4º trimestre de 2014
Os dados hoje divulgados pelo INE referentes
ao 4º trimestre de 2014, conjugados com os dados mensais do emprego e do
desemprego corrigidos de sazonalidade que o INE finalmente começou a divulgar
desmentem a leitura optimista que Governo e partidos da maioria têm vindo a
fazer, sobre a evolução do emprego e do desemprego nos últimos trimestres.
No 4º trimestre de 2014 o emprego caíu e o desemprego subiu em relação ao
3º trimestre do ano
e se é verdade que em termos homólogos (4º trimestre de 2014 comparativamente
com o 4º trimestre de 2013) o desemprego caíu e o emprego subiu, continua a não
se verificar consonância entre a redução do desemprego e a evolução do emprego.
Os inquéritos trimestrais ao emprego realizados pelo INE, mostram o
desemprego a baixar, o emprego a crescer a um ritmo muito inferior e a
emigração a ser a principal válvula de escape do mercado de trabalho. A verdade nua e crua é que o
emprego não só não cresce por forma a conseguir absorver a redução do
desemprego, como o pouco crescimento do emprego e a redução do desemprego resultam
na sua quase totalidade da colocação de trabalhadores desempregados em estágios
e cursos de formação pagos pelo Estado, através das chamadas políticas activas
de emprego, onde o Governo enterra centenas e centenas de milhões de euros. A
economia e em particular os seus sectores produtivos continuam a não criar ou a
criar muito poucos empregos.
Algumas notas sobre os resultados
hoje divulgados pelo INE:
1. Não há correspondência entre a
redução do número de desempregados e o número de empregos criados entre os quartos
trimestres de 2013 e 2014. Enquanto o desemprego se reduziu em 109 700, a
criação líquida de emprego foi de apenas 22 700, ou seja, 87 000 trabalhadores
portugueses deixaram de ser considerados desempregados, mas nem por isso
encontraram emprego. Como neste período, também de acordo com o INE, a
população residente com idade entre os 15 e os 44 anos baixou em 68 000, a
população inactiva aumentou em 26 400, não é difícil perceber que a esmagadora
maioria destes trabalhadores terá emigrado ou desistiu de procurar emprego.
2. Por outro lado a taxa de desemprego
calculada pelo INE não é imune aos chamados ocupados do IEFP (trabalhadores
desempregados em estágios e cursos de formação), a que este Governo tem
recorrido como nenhum antes. Só no 4º trimestre deste 2014 eram 166 226 os
trabalhadores nesta situação, mais 28 472 trabalhadores do que em igual período
de 2013. Se não se subtraíssem das estatísticas do desemprego estes trabalhadores
isso bastaria para que a taxa de desemprego fosse já de 16,7%.
3. O que estes dados não deixam de
demonstrar é que a taxa de desemprego jovem é de 34,0%, que o desemprego de
longa duração atinge já os 64,5% do total do desemprego (a mais elevada taxa de desemprego de longa duração de sempre), que
o trabalho precário representa 28,3% do trabalho por conta de outrem, que há 257
700 inactivos disponíveis para trabalhar mas que não estão no mercado de
trabalho, que há 251 700 trabalhadores que não conseguem um trabalho a tempo
completo e são obrigados a trabalhar a tempo parcial, que há 580 400 trabalhadores
isolados a trabalhar a recibo verde e que a esmagadora maioria do pouco emprego
criado é precário e de salários muito baixos. Por todas estas razões a taxa de
desemprego real é ainda muito superior aos 13,5% agora apresentados e atinge de
acordo com estes dados os 22,2%. Ou seja, cerca de 1 207 700 trabalhadores estavam
efectivamente desempregados no 4º trimestre de 2014, o que constitui um
autêntico flagelo nacional, que a manipulação e propaganda deste Governo não
conseguem apagar.
4. Um desenvolvimento económico
sustentado capaz de dinamizar um mercado interno e de criar emprego qualificado
e com direitos é, do nosso ponto de vista, incompatível com a nefasta acção
deste Governo e com uma política subordinada aos critérios da troika e da actual
união europeia.
CAE, 4 de Fevereiro de 2015
José Alberto Lourenço
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