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30 de abril de 2012

Da Síria à bomba nuclear do Irão...

1 - A DERROTA IMPERIALISTA NA SÍRIA
(Réseau Voltaire - 20 abril 2012 – reproduzindo entrevista de Thierry Meyssan)
Durante um ano a Síria suportou uma guerra levada a cabo por milhares de mercenários vindos de toda a região e com experiência de combate no Iraque e na Líbia, sabotaram as infraestruturas energéticas e de telecomunicações além de crimes contra as populações. Poderosamente armados pela NATO, enquadrados por instrutores ocidentais, tentaram semear o terror e o caos perpetrando crimes de uma violência inaudita. A informação ocidental inventou então uma história de revolução/repressão.
As próprias informações dadas pela missão da Liga árabe foram escamoteadas. Segundo os seus relatórios nunca foram detectadas manifestações de massa contra o regime. Note-se que esta missão foi organizada pelos países da NATO e do Golfo, composta por militares e diplomatas.
A guerra chegou ao fim depois do duplo veto da Rússia e da China na ONU e entrega de armas anti-aéreas russas. A NATO viu-se então obrigada a abandonar o seu plano de bombardeamentos…Os últimos combatentes entrincheiraram-se numa zona de Homs, que serviu para continuar a manter a opinião pública intoxicada. No seguimento de um acordo concluído entre um responsável francês (Claude Guéant) e o general Assef Chawkat, os instrutores franceses deixaram o reduto e a maior parte dos mercenários rendeu-se. Restam ainda grupos isolados que causam danos à população.
Com a entrega do sistema de defesa anti-aéreo mais sofisticados do mundo – a ser operado por russos - a Rússia pôs fim ao domínio aéreo dos EUA e de Israel no Médio Oriente. Ora o poder das forças armadas norte-americanas consiste principalmente na sua capacidade de destruição aérea, as forças do solo têm mostrado a sua incapacidade de ocupar um terreno.
Segundo Thierry Meyssan, a derrota na Síria altera decisivamente o equilíbrio na zona. Em 2005 Israel foi derrotada no Líbano pelo Hezbollah (guerra por encomenda dos EUA) . Em 2011 o Pentágono foi obrigado a evacuar gigantescas bases militares que tinha construído no Iraque; a NATO recua na Síria e qualquer ataque ao Irão parece ser posto de parte. Porém, neste confronto o grande derrotado não é Israel, mas os regimes como a Arábia Saudita e o Qatar.
A Síria fazia parte de uma lista de 7 objetivos a serem atacados: Afeganistão, Iraque, Libia, Siria, Somália, Sudão e por fim Irão, esta decisão teria sido tomada em 15 setembro de 2001 em Camp David. O plano contra a Síria foi iniciado na base de falsos testemunhos hoje anulados, tendo Bachar- el Assad sido acusado de assassinatos no Líbano, entre os quais o do primeiro-ministro. Depois vieram as sanções.
A Síria, segundo os planos, seria desmembrada em Estados etnicamente homogéneos, mais fáceis de manipular. Os kurdos – a Turquia? - e Israel seriam os beneficiários. A Síria seria entregue a um fantoche, Burnham Galioum cujo programa político era romper a aliança com o Hezzbollah e o Irão, como ele próprio explicou ao Wal Street Journal. Há ainda a considerar a o interesse das multinacionais do sector energético no gás a explorar na região.
2 – ISRAEL CHEGA À CONCLUSÃO QUE O IRÃO NÃO DECIDIU CONSTRUIR UMA BOMBA NUCLEAR( Réseau Voltaire - 26 abril 2012)
Após 21 anos de intoxicação sobre o programa nuclear iraniano Israel chega à conclusão que o Irão não decidiu construir uma bomba nuclear…E quem o diz é o Chefe do Estado Maior Israelita, general Benny Gantz, em entrevista ao diário Haaretz, celebrando a data de autoproclamação do Estado de Israel. Diz concretamente: “O Irão dirige-se etapa por etapa para o momento em que estiver em condições de decidir fabricar uma bomba nuclear. Ainda não decidiu dar esse passo (…) Se o guia supremo, o ayatollah Ali Khamenei, quiser, dirigir-se-á para a posse de uma bomba nuclear, mas a sua decisão terá primeiro de ser tomada.”
Eis em que fica o “perigo eminente”,  transmitido sem contestação, duarnte anos, objeto de sanções por parte de uma decadente e amorfa UE, sem noção dos reais interesses dos seus povos. Desde 2006 a intriga e desinformação conduziu a resoluções do Conselho de Segurança que impuseram sanções unilaterais ao Irão para mascarar as intenções imperialistas, como o “escudo anti-míssil contra a Rússia com o argumento do perigo iraniano.
Depois das “armas de destruição maciça” do Iraque, da derrota já óbvia no Afeganistão, da derrota na Síria e do caos em que permanece a Líbia, aqui está a confissão de uma fraude informativa, as tais mentiras mil vezes repetidas...


27 de abril de 2012

Uma política suícida

Os resultados da política neoliberal, da austeridade, da redução brutal dos défices públicos  aí estão  a mostrar que estamos perante uma política suicida.
O Banco da Grécia prevê um novo agravamento da recessão para este ano. O Reino - Unido registou  o seu segundo trimestre recessivo e entrou oficialmente em recessão. A Espanha que viu a notação da sua dívida em baixa por uma empresa de notação financeira e um novo aumento do desemprego deverá anunciar que entrou oficialmente em recessão na semana que vem . A Irlanda que Comissários Europeus , analistas e governantes portugueses apontavam como exemplo do sucesso das políticas de austeridade-estamos mais próximos da Irlanda do que da Grécia dizia Passos Coelho- deixou de ser referida. De facto a Irlanda entrou em recessão , entrou em incumprimento e fez com o BCE uma reestruturação da dívida á socapa . Agora o Eurostat . considerou que o governo Irlandês devia integrar nas contas públicas 5,8 milhares de milhão de euros que foram consagrados ao salvamento da banca e contestou  a contabilização de 32 milhares de milhão da dívida detida pela NAMA - um bad bank irlandês- aumentando o défice público que atingiu em 2011 os - 13,1% bem acima dos −10,6 % fixados pela troika.
 Por sua vez a Itália tem visto a sua situação económica, financeira e social a agravar-se acentuadamente e os financiamentos externos a atingir valores proibitivos
A Austria reinjectou recentemente 1,27 milhares de milhão de euros no KA FINANZ , um bad bank em que o Estado é o único accionista. Mesmo na Alemanha cuja economia abranda o Estado tem garantidos   os activos tóxicos de vários bancos- Hypo Real  Estate,Westlb,.. e estes continuam a aumentar.
 Perante o desastre evidente aumentm as vozes dos que afirmam que é necessário mudar de caminho antes que seja tarde como aconteceu ao Titanic. Mais austeridade auto alimenta a espiral depressiva dizem agora mesmo aqueles que ainda há pouco defendiam o contrário. Aumento dos prazos para reduzir os défices, financiamento dos Estados pelo  BCE,diminuição das taxas de juro, euroobrigações para relançar investimentos a  nível europeu...
Entretanto mantém-se o ciclo vicioso do desendividamento púbico e privado e os desregulamentos do sistema financeiro que juntamente com a redução do poder e compra dos trabalhadores e da generalidade das famílias são o principal motor do prosseguimento da crise.

AS MARAVILHAS DO NEOLIBERALISMO: A FOME ALASTRA


Sabe-se que em Portugal nas escolas há crianças com fome; que nas universidades alunos não dispõem sequer do suficiente para pagar as suas refeições nas cantinas. Srs. comentadores, sem contraditório, dizem que os alunos não querem pagar propinas, mas vão para o Bairro Alto “beber copos”. Seria bom que mostrassem o estudo em que baseiam estas afirmações. Mas não é só em Portugal que a fome alastra.
Diversas instituições de apoio a crianças noticiaram recentemente como a fome alastra no Reino Unido, sendo particularmente grave nas escolas de certas áreas. Segundo a ONG Trussell Trust, organização associada aos bancos alimentares, verifica-se nos últimos meses se assiste a um enorme aumento da procura de assistência alimentar: «O que temos visto indica-nos que há muitos milhares de pessoas que sofrem de fome neste país, pessoas que têm de fazer escolhas difíceis entre combustível, aquecimento, transporte e comida». «Esta pressão recai fundamentalmente nas mães e nas crianças».
Refira-se que dados de 2011 referiam que em Nova Iorque existem 1,4 milhões famintos, revela a Coligação Contra a Fome daquela cidade. Segundo a organização, entre estas cerca de 40 por cento são crianças.
Neste sentido, vale a pena recordar por um lado o que dizem os políticos da “economia de mercado” e por outro como se assiste a retrocessos de muitas décadas graças a esta “eficiência” – para um 1% de oligarcas à custa dos demais 99%. Mas eis um pouco da história desta tragédia. (1)
Em 1906 foi introduzido na Grã-bretanha o apoio alimentar às crianças pobres nas escolas públicas. Isto devia-se, aliás, tal como outras medidas anteriormente tomadas, à preocupação com a condição física dos trabalhadores e com a capacidade de recrutamento militar necessário à manutenção das conquistas coloniais. Em 1944 estas refeições escolares foram tornadas obrigatórias sendo servidas grátis ou ao preço de custo. Estas refeições estavam sujeitas a critérios nutricionais oficialmente definidos desde 1906.
Em 1980 a D. Thatcher promulga um Ato Educacional que termina com os requisitos de critérios nutricionais e obriga as autoridades a abrirem o fornecimento de refeições ao sector privado pelo "Compulsory Competitive Tendering”, devendo o serviço ser retirado das autoridades locais e concedido à empresa que apresentasse a melhor proposta de preço. Isto é, transformou-se um serviço público educacional  e nutricional numa operação comercial.
O corte nas despesas levou a que desde logo meio milhão de crianças perdessem o direito a refeições gratuitas. Posteriormente, em 1986 este número aumentou com novo diploma sobre a Segurança Social, deixando muito mais crianças de serem elegíveis para refeições gratuitas.
Estas alterações trouxeram novas oportunidades de mercado para empresas privadas que instalaram serviços de cafetaria e máquinas automáticas. As considerações mercantis sobrepuseram-se às sociais e educacionais, pois os aspetos nutricionais deixaram de constituir uma parte da educação das crianças e jovens. Cerca de metade das escolas tinham em meados dos anos 2000 serviços total ou parcialmente privados.
A privatização do serviço levou a que considerações sobre o lucro se sobrepuseram às da saúde, cortando custos nos ingredientes, privilegiando comida embalada e processada com elevado teor de gorduras, açúcar e sal e pobre em vegetais e frutos frescos.
Apesar dos cortes nos salários e direitos dos trabalhadores e nos ingredientes, os custos aumentaram 30% entre 1995 e 2001, quando pela inflação deveriam ser apenas 19% maiores. O que não será apenas atribuível a aumento de lucros, mas aos custos de gestão, distribuição, processamento e embalagem das refeições. As autoridades locais que tinham perdido já a anterior capacidade de servir refeições passaram a gastar muito mais do que o previsível.
Pela mesma razão que em 1906 o governo foi obrigado a tomar medidas para proteger as crianças – a ganância capitalista o Department of Health alertou - aliás sem consequências - para “o baixo nível da dieta” e a “pobre qualidade dos produtos contendo resíduos de pesticidas, e uma dieta dominada por alimentos processados baratos e itens de “fast food”, com excesso de gordura, sal ou açúcar refinado e precariamente baixos nos nutrientes essenciais”. Análises às refeições servidas mostraram que as crianças recebiam, mais 40% de sal que o recomendado, 28% mais de gordura, 20% mais de açúcar, mas apenas 80% do ferro necessário.” Assim em 2003 28% das crianças tinham excesso de peso e 14% podiam ser consideradas obesas.
O estudo salientava ainda a relação entre a nutrição e o comportamento e a saúde mental, tal como hiperactividade e autismo. As crianças seriam assim particularmente sensíveis às consequências dos aditivos, falta de ferro e zinco, químicos usados na agricultura.
Na prática, a cultura dos custos quantificáveis próprios da privatização do serviço predominou acima de outras considerações, conduzindo à deterioração das refeições, e abrindo a porta a que um pequeno número de transnacionais ganhasse uma crescente quantidade de contratos.
Trabalhadores de longos anos como funcionários de serviços públicos foram despedidos sendo depois em certos casos admitidos em condições de precariedade e salários mínimos.
Como conclusão, a fome aumenta, mas a obesidade o o diabetes também. Eis o admirável mindo novo dos srs. V. Gaspar, P. Coelho e não só – de todos os “troikanos”.

1 - www.corporatewatch.org - SCHOOL MEALS -  September 2005)

25 de abril de 2012

25 de Abril Sempre!

Uma  intervenção a registar

24 de abril de 2012

Mais vale tarde do que nunca

Na altura não se deu conta das objecções de Cadilhe , mas mais vale ...

http://economia.publico.pt/Noticia/miguel-cadilhe-nao-deveriamos-ter-entrado-para-o-euro-1543185

"Portugal não deveria ter entrado na “união monetária e na moeda única”. Este foi um dos erros estruturais cometidos nos últimos 20 anos e que se revelaram pesados para o país, segundo o antigo ministro das Finanças, Miguel Cadilhe.

Foi um “erro histórico” entrar no euro. “Avisei que, com a moeda única, iríamos ter mais défices externos, menos PIB efectivo, menos PIB potencial, menos emprego. Chamaram-me eurocéptico e outros mimos que me colocavam a nadar contra-a-corrente”, lembra Miguel Cadilhe em entrevista publicada hoje no jornal i.

“Não deveríamos ter entrado para o euro, hoje não devemos sair”, sublinha porém o antigo titular da pasta das Finanças de Cavaco Silva, apontando ainda outros erros do passado e que hoje se reflectem na vida do país. Houve “enormes gastos públicos”, com decisões como a Expo 98 ou o Euro 2004, e ainda a “escalada da dimensão corrente e primária do Estado”.

NOTICÍAS E NOTICIÁRIOS

O que a pluralista comunicação que nos servem não diz:

ARGENTINA – Cristina Kirchner nacionaliza o petróleo
Não foi noticiado. Apareceu num aparte de um comentador, mas para criticar.
Na Argentina a exploração, industrialização, transporte e comercialização dos petróleos são novamente do Estado. Por cá considerou-se a nacionalização “demagogia” e “razões de política interna”. Estamos esclarecidos: para quem apoia a submissão (venda?) à “troika” interesse público é “demagogia” e defesa da soberania “razões de política interna”.
Recordemos que os petróleos tinham sido privatizados em 1992 pelo ultraliberal Carlos Menem, eleito presidente graças ás mentiras eleitoralistas e exibicionismo mediático que servia de camuflagem  à ultracorrupção que, com a dita eficiência dos mercados, deixou o país de rastos.

ACERCA DO ENSINO ATUAL
O conhecido prof. norte-americano Noam Chomsky - dispensa apresentações – considera que nas escolas e universidades não se ensinam os valores democráticos, o que realmente existe é um modelo colonial de ensino concebido para formar professores cuja dimensão intelectual é desvalorizada e por procedimentos e técnicas; modelos que impedem o pensamento crítico e independente, que não permitem raciocinar sobre o que se oculta por detrás das explicações e que por isso mesmo são tomadas como as únicas possíveis. (rebelion.org – 29.março.2012)
Diríamos que o mais parecido com isto foi a escolástica medieval.

QUANDO MITETRANDO LEU O SEU FUTURO
A propósito do candidato François Hollande, Patrick Mignard (legrandsoir.info – 12.abril.2012) transcreve um trecho do livro de Mitterand “Um socialismo do possível” de 1970, em que diz: “Os socialistas como reformistas, acabaram por colaborar com o sistema de valores capitalistas e portanto com a política de direita. A colaboração escapa dificilmente ao seu destino que é trair”
Aí está, a angústia do sr. João Proença a tentar fugir - a menos que seja só disfarçar - ao seu destino…

DEMOCRACIA NA AMÉRICA
Existem 16 agências de serviços secretos (intelligence agencies) e exércitos de empresas privadas sustentadas pela paranóia, crescente carreirismo, demonização da liberdade de expressão e muitas vezes narrativas inventadas.
Justificam a sua existência transformando o banal em ameaça potencial.
A lei de segurança nacional (a NDAA) promulgada pelo sr. Obama, poderá pôr na prisão indefenidamente e sem julgamento acusados de terroristas reais ou potenciais ou mesmo considerados simpatizantes, o que quer que isto queira dizer.
Alexa O’Brien dirigente do movimento “Day of rage” que protesta contra e pretende alterar os processos eleitorais nos EUA para os colocar fora do domínio das grandes empresas, ficou a saber pelo WikiLeaks que a empresa privada Stratfor que trabalha para o U.S. Department of Homeland Security, a Marine Corps e a Defense Intelligence Agency – grandes negócios… - tentava liga-la e à organização a redes islâmicas e websites radicais.
(Chris Hedges em www.informationclearinghouse - 02.abril.2012)

O PAÍS MAIS RICO EM RECURSOS IMPÕE AUSTERIDADE …
Dizem que Portugal está sujeito à “troika” porque somos pobres (o que é falso), etc. O Canadá será se não o mais rico, dos mais ricos países em recursos, o Orçamento para 2012 impõe o despedimento de 19 200 funcionários públicos, corte de 5 200 milhões de dólares em programas sociais, etc. Razões a dívida…Ou antes, a verdadeira razão que aflige todos independentemente da sua riqueza real e potencial é a especulação, são os monopólios e oligopólios, é o capitalismo predador dos paraísos fiscais.,
por: Ellen Brown attorney and president of the Public Banking Institute, http://PublicBankingInstitute.org - http://WebofDebt.com and http://EllenBrown.com

A DEMOCRACIA NAS MÃOS DO PODER ECONÓMICO
Ignácio Ramonet (ex-diretor do Le Monde Diplomatique) no livro “Fidel Castro Con Los Intelectuales” mostra como a democracia passa a ser um simulacro, estando nas mãos dos grandes grupos económicos: “Criticam-se os políticos, mas ninguém critica o grande poder financeiro, ninguém critica os verdadeiros donos do planeta. É impossível pensar o funcionamento de uma democracia moderna sem uma opinião pública que faça contrapeso. Porém, não há esse contrapeso na medida em que a opinião pública está fabricada pelos grandes grupos mediáticos mais que nunca."


19 de abril de 2012

IDEOLOGIA E RINOCERONTES

Na ditadura salazarista, criticar o governo, defender outras políticas ou mesmo o integral cumprimento da Constituição, era acusado de “fazer política”. Eles, os fascistas, não faziam “política”, guiavam-se pelos “superiores interesses da nação”, consubstanciados aliás na defesa dos monopólios, latifúndios e no colonialismo. Por outras palavras, só eles tinham autorização para “fazer política”, o resto era “subversão”.
Vem isto a propósito de na SIC – Notícias a propósito do livro “Dicionário da Crise e Alternativas” em que M. Carvalho da Silva é (salvo erro) co-autor, o sr. M. Crespo considerar que o seu texto era “ideológico”, como se por esse facto se tornasse criticável, não isento e de conter “retórica”.
É pena que os srs. apresentadores que escutam com sorriso embevecido e fingidas perplexidades as diatribes dos habituais defensores do neoliberalismo e das políticas “troikanas”, não lhes coloquem a mesma questão.
Os srs. ministros, secretários de Estado, gente da bancada governamental à falta de respostas passaram a usar o não-argumento da “ideologia” para defender o indefensável. A única ideologia legitimada parece ser a que a “troika” admite.
Tudo isto faz-nos recordar a peça de Eugéne Ionesco “O rinoceronte” que constitui uma metáfora da ascensão do fascismo nos anos 30. Quando os homens começaram a transformar-se em rinocerontes foram olhados criticamente e com repúdio, porém, pouco a pouco, mais e mais se foram transfigurando. O que antes se achava horroroso passou a ser louvável e finalmente os que permaneciam humanos e lutavam pelo humanismo eram marginalizados e ostracizados, mais tarde perseguidos.
Também muitos dos que se indignavam com o “horror económico” (do livro de Heléne Forrestier) e com a “economia de casino” hoje apoiam as políticas da “troika”.
Atenção, os rinocerontes invadiram o espaço da comunicação. No ambiente ideológico em que estamos a viver ressoam os seus sons e correrias!

14 de abril de 2012

O GOLPE DE ESTADO

Na Guiné…veio mesmo a calhar para esconder o Golpe de Estado em Portugal. Os noticiários preencheram o seu tempo exaustivamente sobre a Guiné, ignoraram o significado do dito Pacto Orçamental da UE para Portugal. Se não fosse a Guiné seria o Sporting – Benfica, o caso dos árbitros, tudo serve para esconder dos portugueses do caminho de desastre para onde nos levam.
Com este Pacto põe-se fim ao que restava de soberania nacional. Agora é democracia que o PS ajuda a meter na gaveta.
Quantas pessoas sabem do que consta e quais as consequências para si e suas famílias? Um número ínfimo. O Governo e o sr Seguro, garantem que “é essencial para o nosso país” e chamam-lhe “regra de ouro”. Mas não dizem do que se trata ou dão a ideia de que por obra do Espírito Santo deixamos de ter défice orçamental.
Basicamente, trata-se de impor um défice orçamental de 0,5% do PIB, calculado de forma mais penalizadora que atualmente - “défice estrutural” – e 60% de dívida pública com penalidades se não for cumprido: multa de 1% do PIB, intervenção na definição do Orçamento de Estado e outras obrigações a decidir por Bruxelas, isto é, Berlim.
Anteriormente havia na UE um objetivo de 3% do PIB que poucos países cumpriram desde a introdução do euro, com os 0,5% - segundo o critérioanterior –terá havido em 13 anos um incumprimento de 75% na Zona Euro (1)
Como é que vai ser cumprido o Pacto? Não dizem. Se com o pacto da troika o governo já nada garante quanto a prazos ou valores do equilíbrio de contas, crescimento, emprego, prestações sociais, como pensam cumprir o Pacto? Quais as consequências e quais os meios para cumprir? Não dizem, pois os ultracompetentes do governo que viram de cheios de parangonas do estrangeiro (V. Gaspar e Santos Pereira) nada sabem quanto ao futuro do que – graças à mentira propalada - governam.
Pergunta-se: mas não será bom não ter défice orçamental? Claro que sim, porém as regras da UE impedem que os países tenham políticas nesse sentido. O BCE fomenta o endividamento aos especuladores, impede que o grande capital seja tributado como devia. A livre circulação de capitais faz fugir do país os lucros dos monopólios e o dinheiro da especulação. As empresas lucrativas são todas privatizadas. A concorrência fiscal na UE e a existência de paraísos fiscais impede que se cobrem impostos retira meios aos Estados para tributarem o grande capital.
O anterior Pacto de Estabilidade e Crescimento, nunca foi de crescimento, só serviu para engordar as oligarquias (é ver os lucros das Galp, EDP, PT, Sonae, Amorim, Pingo Doce, etc.) e endividar o país. Um pacto que só serve os interesses do grande capital alemão e dos especuladores internacionais. Um pacto que limita, tende a acabar ou acaba mesmo com as transferências de verbas comunitárias para os países. Em caso de incumprimento são aplicadas penalidades, não está prevista qualquer solidariedade europeia. Um pacto que só interessa aos banqueiros e monopolistas nacionais. A riqueza fica nas suas mãos, garantida por Bruxelas, em partilha com os predadores financeiros internacionais.
Federalismo? Nada disso, trata-se de colonialismo. O federalismo dos EUA ou do Brasil (mesmo que fosse viável na Europa) nada tem que ver com o que está a ser posto em prática na UE. A obra de Afonso Henriques, de 1385, de 1640, de Abril de 1974 está a ser posta no caixote do lixo.
Golpe de Estado, nas costas dos portugueses. Para aqueles que a juraram cumprir e defender a Constituição é como se não existisse. A democracia está em causa. De nada servem os programas e as mentiras dos partidos da troika (PS – PSD, CDS). As eleições são institucionalizadas como farsa.
Esta inqualificável gente põe às costas do povo e das gerações futuras: um pacto de recessão, de empobrecimento, de desemprego, de espoliação das riquezas nacionais. De exclusão social. De regressão de muitas décadas.
E tudo isto é feito sem os portugueses terem a mínima ideia do que os espera. Com a Comunicação Social a esconder as iniciativas e argumentos dos que apenas pretendiam que o povo fosse informado e consultado (PCP, BE, Verdes). Onde estão afinal as tiradas declamatórias de nacionalismo do sr. Portas e as tiradas democráticas do PSD e PS? Em tudo isto a Direção do PS mais uma vez faz o papel de Cavalo de Tróia dos interesses estrangeiros. Que significado tem para esta gente soberania nacional? E um povo decidir dos seus destinos?
Que vergonha! Que degradação ideológica! Que abandalhamento político! “Regra de ouro”? Mas ouro para quem?!
A luta que se perspectiva no futuro será pela soberania nacional. Uma luta de libertação.

1 – Citado por Graça Franco (Diretora de Informação da R. Renascença) na SIC notícias.

11 de abril de 2012

INCENTIVOS, DESINCENTIVOS E LUTA DE CLASSES

Para quem não saiba bem o que seja a luta de classes ou acredite que seja uma invenção mal intencionada de marxistas, o governo PSD-CDS ensina. Podemos mesmo dizer que com este governo conclui-se a licenciatura, na sequência do administrado pelos anteriores.
O código laboral é linha por linha um tratado nesta matéria sob o lema do “reformismo” e das ”mudanças estruturais”, espécie de palavras mágicas de que os políticos do sistema e comentadores de serviço se servem para mascarar as suas intenções e a triste realidade em que afundam o país.
Vejamos apenas alguns exemplos de como se processa a luta de classes conduzida pelo governo.
Há trabalhadores com baixas fraudulentas? Admitamos que sim, não é impossível. Então que faz o governo? Corta no subsídio de doença a todos os trabalhadores nessas condições. Dizem então que é um “desincentivo” à fraude. Isto é, para este governo todos os trabalhadores são potencialmente uma cambada que só se endireita com chicotadas “desincentivadoras”. A propósito, o que será para o governo uma “baixa fraudulenta” e como a determina? Não diz, aplica uma medida sem definir concretamente o que seja o motivo invocado. Os delitos são tipificados na Lei, mas este não consta. Sendo um insulto à inteligência coletiva, tem a contrapartida de vermos o ar comprometido de alguns comentadores a justificarem o injustificável absurdo.
O desemprego aumenta, que se faz? Corta-se no subsídio, reduz-se o prazo. Porquê? Os subsídios “desincentivam” os trabalhadores de procurar emprego, garantem os srs. professores. Será que fizeram algum estudo junto do mais de 1 milhão de desempregados? Não é preciso “inúmeros estudos” e as suas “teorias” dizem isso mesmo.
Mas há outros “desincentivos”: as taxas moderadoras (estar doente é um abuso que os de menores rendimentos não devem cometer); as “reformas” na justiça (quem quer justiça paga-a); cortes nas bolsas de estudo (quer quer qualificação, paga-a).
O Estado de Direito, não é para todos: é para quem pode pagar e quanto ao Estado Social, comentadores para irem mentalizando o pessoal vão dizendo que isso é para acabar.
Na luta de classes, portanto, os governos da “troika” vêm uma classe trabalhadora tendencialmente parasita, desonesta e fraudulenta. Do outro lado, estão os detentores do grande capital (não confundir com MPM Empresários) gente honesta, lhana, patriota, aos quais se aplica o “risco sistémico” – o que será isso muito concretamente? – sempre demasiado grandes para falirem, embora levem o país à falência. É caso para perguntar por que temos de assumir esse “risco”? Então uma das virtudes do capitalismo não seria os capitalistas assumirem o “risco” do seu capital?
Ora para este campo há “incentivos”. Há banqueiros que cometem ilegalidades? Há. Há capitalistas que recebem rendas “excessivas” do Estado por via de entidades reguladoras ao seu serviço e de contratos de PPP com o Estado fruto da incompetência e possivelmente da corrupção? Há, está provado em sede Parlamentar, relatórios de Tribunal de Contas e outros organismos. Que faz o governo? Dá-lhes “incentivos”. Pega no dinheiro dos trabalhadores e compensa-os, cobre prejuízos, deixa os seus ativos de fora, paga rendas. São os intocáveis.
Os monopolistas e oligopolistas cá da terra põem o dinheiro no estrangeiro? Sim. Que faz este governo e fizeram antecedentes? Incentivam o aumento de lucros, diminuem os “custos do trabalho” de todas as formas possíveis, concedem benefícios fiscais.
O país está em crise? O povo que pague a crise. Não há dinheiro para o investimento produtivo, que continua em queda, nem para o pagar pensões de reforma, porém a Caixa Geral de Depósitos concede 400 milhões de euros ao Grupo Mello e a um fundo britânico para a OPA sobre a Brisa. Os monopolistas têm de ser “incentivados”. Incentiva-se a especulação bolsista.
É assim com os juros da dívida pública, que em 3 anos deram um lucro de 3 828 milhões de euros aos bancos nacionais. É assim com a “livre” transferência de capitais: Segundo o Banco de Portugal, só no período 2008-2011 foram transferidos para o exterior 74 942 milhões de euros, cerca de 43,6% do PIB (ver texto de Eugénio Rosa em resistir.info). Seria bom que os srs. comentadores falassem nestes factos.
Repete-se que países como Portugal, Grécia, Espanha, Irlanda, vivem acima das suas possibilidades, ignorando que as causas estão na corrupção e nas políticas “incentivadoras” do BCE.
Por exemplo, no caso da Grécia 600 mil milhões de euros (quase o dobro da dívida publica da Grécia) estão depositados por capitalistas gregos só em bancos da Suíça!
Acerca da luta de classes um banqueiro da Wall Street explica-se muito bem: “A luta de classes existe e nós estamos a ganha-la!”
Por agora assim parece, mas desenganem-se: o fim do domínio dos monopolistas e especuladores chegará mais cedo do que imaginam.

10 de abril de 2012

A Irlanda


A Irlanda  e a discreta reestruturação da dívida externa
Ah ...a Irlanda ... até agora, a Ilha Verde foi apresentado como um modelo na resposta à crise aos outros países europeus.
Um pouco de história. Na década de 90, os benefícios fiscais oferecidos às empresas que se instalavam na ilha atraíram grandes multinacionais como a Dell, Intel ou Pfizer. No final dos anos 90, o BCE tem uma política de baixas taxas de juros, destinada essencialmente, a apoiar a economia alemã (e as suas exportações). Mas o que é bom para a Alemanha mostrou ser prejudicial para a Irlanda. Encorajados por estes preços baixos, os bancos irlandeses concederam créditos com grande liberalidade. O dinheiro alimentou essencialmente a especulação imobiliária
.
A bolha da habitação cresceu durante a década de 2000. Em 2007, pouco antes da explosão da crise do subprime, construíram-se na Irlanda apenas metade das casas que se construíram na Grã-Bretanha ... para uma população 13 vezes menor.
Com a eclosão da crise financeira global, a economia irlandesa mergulha 10%. Os bancos que tinham concedido hipotecas estão numa situação catastrófica. Tão ruim na verdade que estavam à beira da falência. O governo, portanto, teve de intervir. O círculo vicioso estava lançado - um cenário com o qual começamos a estar bem familiarizados na Europa.
A dívida pública subiu para 100% do PIB. Obviamente, os mercados de títulos entraram em pânico, os rendimentos dos títulos irlandeses a 10 anos subiram em flecha para os 10%. Obviamente, ninguém se pode dar ao luxo de obter empréstimos a essa taxa. Para tentar acalmar o fogo, a UE e o FMI entraram em cena com um plano de ajuda de 113 biliões de euros.
Em troca deste apoio, a Irlanda teve que entrar numa política de rigor: impostos mais altos, queda drástica dos benefícios sociais, baixa dos salários e das pensões dos funcionários públicos, etc. Em suma, o mesmo remédio amargo que é administrado em muitos países europeus.
A grande diferença é que os irlandeses pareciam ter aceitado muito bem essa política de rigor. Pelo menos até agora. A Irlanda foi, assim, apresentado como um modelo de rectidão e de auto-sacrifício. Que os gregos, os portugueses e os espanhóis o copiem! Só que ...
Parece que a política de austeridade da Irlanda não foi tão eficaz quanto isso. Os últimos números são preocupantes. A Irlanda está novamente em recessão (queda de 0,2% do PIB no quarto trimestre de 2011), a sua taxa de desemprego está nos 15% e a dívida continua sempre nos 108% do PIB. Isto não faz sonhar ... e isto explica a crescente crispação dos irlandeses em relação ao seu governo.
"Os irlandeses estão a começar a cansar-se do rigor que se tornou um peso diário nestes últimos anos. Como uma rebelião, metade dos contribuintes da pequena república decidiu não pagar o novo imposto da habitação a que os proprietários deviam fazer face até 31 de Março. Um sinal para o governo de Dublin a dois meses do referendo sobre o novo tratado orçamental europeu. Esta é uma das primeiras fissuras na aplicação de um programa de recuperação que até então não tinha causado grandes movimentos sociais, ao contrário do que poderia ter acontecido noutras nações periféricas da zona euro em crise ", diz-nos Le Monde.
Mas acima de tudo, em completa indiferença dos mercados e dos media, a Irlanda acaba de reestruturar a sua dívida. Muito discretamente. O que aconteceu? O país devia reembolsar 3,1 biliões de euros. Mas ela conseguiu obter que só podia reembolsar em... 2025. Sim, dentro de 13 anos. Foi exactamente o que fez a Grécia no mês passado e você certamente não esqueceu os debates, crises e reviravoltas de situação que isso gerou.
Certamente 3,06 biliões, nestes tempos de crise da dívida soberana, são pequenos trocos ... mas o exemplo corre o risco de propagar-se como mancha de azeite. Na verdade, são 31.000 milhões o que o governo irlandês está tentando reestruturar.
Como se explica que uma tal reestruturação tenha passado como uma carta no correio?
A União Europeia atolada nas crises grega, espanhola e portuguesa não tem vontade nenhuma de ver uma bomba extra explodir em voo sobre a relativa calmaria actual - uma pausa paga de forma tão cara.
Mas sobretudo, a UE tenta passar a mão pelo lombo dos irlandeses. A causa: o referendo previsto para o próximo 31 de Maio. Os irlandeses terão de pronunciar-se sobre o pacto de orçamento da UE (lembra-se, aquele que busca controlar os défices públicos na Europa e estabelece penalidades para os maus alunos da rectidão orçamental).
Ora os precedentes não são muito tranquilizadores. Quando se trata de Europa, a Ilha Verde tem a desagradável tendência de votar contra.
De novo, não há nenhuma necessidade que a Irlanda dê um mau exemplo quando a ideia de aumentar a vigilância da União Europeia sobre as finanças de seus países membros apenas agrada a poucos países.

8 de abril de 2012

Prestando Homenagem




                                                Saco e Vanzetti 1927 − 2012   http://www.youtube.com/watch?
Ouvir:The Ballad of Sacco and Vanzetti” é uma das músicas da banda sonora de “Sacco & Vanzetti” composta por Ennio Morricone e Joan Baez (que lhe dá, igualmente, voz)

"No dia 23 de agosto de 1927, nos Estados Unidos, Sacco e Vanzetti foram executados  por um crime que não cometeram. Nos autos do processo, nenhuma prova da autoria do crime. Sete anos, foi o tempo que a justiça levou para condená-los. Nesse lapso de tempo, muitos foram os protestos da comunidade intelectual norte-americana e das forças progressistasvde todo o mundo inconformada com a sentença condenatória dos dois humildes italianos. Milhares pedidos de clemência foram encaminhados por eles, aos quais se somaram tantos outros pedidos do mundo inteiro. Mas, tudo foi inútil. A sentença condenatória teria de ser cumprida para servir de exemplo ao povo, para que se distanciasse  do sindicalismo,do anarquismo e do comunismo "

6 de abril de 2012

Pela calada a reestruturação da dívida Irlandesa

O ponto de vista dos investidores que tentaremos traduzir com brevidade.


L'Irlande se rebelle
Ah... l'Irlande... jusqu'à présent, l'île verte avait été présentée comme modèle de réaction à la crise aux autres pays européens.
Petit retour en arrière. Dans les années 90, la fiscalité avantageuse offerte aux sociétés s'installant sur l'île attire de grandes multinationales comme Dell, Pfizer ou Intel. A la fin des années 90, la BCE applique une politique de taux bas essentiellement destinée à soutenir la croissance allemande (et ses exportations). Mais ce qui est bon pour l'Allemagne s'avère délétère pour l'Irlande. Encouragés par ces taux bas, les banques irlandaises ont accordé des crédits avec une grande libéralité. Un argent qui a essentiellement alimenté la spéculation immobilière.
La bulle immobilière a enflé au cours des années 2000. En 2007, juste avant l'explosion de la crise des subprime, il s'est construit seulement deux fois moins de maisons en Irlande qu'en Grande-Bretagne... pour une population 13 fois moins nombreuse.
Quand éclate la crise financière mondiale, l'économie irlandaise plonge de 10%. Les banques qui avaient accordé des crédits immobiliers se trouvent dans une situation catastrophique. Si catastrophique en fait qu'elles étaient en situation de faillite. Le gouvernement a donc dû intervenir. L'engrenage infernal était lancé – un scénario que nous commençons à bien connaître en Europe.
La dette publique a flambé pour atteindre 100% du PIB. Evidemment les marchés obligataires ont paniqué, les rendements des obligations irlandaises à 10 ans ont grimpé en flèche à 10%. Evidemment, personne ne peut se permettre d'emprunter à un tel taux. Pour essayer de calmer le feu, l'Union européenne et le FMI sont intervenus avec un plan de sauvetage de 113 milliards d'euros.
En échange de ce soutien, l'Irlande a dû mettre une politique de rigueur : hausse des impôts, chute drastique des aides sociales, baisse des salaires et des retraites des fonctionnaires, etc. Bref, la même potion amère que celle qui est administrée dans de nombreux pays européens.
La grosse différence est que les Irlandais semblaient avoir plutôt bien accepté cette politique de rigueur. Du moins jusqu'à présent. L'Irlande était ainsi présentée comme un modèle de droiture et d'abnégation. Que les Grecs, les Portugais et les Espagnols en prennent de la graine ! Sauf que...
Il semblerait que la politique de rigueur irlandaise ne soit pas si efficace que cela. Les derniers chiffres donnent à réfléchir. L'Irlande est de nouveau en récession (recul de 0,2% du PIB au quatrième semestre 2011), son taux de chômage s'affiche à 15% et la dette atteint toujours 108% du PIB. Cela ne fait pas rêver... et cela explique la crispation croissante des Irlandais envers leur gouvernement.
"Les Irlandais commencent à se lasser de la rigueur qui est devenue leur lot quotidien ces dernières années. En guise de rébellion, la moitié des contribuables de la petite république ont décidé de ne pas payer la nouvelle taxe d'habitation dont les propriétaires étaient redevables au 31 mars. Un signal pour le gouvernement de Dublin à deux mois du référendum sur le nouveau traité budgétaire européen. Il s'agit de l'une des premières fissures dans l'application d'un programme de redressement qui jusque-là n'avait pas provoqué de mouvements sociaux d'envergure, à l'inverse de ce qui a pu se passer dans les autres nations périphériques de la zone euro en crise", nous apprend Le Monde.
Mais surtout, dans une parfaite indifférence des marchés et des médias, l'Irlande vient de restructurer sa dette. Très discrètement. Que s'est-il passé ? Le pays devait rembourser 3,1 milliards d'euros. Or elle a obtenu de ne pouvoir les rembourser qu'en... 2025. Oui, dans 13 ans. C'est exactement ce qu'a fait la Grèce le mois dernier et vous n'avez sûrement pas oublié les débats, crises et revirement de situation que cela avait engendré.
Certes, 3,06 milliards, en ces temps de crise de la dette souveraine, c'est de la petite bière... mais l'exemple risque de faire tache d'huile. En fait, c'est 31 milliards que le gouvernement irlandais essaie de restructurer.
Comment expliquer qu'une telle restructuration soit passée comme une lettre à la poste ?
L'Union européenne empêtrée dans les crises grecque, espagnole et portugaise n'a aucune envie de voir une bombe supplémentaire faire exploser en vol la relative accalmie actuelle – une pause si chère payée.
Mais surtout, l'Union européenne essaie de brosser les Irlandais dans le sens du poil. La cause : le référendum prévu le 31 mai prochain. Les Irlandais doivent se prononcer sur le pacte budgétaire européen (vous vous souvenez, celui qui vise à contrôler les déficits publics européens et instaure des sanctions pour les mauvais élèves de la rectitude budgétaire). Or les précédents ne sont pas très rassurants. Dès qu'il s'agit d'Europe, la verte Erin a la fâcheuse tendance à voter contre.
Là encore, nul besoin que l'Irlande montre le mauvais exemple alors que l'idée d'une surveillance accrue de l'Union européenne sur les finances de ses pays membres ne sourit qu'à peu de pays.