A receita colonialista
Lembro-me do sr. Jean Maria Domenach, considerado um expoente do pensamento da direita francesa, escrever que só são colonizados os colonizáveis. Asserção que fica bem à direita, cuja arrogância toma foros de clarividência. É este o mesmo princípio que permite justificar a predação financeira, explorar, oprimir sem complexos os povos previamente enfraquecidos da UE e assim mantidos para o futuro, tudo em nome da livre escolha e dos dogmas do liberalismo.
É este o critério que permite culpar as vítimas: só está no desemprego “gente” que não têm iniciativa e “subsidio dependentes” ou no dizer do candidato republicano dos EUA, os “useless eaters”, que nem sequer mereceriam a esmola de senhas de alimentação no país que passa por ser o mais rico e poderoso do mundo, mas cuja riqueza se concentra nos “usefull” especuladores da Wall Street e similares. Com a sobranceria anti-humanista da direita, da mesma forma, só seriam violadas as mulheres violáveis.
De facto, se só são colonizados os povos colonizáveis, esquece-se que tal ocorreu com a brutal violência dos “civilizados” e que a escravatura contou com a colaboração das “elites” negras: as lideranças tribais. Também o processo de neocolonialismo em curso na UE, sob o eufemismo de caminhar para o federalismo, sobre os países mais fragilizados do leste e do sul, resulta da colaboração de falsas elites promovidas pela finança e pelos monopólios resultantes da privatização de património público, e seu pelo domínio totalitário e censório sobre a comunicação social.
É o processo de colonização em curso que o sr. Álvaro Santos Pereira designava do alto da sua nulidade como ministro, o ”ímpeto reformista deste governo”.
Vem isto a propósito de um texto no Boletim do Sindicato dos Eng. da Região Sul do sr. Mendes Marques, diretor, em que afirma ser necessário investimento no nosso país. Parece-me ser uma descoberta notável como as que costuma fazer o sr. Cavaco Silva, distinto discípulo do sr. La Palisse. O problema é que segundo o texto referido o investimento nacional não é possível, pois não há dinheiro. Logo deve procurar-se o investimento estrangeiro, apontando-se duas soluções: tornar o país atrativo e…menos Estado. Embora o “impeto reformista” deste governo nada tenha conseguido neste campo, além de roubar aquilo que trabalhadores e reformados tinham e têm direito.
É uma pena que o distinto colega não saiba ou não cuide de fazer contas. Não há dinheiro no país? Então o que sai em juros? Então a diferença entre PIB e RN? Então as rendas das PPP, com TIR que atingem 17% - em que o “ímpeto reformista” em ano e meio não tocou nem faz tenções de tocar? Então as rendas dos monopólios da energia? Então as taxas de imposto efetivo aos grandes grupos financeiros e económicos?
Seria longo enumerar onde para e como se esvai a riqueza criada no país, mas como sindicalista deveria pelo menos consultar o site da CGTP onde estão propostas desta central. Calculamos que tal não lhe agrade, claro que as verdades doem, quando se vai contra elas, mas pelos vistos, metalúrgicos, pedreiros ou funcionários mostram saber fazer bem melhor estas contas que distintos engenheiros. Afinal é tudo uma questão de ideologia.
Pedir menos Estado é pedir colonialismo, é aceitar que um funcionário do FMI venha fazer conferências de imprensa sobre o que temos de fazer e julgar como o fazemos.
Só são colonizados os colonizáveis? Nenhum povo é colonizável, os povos podem é ser sofredores, colonizáveis são as pseudo elites que esperam partilhar do bolo dos colonizadores, sujeitando o seu país ao atraso e à pobreza.
Menos Estado e investimento estrangeiro – de acordo com os seus interesses – foi sempre através da história uma forma de colonização de um país.
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