Sabemos o caso das eventuais sanções que a CE pode aplicar a Portugal por um subserviente governo de direita…ter cumprido como “bom aluno” todas as regras que impuseram. Sabemos que a CE está a decidir se autoriza a capitalização da Caixa Geral de Depósitos, um banco do Estado português!
A CE age como o papado medieval que dispunha de poder para aplicar a “interdição” e a excomunhão sobre os povos caso não seguissem a sua dogmática ou não se submetessem às suas bulas.
Ao aplicar a interdição o poder régio ficava
seriamente limitado nas suas funções, considerava-se que o país tinha profanado
leis divinas, proibindo-se a administração de ofícios religiosos (por ex.
casamentos, batizados, enterros religiosos, etc.). A excomunhão, ainda mais
grave, separava o país do resto da cristandade.
Atualmente a burocracia da UE dispõe de poder
idêntico. Que acontece a um país que desafie a teologia neoliberal da UE? A
chantagem de separar o país da “Europa” é assumida como equivalente à excomunhão; o corte de
financiamento em euros, ou dos "fundos estruturais", é equivalente ao “interdito” papal.
O que se passou e passa com a Grécia, as pressões sobre
o OE português, com exigências atrás de exigências, mostra como os mandatários
querem os povos humilhados a seus pés. A humilhação do Syriza perante a UE
corporizou uma atual “ida a Canossa”. (1)
Os dogmas são outros, no tempo medieval eram a
formulação de leis pretensamente divinas, a interpretação dos textos sagrados.
Hoje as da teologia neoliberal, a interpretação unilateral e dogmática dos tratados
da UE. O essencial mantem-se: o poder supranacional contra o poder nacional;
uma burocracia ao serviço da oligarquia monopolista e financeira contra a
expressão popular da democracia.
Na escolástica medieval não havia
investigadores, apenas “comentadores” dos textos dos mestres, assimilados como
dogmas. E ai daqueles que os contestassem…Os “comentadores” de serviço ao sistema, são a
clerezia do neoliberalismo e suas instituições, FMI, BCE, CE, a troika dos
interesses oligárquicos.
1 - Em 1077, Henrique IV do Sacro Império Romano Germânico, foi ao castelo de Canossa postar-se descalço (três dias e três noites) em pleno inverno para que o papa levantasse a excomunhão. Em causa estava o poder real frente ao poder papal sobre a condução dos povos.
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