Olhando
para a literatura actualmente disponível sobre a problemática dos tempos de trabalho (livros, artigos, ensaios,
estudos e relatórios),
verifica-se algo de muito curioso: o tema dos tempos e horários de
trabalho óptimos para as empresas, para os trabalhadores ou para a
sociedade em geral, era um tema amplamente discutido, e também por
economistas de referência, há uns cem anos atrás.
A
coisa era tema de debate e de estudo por parte de «comissões
parlamentares» e havia polémicas várias e diversas sobre as
vantagens para uns e as desvantagens para outros. Debatia-se também
a hipótese de saber se haveria ou não uma qualquer relação de
causa e efeito entre a redução dos tempos de trabalho e o aumento
do volume de emprego. Ou então, e ainda se a redução do horário
diário de trabalho acabava por afinal contribuir (ou não...) para o
aumento da produtividade, na medida em que, com mais tempo de
descanso os trabalhadores acabavam por render mais em «meia-duzia»
de horas de trabalho afincado e atento do que, por exemplo, em dez
horas de trabalho monótono ou desinteressado.
Havia
estudos empiricos efectuados por sociólogos e economistas que eram
então alvo de debate público e institucional. Estamos aqui a falar
de há cem anos atrás.
Entretanto, por via das contradições do
sistema capitalista e da concorrência entre as principais potências
económico-militares pela conquista de mercados e a necessidade de
escoar os respectivos excedentes económicos (nem que fosse por meio
da sua destruição maciça...), tivemos depois a chamada «Grande
Guerra» (a mundial, a primeira...) à qual se seguiu uma Segunda
Guerra Mundial, depois de um interregno de vinte anos, tempo esse
também amplamente preenchido por muitas guerras e guerrinhas
localizadas.
Os
muito numerosos exércitos de «cidadãos em armas» assim como a
necessidade de fabricação extensiva de armanentos e munições,
assim como a fabricação de tudo e mais alguma coisa que é
necessário para manter os ditos exércitos em funcionamento, foram
tudo factores mais do que suficientes para resolver (ou melhor,
adiar...) o problema fundamental do desemprego sistémico. O esforço
de reconstrução de tudo aquilo que tinha sido destruído assim como
o aproveitamento industrial de uma série de avanços ciêntíficos e
inovações tecnológicas originadas durante a guerra, tudo com
elevado grau de iniciativa e extensa participação e liderança por
parte das autoridades estatais, vieram contribuir, de modo decisivo,
para manter afastadas – do mundo das precocupações dos
economistas de serviço - quaisquer preocupações mais ou menos
aprofundadas com o «nível de emprego».
No
que diz respeito aos diversos factores que determinam, condicionam,
ou influenciam o nível geral do emprego (e por tabela a questão da
carga laboral ou do «tempo normal de trabalho» a isso associado),
as preocupações concentravam-se já não no nível global ou
sistémico, mas apenas no estudo ou reflexão sobre quais as mais
adequadas explicações para as oscilações conjunturais ou sazonais
no nível de emprego.
Os
contributos «teóricos» mais significativos, nesses «gloriosos
anos» da reconstrução do pós-guerra, terão sido, por um lado, a
chamada «Curva de Phillips» (uma suposta relação inversa entre o
nível da inflação e o grau de desemprego) e, por outro lado, a
chamada «Lei de Okun». Esta
«lei» (uma interessante, mas datada, constatação empírica)
dizia-nos basicamente que as empresas, para se ajustarem ao nível da
procura, despedem mais rápidamente do que admitem pessoal. A coisa
parecia cifrar-se nos números seguintes: depois de despedirem
pessoal (por razões de conjuntura económica desfavorável) as
empresas, em média, esperariam que a economia crescesse dois por
cento (por exemplo) para que o nível geral de emprego crescesse um
por cento (também por exemplo). Vendo a coisa ao contrário, uma
outra forma de colocar a questão será dizer que, em consequência
daquele comportamento das empresas, a cada aumento de 1% no
desemprego, corresponde um decréscimo de 2% no produto interno bruto
do país em causa.
Para continuar a discorrer...
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