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30 de junho de 2012

O APÓLOGO DA RÃ E DO ESCORPIÃO…OUTRA VEZ, NÃO!

1– A Alemanha já destruiu várias vezes a Europa – desde a barbárie dos Cavaleiros Teutónicos a leste, passando pela guerra dos 30 anos, ao nascente império prussiano no século XVIII que culmina com a constituição em 1871 em Versalhes do Reich alemão (o segundo…). No século XX o III Reich destrói duas vezes a Europa a que se acrescenta o desmembramento da Jugoslávia. No século XXI aí temos a tentativa de um IV Reich que está a destruir de novo a Europa e tal como no apólogo a própria Alemanha não se salva. Os meios são os absurdos e iníquos tratados da UE e do euro ao estilo de Munique em 1938 a que governantes ao serviço dos interesses hegemónicos cedem: É o mito do “bom aluno”.
Ao que consta, Lenine teria dito que “quem controla Berlim, controla a Europa”. É uma evidência. Por isso era tão fundamental a existência de dois Estados alemães. Vendo a situação dos Estados europeus, percebemos como a URSS e a RDA, eram afinal o garante das liberdades, da democracia, dos direitos sociais e sindicais, tanto a leste como a oeste. Por muito que se minta e se queira negar era para o socialismo que os povos olhavam com esperança face às crises e às dificuldades. Nunca então as oligarquias tiveram coragem ou capacidade de impor austeridades. E os países progrediam.
Aqueles que aplaudiram a queda do muro de Berlim, deviam ver que caía também a barreira que defendia os trabalhadores do desemprego, da precariedade, da crescente pobreza e do domínio da finança especuladora e usurária (os “mercados”) com os mais ricos a ficarem sempre mais ricos. (ver listagem da “Forbes Magazine”). Morreram pessoas a tentar atravessar o muro. É lamentável, porém é pena que os jornais não falem dos que morreram e morrem ao tentar atravessar a fronteira do México com os EUA, é que nos EUA num ano morriam mais pessoas que em 30 anos na RDA. E também há um muro. São as maravilhas de um Tratado de Comércio Livre (o NAFTA).
Aqueles que aplaudiram a reunificação alemã, fazem lembrar a cena final de um livro de J.P. Sartre, “Le sursis” (da trilogia “Les chemins de la Liberté). Daladier, primeiro-ministro francês, após o pacto de Munique em Setembro de 1938 que consagrou a anexação de parte da Checoslováquia pela Alemanha, foi recebido com manifestações de júbilo: a paz fora salva!. Daladier ao vê-los do cimo da escada do avião, murmura: “Les cons” (Os idiotas). Um ano depois começava a II Guerra Mundial.

2 – Com tudo isto, mais uma cimeira europeia de milagrosas soluções. Os comentadores do costume bem se esforçam, como aqueles sujeitos que nas feiras de diversões se esforçam pelo barulho por propagandear maus espetáculos. Agora dizem que a Espanha e a Itália bateram o pé à Alemanha impondo condições para o crescimento económico e fingem que o socialista (?) Hollande não abandonou com saídas de sendeiro as eleitorais entradas de leão.
Esquecem que a Alemanha vinha com a recomendação do imperador norte-americano -  falido e a caminhar para mais uma recessão económica apesar dos biliões de dólares injectados em bancos e grandes empresas. Porém a Alemanha sem medo de ser contraditada afirma este disparate: crescimento, mas com austeridade.
São 120 000 milhões de euros aplicados nas empresas segundo o postulado do “supply side economy”, isto é, mais do mesmo: sem procura solvente da parte dos trabalhadores não há crescimento. Trata-se apenas de embaratecer custos de trabalho para fomentar exportações (para onde?). Das “ajudas” a parte de leão há-de ir para os países mais fortes: como de costume. Além disto, onde vão buscar este dinheiro? É simples. Criação de mais dívida no BCE, que os trabalhadores hão de pagar com austeridade. Lembremos que entre 2008 e 2011 foram injectados na banca europeia 4,5 biliões de dólares. Qual o resultado? A banca europeia está de rastos, tudo o que lá cai entra logo no circuito especulativo, cada vez mais tóxico. O poder de compra em queda e a maximização dos lucros a isso obrigam.
Os nossos comentadores, repetem o que vem lá de fora, dizem que os mercados reagiram positivamente. Pudera! As medidas são ouro sobre azul para os especuladores e usurários, “os mercados”. Agora baixam os juros, logo hão desubir outra vez como de costume.

3 – A 20ª cimeira europeia depois da crise do euro, foi “muito positiva” dizem. É proibido não ser otimista. Os fundos estruturais, que para pouco ou nada serviram para os países mais frágeis, também não vão agora resolver as crises.
O mais interessante é o facto de para a Espanha e a Itália o BCE recapitalizar diretamente os bancos sem o fazer por via da troika. O problema é simples, e não se trata de nenhuma cedência. Eles sabem muito bem como as medidas da troika são destrutivas. Aplicadas a um país como a Espanha poderia representar para breve à implosão não só do euro, mas da própria UE.
Tudo o que está a ser feito tem de ser lido à luz das necessidades imperialistas da Alemanha, que os seus servidores mascaram de mais Europa – esquece-se que a propaganda nazi também fazia uso deste lema, para a “proteger” do “bolchevismo”. “A Alemanha necessita de dinheiro, muitíssimo dinheiro, muito mais do que tem e está sacando da especulação com o euro”. “Berlim (seria) a capital de um novo império germânico integrado por países empobrecidos submetidos a uma ditadura financeiro-especulativa (…) que teria à sua disposição em breve um imenso exército de desempregados de todas as qualificações”. Note-se ainda que “a maioria das repúblicas ex-soviéticas e países sob sua influência estão em decomposição”. “Por isso necessita do euro essa moeda débil e sobrevalorizada que lhe permite sacar enormes rendas que não provêm da produtividade, mas da especulação que empobrece a outros.” (1)
O sistema financeiro alemão está tão mal como a Grécia, Itália ou Espanha. Ora a Alemanha financia-se (a 6 anos) a 0,95% (alguns títulos mesmo a 0%) e a França a 1,97%. Compare-se com as taxas aplicadas pelos países em dificuldades, 4, 5 ou 6%, depende do humor dos “mercados”. Eis pois a “ajuda” que esta UE dá aos países em dificuldades. Mais Europa?
O problema desta Alemanha é que precisaria de uma Europa com crescimento, porém tal como o escorpião da história ao matar a rã, também morreu, afogado.

1 - Alemania y el nuevo orden mundial - Pedro Luis Angostowww.rebelión.org – 26.junho.2012
http://www.youtube.com/watch?v=mNtMSseYgoQ Pedro L. Angosto. Junio de 2012.

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