O contrato do governo assinado em Maio de 2018, pelo Movimento 5 Stelle e pela Lega, reitera que a Itália considera os Estados Unidos como o seu “aliado privilegiado”. Laço fortalecido pelo Primeiro Ministro Conte que, no encontro com o Presidente Trump em Julho, estabeleceu com os USA “uma cooperação estratégica, quase uma geminação, em virtude da qual a Itália torna-se a interlocutora privilegiada dos Estados Unidos para os principais desafios a enfrentar”. No entanto, simultaneamente, o novo governo comprometeu-se no contrato a “uma abertura à Rússia, para ser percebida não como uma ameaça, mas como um parceiro económico" e até mesmo como um “parceiro potencial para a NATO”. É como conciliar o diabo com a água benta.
De facto, é ignorada, tanto pelo governo como pela oposição, a estratégia USA de demonização da Rússia, destinada a criar a imagem do inimigo ameaçador contra o qual nos devemos preparar para lutar. Esta estratégia foi apresentada numa audiência no Senado, por Wess Mitchell, Sub-Secretário do Departamento de Estado para os Assuntos Europeus e Eurasiáticos: "Para enfrentar a ameaça proveniente da Rússia, a diplomacia USA deve ser apoiada por um poder militar que seja o melhor de todos e totalmente integrado com os nossos aliados e com todos os nossos instrumentos de poder " [1].
Ao aumentar o orçamento militar, os Estados Unidos começaram a “recapitalizar o arsenal nuclear”, incluindo as novas bombas nucleares B61-12 que, em 2020, serão instaladas contra a Rússia, na Itália e noutros países europeus. Os Estados Unidos - específica o Sub-Secretário - gastaram em 2015, 11 biliões de dólares (que aumentarão em mais 16, em 2019) para a “Iniciativa Europeia de Dissuasão”, ou seja, para reforçar a sua presença militar na Europa contra a Rússia.
Dentro da NATO, eles conseguiram um aumento de mais de 40 biliões de dólares, acrescido à despesa militar dos aliados europeus e estabeleceram dois novos comandos, dos quais o Comando Atlântico contra a “ameaça dos submarinos russos”, localizado nos USA.
Na Europa, os Estados Unidos apoiam, em particular, “os Estados na linha de frente”, como a Polónia e os Países Bálticos, e eliminaram as restrições para fornecer armas à Geórgia e à Ucrânia (ou seja, aos Estados que, com agressão à Ossétia do Sul e o putsch da Praça Maidan, desencadearam a escalada USA/NATO contra a Rússia).
O expoente do Departamento de Estado acusa a Rússia não só de agressão militar, mas de concretizar nos Estados Unidos e nos Estados europeus “campanhas psicológicas de massa contra a população para desestabilizar a sociedade e o governo”. Para realizar essas operações, que fazem parte do “esforço contínuo do sistema putiniano para o domínio internacional”, o Kremlin usa “o arsenal de políticas subversivas usado no passado pelos bolcheviques e pelo Estado soviético, actualizado para a era digital”. Wess Mitchell acusa a Rússia daquilo em que os USA são mestres: eles têm 17 agências federais de espionagem e subversão, entre as quais, o Departamento de Estado.
O mesmo Departamento que acaba de criar uma nova figura: "o Conselheiro Senior para as Actividades Malignas da Rússia" (ou SARMAT), encarregado de desenvolver estratégias inter-regionais.
Nesta base todas as 49 missões diplomáticas dos USA na Europa e na Eurásia devem concretizar, nos seus respectivos países, planos de acção específicos contra a influência russa.
Não sabemos qual é o plano de acção da Embaixada dos EUA na Itália. No entanto, sabê-lo-á o Primeiro Ministro Conte, na qualidade de “interlocutor privilegiado dos Estados Unidos”. Então, comunique-o ao Parlamento e ao país, antes das “actividades” da Rússia desestabilizarem a Itália.
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