VAI DAR CERTO! Agostinho Lopes
O excelso comentador das economias Luís Marques, interroga-se em título, no Expresso de sábado (16FEV19): «E se o Brasil der certo?» E depois deduz a possibilidade de factos e anúncios do governo Bolsonaro. Conclui magistralmente: «Contra muitas previsões pessimistas, pode dar». Nada como realmente!
Primeira razão para o optimismo: «Números oficiais divulgados no final da passada semana revelam que a criminalidade no Rio de Janeiro baixou pela primeira vez nos últimos anos». E, apesar de não confirmado oficialmente, «o mesmo terá ocorrido em São Paulo». Notável. O homem ainda não deu a cada brasileiro uma arma, embora o seu decreto esteja “decretado”, e já a sacanagem e a bandidagem, cheios de medinho, reduziram a actividade. Foi atar e pôr ao fumeiro, dado que só passaram quatro meses do infausto acontecimento da sua eleição e nem dois meses de governo! Aliás como os EUA demonstra, nada como facilitar o acesso às armas para reduzir a criminalidade. Parece haver «uma sensação de otimismo no cidadão comum» segundo terá confirmado o plumitivo Luís, «nas duas últimas semanas».
Confirmando as boas notícias de Luís Marques no combate à criminalidade, o Público de 6º feira (17FEV19) dava conta de um massacre da polícia em favela no centro do Rio de Janeiro – «que resultou em 13 mortes, tem sérios indícios de fuzilamento, com disparos feitos à queima-roupa e utilização de facas pelos agentes nos corpos das vítimas». O Governador do Rio, o que tinha dito «A polícia vai mirar na cabecinha e…fogo” garantiu que «O que aconteceu foi uma acção legítima da Polícia Militar». Opinião contrária, entre outros, a de Ignacio Cano, Prof. de Sociologia na Universidade Estadual do Rio de Janeiro: «Foi uma operação, com grande valor simbólico» «Tudo indica que os assassínios feitos por polícias vão aumentar, porque há um encorajamento aberto do Governo, tanto ao nível estadual como federal.» Parece que deram por aprovado o projecto de legislação na forja do Ministro juiz Moro – lei anticrime – que quer autorizar «formalmente a execução policial sem julgamento» (Susana Durão, Prof Antropologia da Universidade Estadual de Campinas, Público 18FEV19)!
O segundo «motivo de algum otimismo, (mas) mais moderado», «são as previsões económicas»: «Todos os principais analistas apontam para um crescimento real da economia» e etc. E porquê? na base de «Um vasto conjunto de reformas (que) estão a ser apresentadas pelo Governo, a mais importante das quais é a reforma da Previdência» que, calcule-se, «pretende atacar um dos principais cancros das finanças públicas e uma fonte de privilégios para a oligarquia instalada»! Ora se isto é assim, só com a apresentação das «reformas», vai acontecer algo de extraordinário quando passarem à prática. O milagre da multiplicação dos pães, talvez! Mas oh Luís, não era preciso teres esperado 4 meses, para anunciar o milagre da apresentação. Logo após os resultados da 1ª volta das eleições, mesmo sem ninguém saber quais eram as reformas do Bolsonaro, a Bolsa deu um salto. «Logo na segunda-feira, dia 8 de Outubro, o Ibovespa (Índice da Bolsa de Valores de São Paulo) terminou o dia com uma valorização próxima dos +5%, a qual também se reflectiu de forma expressiva em fundos de investimento que valorizaram perto dos 8% no mesmo dia, como é o caso do MOAT Capital FIA» (Vânia Monteiro, J. Económico, 24OUT18). O que se confirmou inteiramente com a sua eleição em 28 de Outubro!
Outro motivo «a profunda renovação da classe política saída das últimas eleições (que) alimenta algum otimismo na aprovação da agenda reformista». E para o Luís, sinal disso, foi «o Governo, que já tinha o controlo da Câmara, ganhou também a presidência do Senado, derrotando a candidatura de Renan Calheiros, um representante da elite corrupta, ele próprio acusado de vários crimes de corrupção e lavagem de dinheiro» Como é possível tanta “ingenuidade” num experimentado jornalista! Então o Luís não sabe que quem ganhou foi Davi Alcolumbre do DEM (Democratas) do «centro direita», herdeiro do PSL (Partido da Frente Liberal) fundado em 1985, que tem à sua conta o chamado Mensalão do DEM, isto é um mensalão com o seu nome. DEM que lidera um ranking (2000/2007) de cassações (69) de políticos por corrupção eleitoral e que suportou o golpista e corrupto Temer! Renovação, de que é sinal claro a demissão do importante Ministro da Secretaria-Geral da Presidência, e braço direito de Bolsonaro, Bebianno, por suspeita de corrupção, num Governo que não chegou, ainda, aos dois meses, e a presença como superministro da economia e finanças de Paulo Guedes, o privatizador mor, também ele investigado por suspeita de fraude. Boa-vai-ela, a «renovação» da classe política brasileira, sr. Luís Marques. Com o reforço das bancadas do boi, da bala e da bíblia, sem esquecer a bancada da família de Bolsonaro…
E na dita «agenda reformista», que maravilha o Luís Marques, inclui-se «um ambicioso plano de privatizações»: «O Brasil tem cerca de 400 empresas públicas, das quais 138 são controladas diretamente pelo Estado Federal. Destas, o governo pretende privatizar 135, ficando apenas com a Petrobras, o Banco do Brasil e a Caixa, com um encaixe previsto de 20 mil milhões (só?!) de dólares» (Até se enxergam de cá os caninos do capital a salivar.) O alfa e o ômega de qualquer plano «reformista» como já os Chicago Boys tinham ensinado e praticado no Chile de Pinochet e com tanto seguidores em tantas e vastas geografias…como Portugal! Para o Luís, é o suco da barbatana, deram no vinte. Ouçamos o pastor Luís: «É neste vastíssimo sector público que assenta o poder da oligarquia corrupta brasileira. Desmantelar esse poder é uma condição importante, embora não única, para que o Brasil dê certo.» Aliás, como sabemos com um saber de experiência feito, as privatizações foram o sabão tide, a vacina radical, da corrupção económica em Portugal. Nunca mais aconteceu. Que o digam o BES, o BCP, a PT, a EDP, a GALP, e etc, etc, etc…Que o digam as Comissões de Inquérito na Assembleia da República!
Porquê não acreditar, como o Luís, que Bolsonaro pode dar certo. Vai dar certo. Tão certo como a visão da Ministra da Família: «ela viu Jesus Cristo subir em um pé de goiaba». Vai dar certo, como deu na ditadura terrorista dos generais em 1964.
Nada como um ex-MRPP, militante nato e histórico do anticomunismo, para acreditar no milagre Bolsonaro. E um ex-administrador da Impresa não deixará por mãos alheias a crença no capital.
Vai dar certo para o latifundiário. Vai dar certo para o grande capital da mineração e do agronegócio na ocupação das terras indígenas. Vai dar certo para o grande capital na intensificação da exploração dos trabalhadores. Vai dar certo para o capital financeiro e multinacional. Para o capital dos fundos de pensões e o capital USA. Vai certamente, dar certo! Para o povo brasileiro, é que vai dar errado!
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