Nota sobre o Inquérito ao Emprego do 1º trimestre de 2016
O INE divulgou hoje os resultados do Inquérito ao Emprego do 1º trimestre de 2016. Uma nota
prévia que me parece importante adivinhando a leitura que a direita e a comunicação social,
menos rigorosa e ao seu serviço irá fazer destes resultados:
1. Como o INE reconhece no destaque, que divulgou simultaneamente com os resultados
deste Inquérito ao Emprego, os valores apresentados nestes Inquéritos trimestrais ao
Emprego não estão corrigidos de sazonalidade, pelo que as comparações efectuadas
com o trimestre anterior padecem deste problema. Não é por acaso que desde que
estes Inquéritos ao Emprego são realizados (1º trimestre de 1998), em apenas 5 destes
19 anos o valor da taxa de desemprego foi inferior no 1º trimestre do ano
comparativamente com o 4º trimestre do ano anterior. Quer isto dizer que por razões
sazonais que se ligam com o final do ano, o Natal e o consumismo a ele associado, o
facto de grande parte dos trabalhadores portugueses ainda receberem o chamado
subsídio de Natal, o desemprego tem tendência a ser menor no 4º trimestre do ano do
que no 1º trimestre do ano seguinte. Isto não significa que não se devam fazer
comparações entre o 1º trimestre de um ano e o 4º trimestre do ano anterior, mas
que essas comparações devem levar em conta o factor sazonal, pelo que as
comparações mais correctas são aquelas que comparam o 1º trimestre de um ano com
o 1º trimestre do ano anterior.
Posto isto, algumas notas que me parecem relevantes sobre estes resultados, fazendo a
comparação entre o 1º trimestre de 2016 e o trimestre homólogo de 2015:
2. A taxa de desemprego em sentido restrito caiu de 13,7% para 12,4%, o que significa
que se no 1º trimestre de 2015 tínhamos 712,9 mil trabalhadores desempregados, no
1º trimestre de 2016 esse nº baixou para 640,2 mil. Ou seja, em sentido restrito saíram
da situação de desemprego 72,7 mil trabalhadores entre estes dois trimestres.
3. A mesma taxa de desemprego mas em sentido lato, por muitos considerada a taxa de
desemprego real, isto é, incluindo os inactivos disponíveis e o subemprego visível
reduziu-se entre o 1º trimestre de 2015 e o 1º trimestre de 2016 de 22,2% para 20,7%.
Cerca de 1 113 mil trabalhadores portugueses, de acordo com esta estimativa
encontravam-se efectivamente desempregados no 1º trimestre do corrente ano.
4. A taxa de desemprego dos homens foi no 1º trimestre de 2016 de 12,4%, quando no
1º trimestre de 2015 tinha sido de 13,1%, enquanto a das mulheres caiu no mesmo
período de 14,4% para 12,4%. A taxa de desemprego dos jovens atingiu por sua vez no
1º trimestre do corrente ano os 31,0%, depois de em igualdade período do ano
passado se ter fixado em 34,4%.
5. Do lado do emprego verificou-se entre estes trimestres uma criação de 36,2 mil
empregos, ou seja, uma variação de +0,8%. Uma vez mais a diferença entre o nível da
criação de emprego entre estes dois trimestres (+36,2 mil empregos) e a evolução do
desemprego (-72,7 mil desempregados), mostra que à redução do desemprego não
corresponde uma criação de empregos do mesmo nível. Neste caso tendo em conta
que a população inactiva se mantem praticamente inalterada entre o 1º trimestre de
2015 e o 1º trimestre de 2016, a diferença reflecte-se na redução da população
residente (-36,5 mil), ou seja, a emigração continuou a ser o caminho encontrado por
muitos milhares de portugueses para resolver o seu problema do desemprego neste
período.
6. A distribuição do emprego por sectores mostra-nos por sua vez que entre estes dois
trimestres o sector primário, com realce para a Agricultura, perdeu 42,8 mil empregos,
enquanto a indústria transformadora manteve praticamente inalterável o nível de
emprego, a construção criou 17,7 mil empregos e o sector dos serviços criou 63,9 mil
empregos.
7. De registar ainda que se é verdade que entre estes dois trimestres o nº de
trabalhadores por conta de outrem aumentou em 71,8 mil, também é verdade que
70% destes novos trabalhadores por conta de outrem foram contratados a prazo.
8. Os dados agora divulgados mostram também o rendimento salarial líquido médio dos
trabalhadores por conta de outrem cresceu entre os dois trimestres homólogos 1,1%.
Por fim, algumas notas em torno dos resultados agora divulgados pelo INE e da sua
comparação com as metas estabelecidas no Programa de Estabilidade, quer para o
desemprego, quer para o emprego em 2016 e recentemente apresentado pelo governo na
Assembleia da República:
9. O nível de desemprego atingido no 1º trimestre de 2016, 12,4% situa-se ainda 1 ponto
percentual acima da meta estabelecida para o ano, 11,4%, enquanto a evolução do
emprego, com um aumento do emprego de 0,7% (+36,2 mil) fica ligeiramente aquém
da meta de crescimento do emprego para o ano (+0,8%). Esta evolução do emprego
fica, no entanto muito aquém das necessidades do país e reflecte um baixo ritmo de
crescimento do PIB, que resulta fundamentalmente de um nível de investimento que
continua a ser extremamente insuficiente. Para tal muito contribui o facto de se prever
que o investimento público em 2016 continue mesmo em termos nominais a registar
um crescimento negativo (-10,3%). A este ritmo de crescimento dificilmente as metas
do desemprego e do emprego, mesmo que insuficientes, que o Governo definiu para o
corrente ano serão atingidas. A estimativa rápida da evolução do PIB no 1º trimestre
do corrente ano, que o INE divulgará no próximo dia 13 de Maio, permitir-nos- á avaliar
melhor o ritmo de crescimento a que o PIB tem evoluído neste início de 2016. Sendo
de esperar a confirmação da continuação do abrandamento que se vinha já registando
desde o 2º semestre do ano passado.
CAE, 11 de Maio de 2016
José Alberto Lourenço
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