Carlos Carvalhas
Os desenganos do director do Público.
"(...)mas, para nosso
infortúnio, quem julgava que o
egoísmo contabilístico poderia ser
limitado em favor de um novo fôlego
para o futuro já percebeu que estava
enganado."
A visão idílica de uma UE que foi propagandeada , de coesão económica e social, de solidariedade , de nivelamento por cima nos direitos sociais e nos salários e rendimentos cede à realidade da UE dos interesses , das desigualdades, dos egoísmos , do dominio do capital financeiro .
"Vencida no essencial a crise do euro " diz ainda o director do Público , talvez com ilusões , a "UE tinha condições para projectar o seu poder no mundo" .
A crise do euro não está no essencial vencida , mas pura e simplesmente , tal como a crise da dívida , camuflada com a política do BCE de taxas de juro nulas ou negativas e com as sucessivas injecções de liquidez. A crise continua subjacente.
Os desequilibrios não se atenuaram como se pode ver no sistema de pagamentos "target 2" em que o Banco Central alemão continua a financiar a maioria dos Estados e até o BCE.
O euro é uma moeda simpática , mas "cara" para a nossa economia e os seus constrangimentos manifestam- se no crescimento económico e nas políticas orçamentais restritivas , nas travagens do investimento, nas injustas políticas salariais de contenção , instrumento para cobrir as sucessivas perdas de competitividade ditas de desvalorização interna.
A perda de autonomia monetária , a entrega ao capital estrangeiro da banca e de empresas básicas e estratégicas e a dependência dos humores políticos das empresas de Rating limitam cada vez mais a nossa soberania. E a soberania é democracia.
Os constrangimentos do euro e as suas consequências condicionam em grande parte a política necessária à resposta aos problemas económicos e socias , ao financiamento das funções sociais do Estado e do investimento produtivo, alargando o campo de justificado descontentamento de trabalhadores e significativas camadas sociais , abrindo o caminho à demagogia e à extrema direita.
Por alguma razão desde que entrámos para o euro o nosso crescimento médio anual é praticamente de estagnação(1%) e
o que sai em lucros e dividendos e juros para o exterior é muito superior a saldo liquido de todos os fundos
O Orçamento comunitário pela sua escassez nunca compensou a dinâmica de empobrecimento relativo que sempre se verifica numa união económica e monetária entre regiões e países menos e mais desenvolvidos , como todas as experiencias históricas o demonstram. Avançaram à revelia dos povos no federalismo mas os países mais beneficiados nunca o quiseram pagar . A redistribuição compensatória pelo Orçamento foi sempre muito insuficiente e ainda se agravou com os sucessivos alargamentos.
Com o "rombo de 75mil milhões de euros que o Brexit vai causar " o quadro financeiro plurianual que se está a negociar será ainda mais diminuto e com a atitude negativa dos países que mais beneficiam da UE demonstrada na proposta e nas negociações desta ultima cimeira tudo indica que as disparidades e desigualdades se vão acentuar, agravando a situação dos chamados países da coesão
com relevo para o nosso país.
O PS que não tenha ilusões . Com um Orçamento comunitário ainda mais irrelevante os problemas do nosso país , no plano económico, financeiro e social serão substancialmente agravados e uma política de continuação de recuperação e de melhoria de rendimentos ou minimamente de "esquerda" não passará de uma fantasia verbal
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