Para o ministro Gaspar as suas previsões sobre o decréscimo do PIB
passarem de 1% para 2%, tratou-se apenas da variação de 1 ponto percentual. O
ministro toma-nos a todos por estúpidos, como se passar de 1 para 2 fosse o
mesmo que passar de 90 para 91.
Questionado pelo deputado Honório Novo de que se tratava de uma variação para
o dobro, o ministro Gaspar retorquiu: “como o sr. deputado muito bem sabe não
se podem fazer percentagens de percentagens”. O que é mais espantoso é dizer
isto um assumido adepto das teorias marginalistas…
O meu professor de matemática do liceu diria com aquele seu ar sardónico
para gáudio da turma: “você é mesmo uma besta”, acrescentando por causa das
mamãs dos meninos: “eu só chamo a quem não é”…
Vamos ao concreto. Uma percentagem, expressa uma variação relativa. Qualquer
variação pode ser expressa em termos matemáticos pela função dita “derivada”.
Assim, a velocidade é a variação do espaço na unidade de tempo, isto é, a sua
derivada. A aceleração exprime a variação da velocidade, é a 1ª derivada da
velocidade e é a 2ª derivada do espaço. A variação da aceleração será a 1ª
derivada da aceleração, a 3ª derivada do espaço em função do tempo.
Portanto, quando faço percentagens de percentagens estou a verificar as
variações de variações o que é perfeitamente legítimo e do maior interesse. Ao
que parece o ministro Gaspar não entende o que qualquer candidato a uma
universidade técnica tem de saber.
A importância de uma análise deste tipo para o estudo de funções é enorme
– embora para mostrar os falhanços do ministro Gaspar não seja preciso ir tão
longe!
Quando a segunda derivada se anula dizemos que temos um máximo ou um
mínimo da função estudada e sabemos que se trata de um máximo quando a 3ª
derivada é negativa e um mínimo quando é positiva – a função neste último caso deixa
de ser decrescente para ser crescente.
Por detrás da sua retórica redundante e dogmática, cega à realidade, o ministro
Gaspar mostra mais uma vez que não passar de um servil burocrata dos interesses
que o escolheram e mantêm, como “cientista da classe burguesa” (como Marx
classificou os economistas do sistema). A sua fachada tecnocrática esboroa-se
constantemente no que poderia ser classificado como incompetência, se não se
tratasse de um plano para destruir o que a democracia trouxe ao país.
Com as suas réplicas O ministro Gaspar ganha jus ao que Eça de Queiroz
chamou de ignorantes atrevidos, ou se quisermos, os ignatres.
No fim da semana, lá o veremos todo feliz por os seus verdadeiros chefes
terem feito uma “avaliação positiva” – aquilo que o povo pensa e vai expressar
mais uma vez nas ruas no sábado 2 de março, fingem que não lhes importa minimamente,
mas eles, sabem bem o que é a luta de classes em que estão envolvidos, ao
contrário do PS e da UGT vai sempre dobrando a espinha na chamada concertação social.
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