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22 de outubro de 2013

A Propósito de Keynes e do Desemprego - 2

Olhando para a literatura actualmente disponível sobre a problemática dos tempos de trabalho (livros, artigos, ensaios, estudos e relatórios), verifica-se algo de muito curioso: o tema dos tempos e horários de trabalho óptimos para as empresas, para os trabalhadores ou para a sociedade em geral, era um tema amplamente discutido, e também por economistas de referência, há uns cem anos atrás.
A coisa era tema de debate e de estudo por parte de «comissões parlamentares» e havia polémicas várias e diversas sobre as vantagens para uns e as desvantagens para outros. Debatia-se também a hipótese de saber se haveria ou não uma qualquer relação de causa e efeito entre a redução dos tempos de trabalho e o aumento do volume de emprego. Ou então, e ainda se a redução do horário diário de trabalho acabava por afinal contribuir (ou não...) para o aumento da produtividade, na medida em que, com mais tempo de descanso os trabalhadores acabavam por render mais em «meia-duzia» de horas de trabalho afincado e atento do que, por exemplo, em dez horas de trabalho monótono ou desinteressado.
Havia estudos empiricos efectuados por sociólogos e economistas que eram então alvo de debate público e institucional. Estamos aqui a falar de há cem anos atrás. 
Entretanto, por via das contradições do sistema capitalista e da concorrência entre as principais potências económico-militares pela conquista de mercados e a necessidade de escoar os respectivos excedentes económicos (nem que fosse por meio da sua destruição maciça...), tivemos depois a chamada «Grande Guerra» (a mundial, a primeira...) à qual se seguiu uma Segunda Guerra Mundial, depois de um interregno de vinte anos, tempo esse também amplamente preenchido por muitas guerras e guerrinhas localizadas.
Os muito numerosos exércitos de «cidadãos em armas» assim como a necessidade de fabricação extensiva de armanentos e munições, assim como a fabricação de tudo e mais alguma coisa que é necessário para manter os ditos exércitos em funcionamento, foram tudo factores mais do que suficientes para resolver (ou melhor, adiar...) o problema fundamental do desemprego sistémico. O esforço de reconstrução de tudo aquilo que tinha sido destruído assim como o aproveitamento industrial de uma série de avanços ciêntíficos e inovações tecnológicas originadas durante a guerra, tudo com elevado grau de iniciativa e extensa participação e liderança por parte das autoridades estatais, vieram contribuir, de modo decisivo, para manter afastadas – do mundo das precocupações dos economistas de serviço - quaisquer preocupações mais ou menos aprofundadas com o «nível de emprego».
No que diz respeito aos diversos factores que determinam, condicionam, ou influenciam o nível geral do emprego (e por tabela a questão da carga laboral ou do «tempo normal de trabalho» a isso associado), as preocupações concentravam-se já não no nível global ou sistémico, mas apenas no estudo ou reflexão sobre quais as mais adequadas explicações para as oscilações conjunturais ou sazonais no nível de emprego.
Os contributos «teóricos» mais significativos, nesses «gloriosos anos» da reconstrução do pós-guerra, terão sido, por um lado, a chamada «Curva de Phillips» (uma suposta relação inversa entre o nível da inflação e o grau de desemprego) e, por outro lado, a chamada «Lei de Okun». Esta «lei» (uma interessante, mas datada, constatação empírica) dizia-nos basicamente que as empresas, para se ajustarem ao nível da procura, despedem mais rápidamente do que admitem pessoal. A coisa parecia cifrar-se nos números seguintes: depois de despedirem pessoal (por razões de conjuntura económica desfavorável) as empresas, em média, esperariam que a economia crescesse dois por cento (por exemplo) para que o nível geral de emprego crescesse um por cento (também por exemplo). Vendo a coisa ao contrário, uma outra forma de colocar a questão será dizer que, em consequência daquele comportamento das empresas, a cada aumento de 1% no desemprego, corresponde um decréscimo de 2% no produto interno bruto do país em causa.
Para continuar a discorrer...

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