Linha de separação


20 de dezembro de 2021

Aos deputados do PS,PSD ,CDS... que no PE votaram futuras sansões contra a Rússia

 


Adultos precisam-se


Carlos Branco

Major-general e investigador  do IPRI-Nova.

Para lidar com o espetro deuma nova confrontação mi-

litar na Europa, onde a esta-bilidade estratégica se degrada dia-

riamente a olhos vistos. O catalisa-dor específico dessa confrontação

situa-se na linha que separa as for-ças ucranianas das forças rebeldes

pró-russas, na região do Donbass,onde se encontra metade do Exér-

cito ucraniano em posição para asatacar. A concentração de forças

russas na fronteira com a Ucrâniapretende dissuadir Kiev de dar

esse passo. A Rússia não atuará se aUcrânia não tentar retomar o con-

trolo do Donbass pela força.

Acossada pelas ameaças ao seu território colocadas pelos sistemas

antimíssil colocados próximo da sua fronteira, capazes de atingir

Moscovo e São Petersburgo, sub-marinos nucleares norte-america-

nos no norte da Noruega, e aumento das atividades navais da

Aliança no Mar Negro, Moscovo pretende garantir que a NATO

não vai continuar a expandir-se para Leste, nem vai continuar a

colocar sistemas de armas ofensivos próximo das suas fronteiras,

garantias que a Casa Branca não está disposta a dar.

Com a experiência de cinco invasões em três séculos, perpetra-

das por potências ocidentais, três no séc. XX, a Rússia aprendeu que

necessita de uma zona tampão para garantir a sua segurança. Por

isso, não permitirá a adesão da Ucrânia e da Geórgia à NATO,

nem que Aliança construa infraestruturas militares ou coloque ar-

mamento ofensivo nestes países.

Do mesmo modo, os EUA não permitirão que uma potência rival

estabeleça bases militares na América Central. Esta questão é exis-

tencial para a Rússia, pela qual se morre e se mata. Moscovo não vai

ceder nesta matéria. Se cedesse, ficaria numa situação de extrema

vulnerabilidade noutras regiões, nomeadamente no Cáucaso. Abri-

ria um precedente sem fim à vista.

Seria o fim da Rússia como potência. Os falcões em Washington

não querem compreender este problema e desvalorizam a sua im-

portância.

Como teria sido importante, que Washington e as potências euro-

peias tivessem pressionado Kiev a respeitar os acordos de Minsk, de

fevereiro de 2015, completamente ausentes da narrativa ocidental,

em que as autoridades ucranianasse comprometiam a garantir um

estatuto de autonomia a Donetsk e

Lugansk através de uma revisão da

Constituição, a declarar uma amnistia e a iniciar o diálogo com es-

tas duas regiões, algo que nunca fizeram. Independentemente das

nuances legais, é bom que nos convençamos de que a Rússia não vai

permitir a chacina da população russa do Donbass pelo regime xe-

nófobo e de laivos neonazis instalado em Kiev, que chegou ao poder

através de um golpe de estado, após derrubar um presidente elei-

to democraticamente.

Em vez de mediar as diferenças entre Kiev e os grupos rebeldes de

Lugansk e Donetsk, Washington mete lenha na fogueira, ameaça

Moscovo com sanções económicas e dá gás aos radicais revanchistas

ucranianos. Devemos estar cientes de que em caso de conflito haverá

apenas um ganhador. Era conveniente que Kiev, assim como os

europeus, percebesse que engros sará a lista dos perdedores. Por

isso, não é aconselhável provocálo. Deveria pensar duas vezes no

que se(nos) vai meter, porque a NATO não irá defender militar-

mente a Ucrânia. Poderá ser tarde quando descobrir que é apenas um

ator subsidiário de projetos geopolíticos alheios. ■

jornal Economico 17/12



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