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17 de outubro de 2019

Privatizacões , pegada ecologica e...

AS «VANTAGENS» DAS PRIVATIZAÇÕES II Agostinho Lopes
A «Infraestruturas de Portugal» (1) importou de Itália 6,4 milhões de euros de carris «para obras de substituição e reabilitação de vias férreas». E vamos importar muitas mais toneladas, na esperada concretização do Programa Ferrovia 2020 que, mesmo assim, não corresponde ao investimento ferroviário necessário em novas linhas. 
Na notícia, o jornalista Carlos Cipriano, conhecedor rigoroso e sério dos problemas do sistema ferroviário nacional, escreve: «Portugal não fabrica carris (…)». Mas devemos completar: não fabrica, mas fabricou e fabricava! Mais uma das «vantagens» das privatizações dos governos do PS, PSD e CDS. O país deixou de fabricar carris.
Em 2017, a MEGASA, a empresa privada que ficou com a empresa pública, veio proclamar em folheto de propaganda que era «Um dos 10 principais exportadores nacionais» produzindo «Novos produtos com maior valor acrescentado». De facto, Portugal deixou de fabricar carril, perfis, barras comerciais, e até fio laminado para alimentação das trefilarias produtoras de arame. Produtos que passamos a importar na totalidade. Com a privatização, Portugal ficou reduzido à solução tecnológica mais básica, a solução dos países do 3º mundo em início de industrialização: fabricação de varão para betão a partir de sucatas ferrosas! Diga-se que a MEGASA se «esqueceu», no folheto, de falar da importação dessa sucata e da energia eléctrica a preço de favor, graças ao subsídio dos consumidores portugueses.
Os sempre preocupados, e justamente, com o saldo negativo da balança comercial, devem fazer contas ao custo daquela privatização. E em particular os fervorosos combatentes pelas exportações, não devem esquecer as importações, fundamentalmente as que se podiam evitar..., por produção nacional.      
A liquidação da Siderurgia Nacional é uma boa amostra da submissão dos interesses estratégicos do país às imposições da integração europeia. O bloqueio do Plano Siderúrgico Nacional é um dos resultados da Adesão à CEE, em 1986, deitando por terra a expansão da actividade siderúrgica e os seus efeitos multiplicadores, nomeadamente o aproveitamento do ferro de Moncorvo, prolongando o secular atraso industrial do país face ao centro europeu.  
  
Marca, de ferro e fogo, desse «crime» foi a venda, em 1989, por Governo PSD/Cavaco Silva, do novo alto-forno que, acabado de adquirir, nunca chegou a ser instalado. Manteve-se o velho alto-forno, cujo encerramento em 2001 é um símbolo da política de direita do PSD, PS e CDS, foi um «brinde» à empresa indiana Tata Steel e um prejuízo de milhões para o Estado português.      
Ironias do destino: só por acaso o carril agora importado não foi fornecido pela sucursal europeia da Tata Steel, (British Steel France Rails SAS), o que significaria poder ter sido produzido pelo alto-forno saldado por Cavaco Silva! Resta a consolação de que vai ser transportado pela Medway, isto é a CP-Carga privatizada…
Na inauguração da Siderurgia, em 1961, o Ministro da Economia do Governo fascista da altura, terá dito (às vezes acertavam): «País sem siderurgia não é um país, é uma horta». Pois é, mas os governos PS, PSD e CDS, estiveram sempre mais virados para as hortaliças… ou nem isso.

  1. Público, 10OUT19, Carlos Cipriano. 

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