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19 de janeiro de 2018

Para a memória futura

2014- O Bloco Central das Negociatas .
" Passos Coelho acusou o PS de de «relação muito pouco transparente» com PT e BES, porque se sabe que «a PT funcionava como tesouraria do Grupo Espírito Santo (GES)». Ora o que se sabe hoje é algo muito diferente do que Passos Coelho diz: foi  durante a vigência deste governo que a PT aplicou quase a 100% os seus excedentes de tesouraria no Grupo Espírito Santo. 

Esta mistificação não impediu o pantomineiro-mor de afirmar ontem que pôs fim a uma cultura política de favorecimento do Estado a «grupos de influências»: «Deve-nos orgulhar saber que pusemos um ponto final nessa maneira de estar, nessa cultura política, nesse abuso sobre os portugueses que foi perpetrado durante mais de dez anos». Deduz-se que inclui os governos de Barroso e Santana Lopes, talvez porque Barroso esteve a marinar no BES até se alçar a São Bento e o governo de Barroso & Portas envolveu o BES na aquisição dos submarinos. 

Acontece que Passos Coelho não tem um pingo de vergonha na cara. Só essa circunstância permite a alguém — que tem fama de «abrir todas as portas» e que se envolveu numa ONG fantasma — ter o descaramento de falar nestes termos. 


Acresce que, se há alguém que durante anos apareceu associado à família Espírito Santo, é precisamente Pedro Passos Coelho. Já (alegado) primeiro-ministro, recebeu dez (10) telefonemas de José Maria Ricciardi, que foram interceptados pelo Ministério Público: «as escutas estão relacionadas com alegados crimes de tráfico de influências, corrupção e informação privilegiada no caso das privatizações da REN e da EDP.» Acontece que Pedro e José Maria, como as escutas o comprovam, se tratam por tu, algo que revela uma intimidade que não joga com as declarações actuais do alegado primeiro-ministro. 

Se houvesse memória no jornalismo, alguém recordaria a Passos Coelho que a única vez na história do regime democrático que um banqueiro se sentou à mesa do Conselho de Ministros para discutir um orçamento do Estado ocorreu precisamente com Passos Coelho. E o banqueiro convidado para o efeito chama-se Ricardo Salgado.

Mas só estranhará esta intimidade com a família Espírito Santo quem não conheça o percurso de Pedro Passos Coelho. Andava ele a «abrir portas» quando alguém se lembrou de o colocar na Fomentinvest, onde pontificavam Ilídio Pinho e Ângelo Correia — a par dos primos Espírito Santo Ricardo e José Maria. O jovem Pedro deu então um salto monumental sem saber ler nem escrever: de abridor de portas a director financeiro. E, no ano seguinte, Ricardo Salgado e José Maria Ricciardi renunciaram a ser vogais da Fomentinvest (embora o BES continue a ser accionista) e o jovem Pedro ocupou uma das vagas deixadas pelos primos. É só perder alguns minutos a consultar o site do Ministério da Justiça, comparando os dados recolhidos com o percurso do alegado primeiro-ministro enquanto jovem...

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