Ao que consta, Lenine teria dito que “quem controla Berlim, controla a Europa”. É uma evidência. Por isso era tão fundamental a existência de dois Estados alemães. Vendo a situação dos Estados europeus, percebemos como a URSS e a RDA, eram afinal o garante das liberdades, da democracia, dos direitos sociais e sindicais, tanto a leste como a oeste. Por muito que se minta e se queira negar era para o socialismo que os povos olhavam com esperança face às crises e às dificuldades. Nunca então as oligarquias tiveram coragem ou capacidade de impor austeridades. E os países progrediam.
Aqueles que aplaudiram a queda do muro
de Berlim, deviam ver que caía também a barreira que defendia os trabalhadores
do desemprego, da precariedade, da crescente pobreza e do domínio da finança
especuladora e usurária (os “mercados”) com os mais ricos a ficarem sempre mais
ricos. (ver listagem da “Forbes
Magazine”). Morreram pessoas a tentar atravessar o muro. É lamentável,
porém é pena que os jornais não falem dos que morreram e morrem ao tentar
atravessar a fronteira do México com os EUA, é que nos EUA num ano morriam mais
pessoas que em 30 anos na RDA.
E também há um muro. São as maravilhas de um Tratado de Comércio Livre (o
NAFTA).
Aqueles que aplaudiram a reunificação
alemã, fazem lembrar a cena final de um livro de J.P. Sartre, “Le sursis” (da
trilogia “Les chemins de la Liberté). Daladier, primeiro-ministro francês, após
o pacto de Munique em Setembro de 1938 que consagrou a anexação de parte da
Checoslováquia pela Alemanha, foi recebido com manifestações de júbilo: a paz fora
salva!. Daladier ao vê-los do cimo da escada do avião, murmura: “Les cons” (Os idiotas). Um ano depois começava a II
Guerra Mundial.
2 – Com tudo isto, mais uma cimeira
europeia de milagrosas soluções. Os comentadores do costume bem se esforçam,
como aqueles sujeitos que nas feiras de diversões se esforçam pelo barulho por
propagandear maus espetáculos. Agora dizem que a Espanha e a Itália bateram o
pé à Alemanha impondo condições para o crescimento económico e fingem que o
socialista (?) Hollande não abandonou com saídas de sendeiro as eleitorais entradas
de leão.
Esquecem que a Alemanha vinha com a
recomendação do imperador norte-americano - falido e a caminhar para mais uma recessão
económica apesar dos biliões de dólares injectados em bancos e grandes
empresas. Porém a Alemanha sem medo de ser contraditada afirma este disparate:
crescimento, mas com austeridade.
São 120 000 milhões de euros aplicados
nas empresas segundo o postulado do “supply side economy”, isto é, mais do
mesmo: sem procura solvente da parte dos trabalhadores não há crescimento.
Trata-se apenas de embaratecer custos de trabalho para fomentar exportações
(para onde?). Das “ajudas” a parte de leão há-de ir para os países mais
fortes: como de costume. Além disto, onde vão buscar este dinheiro? É simples. Criação
de mais dívida no BCE, que os trabalhadores hão de pagar com austeridade.
Lembremos que entre 2008 e 2011 foram injectados na banca europeia 4,5 biliões
de dólares. Qual o resultado? A banca europeia está de rastos, tudo o que lá
cai entra logo no circuito especulativo, cada vez mais tóxico. O poder de
compra em queda e a maximização dos lucros a isso obrigam.
Os nossos comentadores, repetem o que vem
lá de fora, dizem que os mercados reagiram positivamente. Pudera! As medidas
são ouro sobre azul para os especuladores e usurários, “os mercados”.
Agora baixam os juros, logo hão desubir outra vez como de costume.
3 – A 20ª cimeira europeia depois da
crise do euro, foi “muito positiva” dizem. É proibido não ser
otimista. Os fundos estruturais, que para pouco ou nada serviram para os países
mais frágeis, também não vão agora resolver as crises.
O mais interessante é o facto de para a
Espanha e a Itália o BCE recapitalizar diretamente os bancos sem o fazer por
via da troika. O problema é simples, e não se trata de nenhuma cedência. Eles
sabem muito bem como as medidas da troika são destrutivas. Aplicadas a um país
como a Espanha poderia representar para breve à implosão não só do euro, mas da
própria UE.
Tudo o que está a ser feito tem de ser
lido à luz das necessidades imperialistas da Alemanha, que os seus servidores
mascaram de mais Europa – esquece-se que a propaganda nazi também fazia uso
deste lema, para a “proteger” do “bolchevismo”. “A Alemanha necessita de dinheiro, muitíssimo dinheiro, muito mais do
que tem e está sacando da especulação com o euro”. “Berlim (seria) a capital de
um novo império germânico integrado por países empobrecidos submetidos a uma
ditadura financeiro-especulativa (…) que teria à sua disposição em breve um
imenso exército de desempregados de todas as qualificações”. Note-se ainda que
“a maioria das repúblicas ex-soviéticas e países sob sua influência estão em
decomposição”. “Por isso necessita do euro essa moeda débil e sobrevalorizada
que lhe permite sacar enormes rendas que não provêm da produtividade, mas da
especulação que empobrece a outros.” (1)
O sistema financeiro alemão está tão mal
como a Grécia, Itália ou Espanha. Ora a Alemanha financia-se (a 6 anos) a 0,95%
(alguns títulos mesmo a 0%) e a França a 1,97%. Compare-se com as taxas aplicadas
pelos países em dificuldades, 4, 5 ou 6%, depende do humor dos “mercados”. Eis
pois a “ajuda” que esta UE dá aos países em dificuldades. Mais Europa?
O problema desta Alemanha é que
precisaria de uma Europa com crescimento, porém tal como o escorpião da
história ao matar a rã, também morreu, afogado.
http://www.youtube.com/watch?v=mNtMSseYgoQ Pedro L.
Angosto. Junio de 2012.
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