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11 de maio de 2016

Desemprego e leituras mistificadoras

Nota sobre o Inquérito ao Emprego do 1º trimestre de 2016

O INE divulgou hoje os resultados do Inquérito ao Emprego do 1º trimestre de 2016. Uma nota

prévia que me parece importante adivinhando a leitura que a direita e a comunicação social,

menos rigorosa e ao seu serviço irá fazer destes resultados:

1. Como o INE reconhece no destaque, que divulgou simultaneamente com os resultados

deste Inquérito ao Emprego, os valores apresentados nestes Inquéritos trimestrais ao

Emprego não estão corrigidos de sazonalidade, pelo que as comparações efectuadas

com o trimestre anterior padecem deste problema. Não é por acaso que desde que

estes Inquéritos ao Emprego são realizados (1º trimestre de 1998), em apenas 5 destes

19 anos o valor da taxa de desemprego foi inferior no 1º trimestre do ano

comparativamente com o 4º trimestre do ano anterior. Quer isto dizer que por razões

sazonais que se ligam com o final do ano, o Natal e o consumismo a ele associado, o

facto de grande parte dos trabalhadores portugueses ainda receberem o chamado

subsídio de Natal, o desemprego tem tendência a ser menor no 4º trimestre do ano do

que no 1º trimestre do ano seguinte. Isto não significa que não se devam fazer

comparações entre o 1º trimestre de um ano e o 4º trimestre do ano anterior, mas

que essas comparações devem levar em conta o factor sazonal, pelo que as

comparações mais correctas são aquelas que comparam o 1º trimestre de um ano com

o 1º trimestre do ano anterior.

Posto isto, algumas notas que me parecem relevantes sobre estes resultados, fazendo a

comparação entre o 1º trimestre de 2016 e o trimestre homólogo de 2015:

2. A taxa de desemprego em sentido restrito caiu de 13,7% para 12,4%, o que significa

que se no 1º trimestre de 2015 tínhamos 712,9 mil trabalhadores desempregados, no

1º trimestre de 2016 esse nº baixou para 640,2 mil. Ou seja, em sentido restrito saíram

da situação de desemprego 72,7 mil trabalhadores entre estes dois trimestres.

3. A mesma taxa de desemprego mas em sentido lato, por muitos considerada a taxa de

desemprego real, isto é, incluindo os inactivos disponíveis e o subemprego visível

reduziu-se entre o 1º trimestre de 2015 e o 1º trimestre de 2016 de 22,2% para 20,7%.

Cerca de 1 113 mil trabalhadores portugueses, de acordo com esta estimativa

encontravam-se efectivamente desempregados no 1º trimestre do corrente ano.

4. A taxa de desemprego dos homens foi no 1º trimestre de 2016 de 12,4%, quando no

1º trimestre de 2015 tinha sido de 13,1%, enquanto a das mulheres caiu no mesmo

período de 14,4% para 12,4%. A taxa de desemprego dos jovens atingiu por sua vez no

1º trimestre do corrente ano os 31,0%, depois de em igualdade período do ano

passado se ter fixado em 34,4%.

5. Do lado do emprego verificou-se entre estes trimestres uma criação de 36,2 mil

empregos, ou seja, uma variação de +0,8%. Uma vez mais a diferença entre o nível da

criação de emprego entre estes dois trimestres (+36,2 mil empregos) e a evolução do

desemprego (-72,7 mil desempregados), mostra que à redução do desemprego não

corresponde uma criação de empregos do mesmo nível. Neste caso tendo em conta

que a população inactiva se mantem praticamente inalterada entre o 1º trimestre de

2015 e o 1º trimestre de 2016, a diferença reflecte-se na redução da população

residente (-36,5 mil), ou seja, a emigração continuou a ser o caminho encontrado por

muitos milhares de portugueses para resolver o seu problema do desemprego neste

período.

6. A distribuição do emprego por sectores mostra-nos por sua vez que entre estes dois

trimestres o sector primário, com realce para a Agricultura, perdeu 42,8 mil empregos,

enquanto a indústria transformadora manteve praticamente inalterável o nível de

emprego, a construção criou 17,7 mil empregos e o sector dos serviços criou 63,9 mil

empregos.

7. De registar ainda que se é verdade que entre estes dois trimestres o nº de

trabalhadores por conta de outrem aumentou em 71,8 mil, também é verdade que

70% destes novos trabalhadores por conta de outrem foram contratados a prazo.

8. Os dados agora divulgados mostram também o rendimento salarial líquido médio dos

trabalhadores por conta de outrem cresceu entre os dois trimestres homólogos 1,1%.

Por fim, algumas notas em torno dos resultados agora divulgados pelo INE e da sua

comparação com as metas estabelecidas no Programa de Estabilidade, quer para o

desemprego, quer para o emprego em 2016 e recentemente apresentado pelo governo na

Assembleia da República:

9. O nível de desemprego atingido no 1º trimestre de 2016, 12,4% situa-se ainda 1 ponto

percentual acima da meta estabelecida para o ano, 11,4%, enquanto a evolução do

emprego, com um aumento do emprego de 0,7% (+36,2 mil) fica ligeiramente aquém

da meta de crescimento do emprego para o ano (+0,8%). Esta evolução do emprego

fica, no entanto muito aquém das necessidades do país e reflecte um baixo ritmo de

crescimento do PIB, que resulta fundamentalmente de um nível de investimento que

continua a ser extremamente insuficiente. Para tal muito contribui o facto de se prever

que o investimento público em 2016 continue mesmo em termos nominais a registar

um crescimento negativo (-10,3%). A este ritmo de crescimento dificilmente as metas

do desemprego e do emprego, mesmo que insuficientes, que o Governo definiu para o

corrente ano serão atingidas. A estimativa rápida da evolução do PIB no 1º trimestre

do corrente ano, que o INE divulgará no próximo dia 13 de Maio, permitir-nos- á avaliar

melhor o ritmo de crescimento a que o PIB tem evoluído neste início de 2016. Sendo

de esperar a confirmação da continuação do abrandamento que se vinha já registando

desde o 2º semestre do ano passado.

CAE, 11 de Maio de 2016

José Alberto Lourenço

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