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Capítulo 1
O NASCIMENTO DA BOMBA
1.1.O bombardeamento atómico de Hiroshima e Nagasaki
«Há dezasseis horas, um avião americano deixou cair uma bomba sobre Hiroshima, uma base importante do exército japonês. [ ] É uma bomba atómica. É uma consolidação da energia fundamental do universo. A força da qual o Sol extrai a sua energia»: assim anuncia o Presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, na declaração de 6 de Agosto de 1945. Três dias depois, no discurso radiofónico de 9 de Agosto, explica que «a primeira bomba atómica foi lançada sobre Hiroshima, uma base militar, porque neste primeiro ataque queríamos evitar, o mais possível, o massacre de civis».
Na realidade, Hiroshima não é uma base militar, como também não é Nagasaki, a cidade japonesa sobre a qual os Estados Unidos lançaram a segunda bomba atómica, em 9 de Agosto, o mesmo dia em que o Presidente Truman pronuncia o discurso radiofónico.
A bomba atómica de urânio de 15 kiloton (igual à potência explosiva de 15 mil toneladas de TNT) lançada sobre Hiroshima, sarcasticamente designada de Little Boy (rapazinho), matou imediatamente e nos seis meses seguintes, cerca de 140.000 pessoas – civis, na esmagadora maioria. Mas outras pessoas morreram nos anos seguintes, depois dos efeitos das radiações, embora muitos dos sobreviventes, os hibakusha, tenham sofrido efeitos biológicos a longo prazo. O número total de vítimas da bomba de Hiroshima, nos decénios seguintes, é estimado em mais de meio milhão. A bomba atómica de plutónio de cerca de 22 kiloton, lançada sobre Nagasaki, (humoristicamente denominada Fatman = gorducho), mata imediatamente e nos meses seguintes 75.000 pessoas, na grande maioria civis, aos quais se juntaram muitos outros nos anos seguintes, enquanto muitos dos sobreviventes, sofreram os efeitos biológicos a longo prazo.
A justificação oficial do bombardeamento atómico de Hiroshima e Nagasaki é que só assim os Estados Unidos podem forçar o Japão à rendição, sem ter de pagar um preço elevado em vidas americanas. Na realidade o Japão está no limite extremo e não há necessidade de recorrer à bomba atómica para impôr-lhe a rendição. A verdadeira razão é outra. Enquanto Truman está na Conferência de Potsdam (7 de Julho a 2 de Agosto de 1945), juntamente com Churchill e Stalin, é-lhe comunicado secretamente que, a 16 de Julho, foi detonada em New Mexico, a primeira bomba atómica. O Projecto Manhattan, conduzido no máximo segredo desde Junho de 1942, tinha alcançado a sua meta. Truman tem agora a possibilidade de acabar a guerra com o Japão da maneira mais favorável aos Estados Unidos, impedindo que a União Soviética participe na invasão do Japão, decidida em Potsdam e de expandir, desse modo, a sua influência à região do Pacífico.
Para isso, ordena secretamente que a bomba atómica seja utilizada o mais rápido possível.Em 24 de Julho, dois dias antes da Declaração de Potsdam, na qual se intima o Japão à rendição incondicional, são escolhidas secretamente, como possíveis objectivos, quatro cidades japonesas: Hiroshima (com mais de 250 mil habitantes), Nagasaki (cerca de 200 mil), Kokura e Niigata (cada uma com 150 mil). As condições meteorológicas mais favoráveis, em 6 de Agosto, fazem cair a primeira escolha em Hiroshima. Três dias depois, a escolha cai sobre Nagasaki.
«A decisão de destruir Hiroshima e Nagasaki foi uma decisão política e não, uma decisão militar» ( ou seja, não foi ditada pela necessidade de derrotar militarmente o Japão), escreve a jornalista americana, Diana Johnstone. «A posse demonstrada dessa arma dava a Truman uma sensação de poder sentir-se livre para romper a promessa feita aos russos e de pressionar Moscovo, na Europa, de maneira ameaçadora. As bombas de Hiroshima e Nagasaki não mataram, apenas e sem motivo, centenas de milhares de civis. Elas abriram o caminho à Guerra Fria».
Os Estados Unidos procuram tirar a máxima vantagem do facto de, naquele momento, serem os únicos a possuir a arma atómica. Depois de tê-la definido, «a maior conquista que a ciência organizada já tinha realizado na História»,Truman sublinha na declaração de 6 de Agosto que, «mesmo não sendo habitual este governo esconder os seus conhecimentos à comunidade científica mundial, nas actuais circunstâncias, não se pretende divulgar os processos técnicos de produção.»
Ele sublinha, em seguida, que «a energia atómica pode exercer uma influência eficaz para a manutenção da paz mundial». O sentido é claro: dado que os Estados Unidos não pretendem divulgar os processos técnicos de produção, isto significa que serão eles, uma vez terminada a Segunda Guerra Mundial, a garantir a «paz mundial» servindo-se do monopólio das armas nucleares.
Manlio Dinucci
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