O
problema de maior gravidade social que aflige (cada vez mais) as
sociedades industrializadas é o do desemprego. Não é foi por caso
que a obra mestra de John Maynard Keynes se intitulava «Teoria
Geral do Emprego, do Juro e do Dinheiro»...
Num outro trabalho, Keynes - o tal que procurava «salvar o capitalismo» da ganância ou "erros" dos próprios capitalistas - e a propósito do tempo de trabalho, diz-nos esta coisa deliciosa:
«But
beyond this, we shall endeavour to spread the butter thin on the
bread – to make what work there is still to be done to be as
widely shared as possible. Three-hour
shifts or a fifteen-hour week may put off the problem for a great
while. For three hours a day is quite enough to satisfy the old Adam
in most of us! »
Ou em "jargão" lusitano, "Mas para além disso, deveremos "espalhar mais finamente a manteiga pelo pão" - divir o mais amplamente possível o trabalho que ainda tenha que ser feito . Turnos de três horas ou uma semana laboral de quinze horas poderá adiar o problema por muito tempo; pois que três horas de trabalho por dia é mais do que suficiente para satisfazer o Adão que há em cada um de nós».
John
Maynard Keynes
Economic
Possibilities for our Grand Children
Por
outro lado qualquer observador minimamente atento já percebeu que
estamos – de há uns anos a esta parte – perante uma crise de
sobreprodução. Há casas a mais, há automóveis a mais, há roupas
a mais, há brinquedos a mais, há de tudo «a mais»... Só não há
é «empregos a mais», nem o respectivo poder de compra efectivo que
pudesse resultar desses mirabolantes «empregos a mais»... E daí
também as sempre renovadas tentativas de vendas a crédito e os
saldos e promoções de tudo e mais alguma coisa.
Neste
contexto, talvez seja chegado o tempo de pararmos e reflectir um
pouco sobre se estamos (ou não) a «trabalhar demais». Ou seja, a
produzir de demais... Pelo
menos em relação ao poder de compra efectivo que os sistema vai
gerando
Ou
ainda de reflectir sobre se estamos ou não chegados à situação
histórica de reclamar com firmeza e insistência por uma redução
drástica, sistemática e sistémica do tempo de trabalho mercantil.
Entretanto, desde
sempre, desdes os primórdios do sistema capitalista que os
empresários capitalistas, muito naturalmente e seguindo (mesmo que
«cegamente») as regras impostas pela lógica da concorrência,
sempre se opuseram a quaisquer reduções dos horários (diários,
semanais, anuais...) de trabalho.
Os empresários sempre tiveram a
noção de que era vitalmente necessário para os seus interesses (o
máximo de lucros para um máximo de acumulação) aproveitar ao
máximo a força-de-trabalho que estivesse disponível ser utilizada.
Claro
que depois era preciso vender os produtos e para isso era preciso que
houvesse poder de compra da parte de quem tinha efectuado a produção.
Mas isso já outra história.
Vamos agora e aqui cingirnos à questão
dos tempos de trabalho. Ao princípio – há uns dois séculos atrás
- os empresários capitalistas e os seus mandatários e ideólogos de
serviço limitavam-se a argumentar contra a redução dos tempos de
trabalho numa base de que «seria o fim do mundo»... seria «a ruína
de muitas (se não mesmo de todas) as empresas», e então é que
«não haveria emprego para ninguém»...
(para continuar... espero!...)
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