O acordo não visa apenas o
livre comércio de bens e serviços mas também a “proteção”, leia-se, a
desregulamentação dos investimentos. O objetivo é ir além dos compromissos
atuais da OMC: “ligar ao mais alto nível de liberalização os acordos de
comércio livre existentes.
Neste sentido o objetivo é
“a eliminação de todos os obstáculos inúteis ao comércio à abertura dos
mercados e uma melhoria das regras”. É fácil entender o que esta gente entende
por “obstáculos inúteis”. Saúde pública, escola pública, segurança social
pública tudo isto ou acaba ou fica residual, decadente, apenas em termos de
assistencialismo. O resto é sujeito à concorrência e à gula das multinacionais.
Normas, regulamentos
sanitários, sociais e laborais serão “uniformizados, aplanados, harmonizados”.
Isto significa que as restrições a aditivos, pesticidas, carne com hormonas,
sementes transgénicas (OGM) serão cada vez mais ténues ou mesmo inexistentes. As
informações da embalagens tornar-se-ão mais opacas ou enganadoras, sob pena
também de caso contrário de prejudicarem o comércio. A saúde pública fica à
conta do “mercado”.
Claro que vão haver
alimentos baratos insanos para os pobres e saudáveis, mas caros para quem puder
pagar. Eis a o que os sicofantas do neoliberalismo vão propagandear como
liberdade de escolha.
A resolução de qualquer
litígio fica a cargo de um organismo dito regulador ou regulamentar, pelo qual
um Estado pode ser acusado e processado de pôr entraves ao “livre comércio” ou
a investimentos. O grande capital passa a dispor de uma
“supremacia do tipo imperial que lhe permite fazer passar os seus direitos
antes de todos os outros” (1)
Se um país recusar produtos
alimentares dos EUA com aditivos, hormonas, originários de OGM poderá ser
penalizado: estará a pôr entraves ao “comércio livre”. Democracia, critérios de
saúde e regulamentação alimentar que cada Estado deveria poder definir segundo
critérios próprios conforme a decisão doa seus cidadãos – assim se constrói e
construiu o progresso – serão considerados nulos, poderão obrigar
a pagar indemnizações como lucros que determinadas empresas poderão alegar ter
deixado de receber.
As oligarquias anseiam por
algo como o tratado que os porá ao abrigo de eventuais incertezas e constrangimentos
que a democracia lhes pudesse trazer. Não se consideram cidadãos como os
outros. São o equivalente à nobreza do feudalismo.
Não pode haver tratamento
mais favorável para as empresas nacionais. O mesmo é dizer que um país não pode
desenvolver a sua própria política económica, estando sujeito às pretensões das
mais poderosas multinacionais.
Os vândalos estão, pois de
volta! A representação de um povo, é colocada não ao mesmo nível, mas a nível
inferior aos interesses das megaempresas transnacionais.É o totalitarismo
neoliberal. Milhões de trabalhadores já empobrecidos por uma crise económica
crónica. Vão ser colocados em concorrência atroz.
Trata-se como afirma Susanne Suchuster de “um ataque frontal contra a nossa democracia, ou pelo menos do que
ainda resta”.
1 - TTIP-TAFTA – der
Ausverkauf unserer Demokratie, Susanne Suchuster, tradutora,
pensadora ativista, também em: http://www.legrandsoir.info/le-ttip-et-la-zone-de-libre-echange-ue-usa-ou-comment-brader-notre-democratie.html
Ver também: Le
mandat UE de négociation du grand marché transatlantique UE-USA,Raoul Marc Jennar http://www.legrandsoir.info/le-mandat-ue-de-negociation-du-grand-marche-transatlantique-ue-usa.html
1 comentário:
Ná! Não acredito em nada disto. É tudo má língua, inveja, invencionice! Pode lá ser verdade!...
Negociações secretas, destruição da saúde pública, do ensino público, da segurança social pública?!
Alimentos transgénicos perigosos para a saúde, "pesticizados", "hormonados", aditivados, aldrabados?!
E os responsáveis são as oligarquias, os vândalos, os sicofantas do liberalismo?!
Os vândalos (e os alanos, e os suevos) deixaram de existir há séculos! Oligarquias talvez nunca tenham existido. E sicofanta deve ser uma palavra inventada para nos impressionar. "Sicofantas do liberalismo"! Imagine-se!... Só falta o autor queixar-se do capitalismo!
Uma última nota, muito humilde, mas que não devo calar. O autor diz que "vão haver alimentos baratos insanos para os pobres". Percebe-se perfeitamente o que pretende dizer, mas a frase enferma de dois erros. O primeiro: quando o verbo haver significa existir nunca é usado no plural; conjuga-se, bem como os seus auxiliares, apenas na terceira pessoa do singular: "Numa sociedade justa haverá alimentos - ou vai haver alimentos - saudáveis, abundantes e baratos, suficientes para toda a gente ". O segundo: o termo insano significa demente, louco. Ora, loucos não são, evidentemente, os alimentos propositadamente viciados nem quem consciente e criminosamente os adultera; dementes também não são as camadas obrigadas pela pobreza e pela ignorância a consumi-los; criminosamente indiferentes e colaborantes são os que têm consciência da situação e fingem ignorá-la. (Mea culpa: não estou fora deste grupo).
Resta-me pedir vénia ao autor pelo atrevimento das correcções, tanto mais que sei não carecer ele delas, mas...no melhor pano cai a nódoa.
Os melhores cumprimentos.
17-12-2013
Gil Furtado
Enviar um comentário