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2 de setembro de 2018

Evolução da Economia Portuguesa

- Notas sobre as Contas Nacionais do 2º trm de 2018 -
O INE, divulgou hoje a informação desagregada que permite avaliar os vários contributos na óptica da despesa e da produção para a variação registada no PIB no 2º trimestre de 2018. Nos dados agora publicados o INE divulga ainda informação sobre a evolução trimestral do emprego, na óptica das Contas Nacionais.
Estes dados confirmam a estimativa rápida divulgada no passado dia 14 de Agosto que apontava para um crescimento do PIB no 2º trimestre de 2,3% em termos homólogos e de 0,5% em relação ao 1º trimestre do ano (variação em cadeia).
Confirma-se assim que a economia portuguesa há 8 trimestres consecutivos que cresce acima de 2%, situação que não se verificava desde final do século passado e ainda, que o 2º trimestre de 2018 regista uma evolução ligeiramente mais positiva do que o 1º trimestre do ano.  
Para o crescimento de 2,3% registado em termos homólogos, o INE considera que o contributo da procura interna, constituída pelo consumo privado, consumo público e investimento, foi de 2,9 pontos percentuais (p.p.), enquanto a procura externa líquida, constituída pelas exportações menos as importações contribuiu negativamente com -0,7 p.p.. No 1º trimestre de 2018 estes contributos tinham sido respectivamente de 2,6 p.p e -0,6 p.p., enquanto no 4º trimestre de 2017 tinham sido de 2,5 p.p. e -0,1 p.p.
A procura externa líquida, crescimento das exportações menos crescimento das importações, nos últimos quatro trimestres tem tido um contributo negativo para o crescimento do PIB, em termos homólogos, o que deve ser assinalado com alguma preocupação.
Entre as várias componentes da procura interna de referir que enquanto o consumo público registou uma variação homóloga positiva de 0,4%, já o consumo privado cresceu neste trimestre 2,6%, depois de no trimestre anterior ter crescido 2,1%, e o investimento cresceu 6,4% desacelerando o seu ritmo de crescimento, depois de no trimestre anterior ter crescido em termos homólogos 7,1%.
Do primeiro trimestre de 2018 para o 2º trimestre de 2018, a aceleração de 0,2 p.p. verificada no PIB em termos homólogos, resultou do melhor comportamento da procura interna, que de um contributo positivo de 2,6 p.p. no 1º trimestre de 2018, passou para 2,9 p.p. (+0,3 p.p.), enquanto a procura externa líquida acentuou o seu contributo negativo de -0,6 p.p. do 1º trimestre, para -0,7 p.p. no 2º trimestre de 2018.
A análise mais pormenorizada das exportações e das importações de bens e serviços agora divulgadas, quer a preços correntes, quer a preços constantes de 2011, mostra-nos que as importações e as exportações continuam a crescer a ritmo elevado registando mesmo uma aceleração do 1º para o 2º trimestre de 2018.
No 2º trimestre do corrente ano o crescimento real das importações de bens e serviço, supera o crescimento das exportações, apesar das exportações de serviços, graças ao sector do turismo, continuarem a crescer acima das importações. Chama-se, no entanto, à atenção para a grande desaceleração que se verificou no crescimento das exportações de serviços neste 2º trimestre de 2018, comparativamente ao mesmo período de 2017 (agora cresceram 6,7%, em igual período do ano passado tinham crescido 13,5%).
Dos dados agora divulgados, consta ainda informação sobre a forma como o crescimento do PIB neste trimestre se repercutiu no crescimento dos vários sectores económicos. O Valor Acrescentado Bruto Total cresceu em termos homólogos 1,9%, destacando-se dentro deste o sector dos serviços com um crescimento de 2,2% e o sector da construção com um crescimento de 1,8%. A indústria e a agricultura tendo também crescido neste período e em termos homólogos, cresceram apenas 0,7% e 0,8%.
O INE informa ainda que o emprego total no conjunto dos ramos de actividade da nossa economia, corrigido de sazonalidade, cresceu em termos homólogos no 2º trimestre de 2018, 2,1%, enquanto no 1º trimestre esse crescimento tinha sido de 3,1%. Em termos numéricos isto significa que em termos homólogos e na óptica das Contas Nacionais foram criados entre o 2º trimestre de 2017 e o 2º trimestre de 2018, 101 900 empregos.   
Pode afirmar-se que 2018 registou no 2º trimestre do ano um bom ritmo de crescimento na actividade económica, superando o ritmo do 1º trimestre do ano, o que é indissociável da nova fase da vida política nacional, iniciada com o afastamento do PSD e CDS do Governo e das políticas que tem sido desde então possível prosseguir, de devolução de rendimentos a trabalhadores, pensionistas e reformados, de melhoria nos apoios sociais, de subida contínua do salário mínimo, de redução da carga fiscal sobre os rendimentos do trabalho, interrompendo-se um longo período de recessão e estagnação da nossa economia e colocando-se o nosso país a crescer a um ritmo anual um pouco acima dos 2% ao ano. O crescimento do consumo das famílias e o seu impacto na melhoria do investimento impulsionaram a aceleração da actividade económica, com forte impacto quer na Procura Interna, quer na Procura Externa.
Assinale-se no entanto que a procura externa líquida tem nos últimos 4 trimestres tido um contributo negativo para o crescimento do PIB como resultado de um ritmo de crescimento em volume das importações superior ao das exportações.
Os resultados agora obtidos devem no entanto ser avaliados com alguma cautela, não apenas porque o PIB do nosso país em termos reais se encontra ao nível de 2008 (10 anos atrás), enquanto o investimento está ainda ao nível de 1997 (21 anos atrás), o que facilita a subida em termos homólogos, mas também porque dado o grau da destruição do nosso aparelho produtivo, a desejável aceleração da procura interna, por via do consumo e do investimento e o aumento das importações, estão inevitavelmente a conduzir ao novo desequilíbrio da nossa Balança Corrente.
A nossa Balança Corrente constituída por quatro balanças parcelares: a balança de bens ou mercadorias, a balança de serviços, a balança de rendimentos primários e a balança de rendimentos secundários, viu o seu défice agravar-se em 837 milhões de euros no 1º semestre do ano (+53,2%), comparativamente com igual período de 2017, o que não pode deixar de ser motivo de grande preocupação!!
A Balança Corrente é constituída por quatro balanças parcelares: a balança de bens ou mercadorias, a balança de serviços, a balança de rendimentos primários e a balança de rendimentos secundários.
Enquanto a balança de bens ou mercadorias se agravou no 1º semestre do ano em -1 062 milhões de euros, a balança de serviços viu o seu excedente crescer 662 milhões de euros. Para o agravamento da balança de bens ou mercadorias contribuíram fundamentalmente o agravamento registado no saldo das rubricas seguintes: máquinas e aparelhos, combustíveis, produtos químicos, plásticos e borrachas, metais comuns e produtos agrícolas. Em contrapartida a balança de serviços beneficiou uma vez mais da melhoria registada na rubrica das viagens e turismo cujo saldo passou de 3 953 milhões de euros no 1º semestre de 2017 para 4 637 milhões de euros no 1º semestre de 2018.
Ao agravamento da balança conjunta de bens e serviços no 1º semestre do ano, juntou-se o agravamento do défice da balança de rendimentos primários em 451 milhões de euros, que a ligeira melhoria da balança de rendimentos secundários em apenas 15 milhões de euros não conseguiu contrabalançar. Enquanto o agravamento da balança de rendimentos primários espelha o efeito conjunto da redução de dividendos recebidos do exterior, com o aumento dos dividendos pagos ao exterior entre Janeiro e Junho do corrente ano - só neste período saíram do nosso país por esta via 7 078 milhões de euros –, a ligeira melhoria da balança de rendimentos secundários deve-se ao contributo positivo das remessas de emigrantes na Balança Corrente.
Em síntese podemos dizer que no 1º semestre do ano a nossa balança corrente agravou-se consideravelmente porque, a melhoria registada na actividade económica que as Contas Nacionais Trimestrais do 2º Trimestre de 2018 agora divulgadas mostram, levou ao crescimento das importações a um ritmo superior ao das exportações, quer de mercadorias, quer de capitais, neste último caso bem visível no maior volume de saída de lucros e dividendos distribuídos.
Nada que não fosse previsível, dado o estado de destruição do nosso aparelho produtivo e a sua incapacidade de dar resposta às necessidades de consumo e investimento do país e, dado o domínio dos grandes grupos económicos das áreas dos serviços e comércio, do sector financeiro e das telecomunicações e transportes, por grandes investidores estrangeiros.
Não tenhamos ilusões, esta será uma tendência que ir-se-á aprofundar se ao nível da nossa política económica não foram adoptadas medidas de política económica de defesa da produção nacional, de substituição de importações por produção nacional, de promoção de exportações com elevado valor acrescentado e de retoma por parte do Estado do domínio dos principais sectores económicos.
Não é sustentável, mesmo que permaneça a conjugação de todos os factores favoráveis até agora verificados (preços matérias primas, desvalorização do euro, juros baixos e mercados externos a crescerem), a manutenção deste ritmo de crescimento para além do curto prazo, sem que consequentemente a nossa Balança Corrente se desequilibre e as nossas necessidades de financiamento do exterior voltem a acelerar fortemente.  
CAE, 31 de Agosto de 2018
José Alberto Lourenço

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