A clique europeia esgotou os ansiolíticos
José Goulão
Trump,
como é natural em quem assume a chefia operacional do império, cuidará
com zelo da aplicação da «ordem internacional baseada em regras»,
cuidará das estratégias coloniais que estejam afinadas pelos interesses
imperiais e não deixará de desenvolver as suas próprias guerras.
Numa
espécie de espelho que reflecte o seu próprio estado de espírito, a
comunicação social do regime neoliberal e respectiva corporação do
comentariado diz e repete, autodiagnosticando-se, que a União Europeia
sofre «de ansiedade» perante a entrada em funções do novo presidente dos
Estados Unidos, Donald Trump.
Não
parece haver razões para duvidar. Os profissionais de farmácia poderão
confirmá-lo, avaliando o desgaste nos seus stocks de ansiolíticos e
confirmando simultaneamente estarmos perante mais um favor, este
involuntário, ao monopólio das grandes empresas de medicamentos.
A
situação inspira uma primeira nota. A decadente casta política da União
Europeia, tão arrogante em relação aos seus povos, é, afinal, um
concentrado de medos perante os respectivos patrões, neste caso
suscitados pela mudança de ocupante do trono do mais representativo e
visível de todos eles.
Em
boa verdade, a melhor explicação para o estado de ansiedade dos
governos formalmente eleitos e da máfia de burocratas não-eleitos da
União Europeia parece ser, analisando o trabalho do tentacular aparelho
de propaganda, um sentimento de orfandade pela partida do demente,
corrupto e belicista Joseph Biden, o chefe a quem os nossos submissos
governantes faziam a devida genuflexão quando o visitavam ou quando
este, em missão de presidência aberta para emanar ordens de comando,
tinha a deferência de ir ao seu encontro.
Quer
isto dizer que, em vez do conforto que, no caso de ser a escolhida, a
mãezinha Kamala Harris lhes assegurava, temem que Donald Trump seja o
padrasto malvado, capaz até, quem sabe, de os deixar desamparados
perante a selva cada vez mais disposta a atormentar a vida aos que, com
tanto zelo, cuidam deste encantador jardinzinho.
Será
que os governos europeus, para os quais a palavra «aliados» é um
sinónimo de «servidores» e «criados», receiam ser ainda mais
despromovidos, talvez até à condição de párias e indigentes obrigados a
tomar conta da própria vida esgravatando no lixo pestilento que fazem,
indefesos perante os «bárbaros»?
Se
assim fosse, haveria mais do que justificadas razões para a desenfreada
corrida aos ansiolíticos. De facto, a casta serviçal que sempre teve as
costas quentes para desenvolver tropelias através do mundo tentando
convencer-nos de que receberia o devido dízimo do quinhão da rapina, foi
agora assaltada pelo medo de ter de cuidar da sua própria defesa, ou
pagá-la bem mais cara.
Trump será mesmo o padrasto?
Os
autoritários (para os seus povos) governantes europeus, cada vez mais
desleixados no uso dos filtros da mentira, comportando-se segundo éticas
rasteiras e governando dentro de um universo paralelo, são capazes,
porém, de estar a sofrer antes do tempo.
Embora
sejam nulidades em História real, isso não os impede de revisitarem os
cinco anos em que Trump viveu na Casa Branca e encontrarem aí razões
para não estarem tão inquietos.
Por
exemplo, e como devem estar lembrados, Trump inventou um presidente
fascista na Venezuela e organizou tentativas de golpes de Estado neste
país; para sossego dos dirigentes europeus, sempre tão incomodados com
processos eleitorais e governamentais que não cumpram as normas
políticas que dogmatizaram como únicas, é natural que o novo/antigo
presidente norte-americano retome o caminho, insistindo no golpismo em
Caracas e «elegendo» como presidente o mentor e operacional de
esquadrões da morte sul-americanos que perdeu as últimas eleições.
Bruxelas e os 27 não precisam de inquietar-se.
Nada
indica também que Trump tencione amenizar o bloqueio contra Cuba,
ressuscitar a ideia de referendo sobre os direitos nacionais do Saara
Ocidental, contrariar a ideia de «transição verde» à moda de Bruxelas,
neutralizar grupos terroristas como a al-Qaida ou o Isis, tão úteis aos
«interesses» dos 27, onde quer que sejam chamados a desempenhar
criminosas missões de procuração, como ainda bem recentemente aconteceu
na Síria.
O patrocínio
por Trump dos arremedos de aproximação entre o Sul e o Norte da Coreia
ficou-se por aí; a normalidade regressou e até refinou, desta feita com
um recente golpe de Estado «pró-americano» no pró-americano regime de
Seul. Não existem, portanto, razões para sobressaltos na União Europeia.
Uma
palavra especial para a chamada «questão israelo-palestiniana»,
eufemismo muito conveniente para usar em vez de genocídio e limpeza
étnica por aquelas almas tão sensíveis e motivadas pelos direitos
humanos, mas que viram a cara aos rios de sangue e às chacinas enquanto o
racismo sionista defende «os nossos interesses», a «nossa civilização»
e, claro está, a «tradição humanista» no Médio Oriente. Também nesta
matéria nada justifica as ansiedades dos europeus: Netanyahu e os seus
homens de mão do «sionismo revisionista» continuarão de pedra e cal,
provavelmente com posições e impunidade reforçadas e, por isso, não
deixarão de alimentar, agora em condições de maior atrevimento, porque
têm as costas ainda mais quentes, a eterna esperança da guerra contra o
Irão.
O anunciado
cessar-fogo em Gaza poderá provocar algumas convulsões no interior do
gang terrorista da cúpula sionista mas, mais dia menos dia, levará o
caminho dos muitos estabelecidos anteriormente porque o essencial, a
estratégia de anexação dos territórios ocupados, sobrepor-se-á ao
acessório. Pode a União Europeia continuar sossegada, emitindo
episodicamente os canónicos protestos verbais, certa de que não
perturbarão Israel na sua tarefa de defender «a nossa civilização» em
tão atribulada região. Afinal, como garante o embaixador sionista em
Lisboa, sossegando tantas e tão boas consciências, não existe fome «e
até há gordos» em Gaza. Será que o verdadeiro problema das operações de
extermínio é o de criarem obesidade?
«Uma
palavra especial para a chamada "questão israelo-palestiniana",
eufemismo muito conveniente para usar em vez de genocídio e limpeza
étnica por aquelas almas tão sensíveis e motivadas pelos direitos
humanos, mas que viram a cara aos rios de sangue e às chacinas enquanto o
racismo sionista defende "os nossos interesses", a "nossa civilização"
e, claro está, a "tradição humanista" no Médio Oriente.»
Nestes
e outros assuntos, que merecem ser escalpelizados com tempo e espaço
que não existem em horas de solenidade, de posse e juramentos – coisas
que os poderes ocidentais muito estimam e cumprem com especial
fidelidade – as ansiedades da União Europeia têm raízes bem mais
prosaicas, que nada ou pouco terão a ver com Trump, a não ser mais um ou
outro buraco no casco do navio em rota de naufrágio por única e
exclusiva responsabilidade do carácter artificial, oportunista e, no
limite, totalitário da mítica «integração europeia».
Trump,
como é natural em quem assume a chefia operacional do império, cuidará
com zelo da aplicação da «ordem internacional baseada em regras»,
cuidará das estratégias coloniais que estejam afinadas pelos interesses
imperiais e não deixará de desenvolver as suas próprias guerras, mesmo
que estas sejam olhadas com reservas algures neste ou naquele Estado
europeu. Mas não foi sempre assim desde Nixon até hoje, no Vietname, na
Operação Condor e suas congéneres acções fascistas na América Latina, no
Afeganistão, no fabrico do terrorismo dito «islâmico», na Jugoslávia,
na Somália, na África Central e Austral, no Iraque, na Líbia, no Iémen,
na Síria, até na pobre, inofensiva e indefesa Grenada? E de que serviram
as vozes discordantes, tímidas e envergonhadas, as dos governos, mais
fortes e poderosas, mas inaudíveis, as dos povos? Se o império considera
imprescindível uma guerra, então faz-se e pronto, com Trump ou uma
qualquer Kamala ou Obama, manifestem ou não opiniões transitoriamente
dissonantes este ou aquele mais atrevido membro da quase sempre afinada,
por inerência, claque europeia.
Todos
estes assuntos superficialmente inventariados fazem de Trump muito mais
um exigente paizinho dos nossos governantes do que um maléfico
padrasto.
Os imperadores
têm, desde tempos imemoriais, os seus naturais caprichos e
idiossincrasias; e este que agora ocupa o trono não é excepção,
cultivando peculiaridades muito próprias de quem acumula o cargo de
presidente com o de mega-imperador do imobiliário. O que se percebe pela
intenção de preferir comprar bocados do mundo em vez de os conquistar, o
que aliás nada traz de novo, pelo que não se compreende o espanto que
por aí vai.
«Mas não foi
sempre assim desde Nixon até hoje, no Vietname, na Operação Condor e
suas congéneres acções fascistas na América Latina, no Afeganistão, no
fabrico do terrorismo dito "islâmico", na Jugoslávia, na Somália, na
África Central e Austral, no Iraque, na Líbia, no Iémen, na Síria, até
na pobre, inofensiva e indefesa Grenada?»
O
império, mesmo em tempos de mais limitadas capacidades de afirmação e
menor submissão de amigos e aliados não deixou de arrendar o Alasca aos
czares, esquecendo-se até de pagar a renda e anexando-o como Estado sem
que os actuais e tão ameaçadores senhores de Moscovo reclamem; comprou a
Louisiana a França, a Florida a Espanha, o Nevada, Utah, Arizona e o
Vale de Mesilla (compra de Gadsden) ao México; o Oregon ao Reino Unido;
as Filipinas a Espanha, declaradas independentes, mas pouco, em 1946; e
as Ilhas Virgens à Dinamarca, um precedente encorajador para a
pretendida aquisição da Gronelândia. A Zona do Canal do Panamá foi
arrendada por 10 milhões de dólares mais uma prestação/gorjeta anual de
250 mil dólares; a cedência do território e das instalações ao Panamá,
formalizada em 1999, parece ter, afinal, direito de recompra levando em
conta as recentes intenções proclamadas por Trump. Nesses outros tempos
de grandes aquisições territoriais registaram-se também episódios da
estratégia depois tornada mais habitual, a anexação – formal ou não – de
territórios, nações e Estados como o Texas, Hawai e Porto Rico. Falhou
Cuba, fracasso que sucessivos imperadores raivosos ainda não conseguiram
digerir.
Nacionalismo e globalismo
Donald
Trump é um nacionalista na sua perspectiva de que o controlo imperial
deve ser exercido com base numa «América outra vez grande», reforçada e
reorganizada internamente (segundo os seus pontos de vista
descaradamente fascizantes) para poder dominar o planeta sem dar
satisfações aos «aliados», obrigando-os até a assumir as suas tarefas de
autodefesa.
Trump é
também um globalista, mas não nos termos de uma «fraternidade» mundial
idílica (para a ortodoxia neoliberal) num planeta privatizado e sem
fronteiras onde «nada teremos e seremos felizes», governado por uma
reduzida cúpula sem rosto da máfia dona de tudo.
Para
o novo imperador, o planeta global terá fronteiras, as dos Estados
Unidos da América, país que tudo decidirá em termos de governo. Embora
não seja um apparatchik republicano como os Bush's, por exemplo, Trump
está rodeado por eles – Mark Rubio, Elliott Abrams e outros do núcleo
dos mais indisfarçados fascistas – e revê-se objectivamente na «doutrina
Wolfowitz», segundo a qual Washington não poderá permitir, em caso
algum, o crescimento de uma potência capaz de fazer sombra ao império
norte-americano, como aconteceu com a União Soviética. Tal não pode
suceder nem mesmo com a União Europeia; e todos os presidentes
norte-americanos têm tratado zelosamente disso nos últimos 35 anos,
rebaixando gradualmente a meros serviçais os membros da ninhada dos 27.
Donald Trump será intratável nesse aspecto, mas a clique europeísta não
deveria sequer estar ansiosa porque já provou desse veneno no primeiro
consulado do regressado presidente.
Matéria
mais delicada, como sempre desde que se abordam as posturas de Trump, é
da NATO, organização pela qual o novo presidente, diz-se, não terá
grandes simpatias.
Isso
não é verdade. Para começo de conversa registemos que a Aliança
Atlântica sobreviveu ao anterior mandato de Trump e alcançou até umas
finanças mais estáveis porque apreciável número de Estados membros
responderam afirmativamente ao «apelo» do comandante em chefe para
contribuírem com os famosos dois por cento do PIB. Aliás, quem chegou a
liquidar a NATO, declarando-a em «morte cerebral», foi o ainda
presidente Macron, cada vez mais perdido nas derivas do hexágono
francês, outrora «motor» da União Europeia; e como a Alemanha está
igualmente com a sua «força motriz» reduzida à mais ínfima potência,
pouco mais é preciso para se entender o estado comatoso da «integração
europeia». A locomotiva gripou.
«Trump
é também um globalista, mas não nos termos de uma «fraternidade»
mundial idílica (para a ortodoxia neoliberal) num planeta privatizado e
sem fronteiras onde «nada teremos e seremos felizes», governado por uma
reduzida cúpula sem rosto da máfia dona de tudo.»
A
NATO é o instrumento militar fundamental do expansionismo e do
militarismo imperial, pelo que não faria sentido Trump desvalorizar uma
organização que lhe permite fazer as guerras que desejar poupando
soldados e despesas dos Estados Unidos e fazendo recair esses esforços
sobre os outros Estados membros, desde que assegure os postos de comando
determinantes. Não nos recomenda o secretário geral da Aliança, o
fascistóide Mark Rutte, que todos devemos ter «uma mentalidade de
guerra»?
Como
nacionalista prático, porém, Trump está muito menos disposto do que os
seus antecessores a supostamente sacrificar e onerar a saúde económica e
financeira dos Estados Unidos com os custos da responsabilidade de
«defender a Europa».
Para
grande desespero e visível ansiedade das medíocres e náufragas chefias
dos 27, Trump não parece minimamente incomodado com as patéticas
efabulações sobre a sempre iminente cavalgada militar russa até à costa
ocidental de Sagres a Viana do Castelo, com eventual instalação de uma
base estratégica avançada nas Berlengas. Em primeiro lugar , porque o
novo presidente norte-americano, como grande parte dos que o
antecederam, nem sabe onde ficam estes lugares; e depois porque não está
interessado em dar crédito a tais patranhas para manter e sustentar
além-mar dispendiosos e volumosos dispositivos militares com a missão de
guardar as costas a quem, na sua pragmática opinião, tem obrigação de
fazê-lo por conta própria, se quer ser alguém no mundo.
Chegámos ao busílis da questão, agravado com a situação na Ucrânia, como pode perceber-se pela especulação que aí vai.
Trump,
obviamente, pretende que a NATO cerque e asfixie a Rússia – e a
esfrangalhe em múltiplos Estados fantoches, se possível – mas exige que
os esforços para concretizar esse objectivo comum sejam ainda mais
partilhados dentro da aliança.
Se
a Europa insiste em defender o falido nazi-banderismo de Zelenski «até
que a Ucrânia vença» – o que, no estado actual das coisas, só acontecerá
depois do dia de são nunca – isso é lá com ela, pensará Trump. Ele terá
outra estratégia para lidar com o assunto; qual será? Realisticamente,
pouco se pode adiantar, além de vagas especulações sobre os ténues
indícios suscitados pela sua insistente mendicância de uma reunião com
Vladimir Putin. Amanhã também não será a véspera desse dia porque,
apesar das sempre valiosas e muito úteis elucubrações do comentariado, o
assunto parece não ter passado ainda de meros «contactos técnicos»
Há
uma coisa, porém, que a União Europeia e, pelo menos, os membros
europeus da NATO devem ter em consideração: com os arsenais vazios
depois de terem enviado não só os monos como os engenhos militares mais
modernos e de tecnologia mais apurada para serem transformados em sucata
através de todo o imenso território da Ucrânia, esses países serão
obrigados a rearmar-se e a comprar aquilo de que necessitam, e também de
que não necessitam, como estabelece o ritual atlantista. O esforço terá
de ser ainda mais empenhado, sobretudo se as novas responsabilidades de
«autodefesa» forem combinadas com a sangrenta teimosia em apoiar o
regime de Kiev até ao último ucraniano.
Nessa
perspectiva, é natural que a entrada de Trump em funções venha abalar a
adquirida convicção das tão encrespadas nulidades europeias de que o
paizinho americano estará sempre disponível para vir socorrê-las dos
maus humores dos russos que povoam os seus pesadelos.
Se
soubessem um pouco de História real e não vivessem voluntariamente
embalados pelas historietas que novos, velhos e manhosos «historiadores»
cozinharam sobre a Segunda Guerra Mundial, os nossos «europeístas» de
turno saberiam que os seus antecessores «democratas liberais», depois de
terem confraternizado com Hitler contra a União Soviética e serem
arrastados para um conflito que os arrasou, só puderam contar com a
ajuda dos benfeitores de Washington quando estes se asseguraram de que o
Exército Vermelho e os povos soviéticos tinham ferido de morte o
aparelho imperial nazi. E então chegou a vitoriosa cavalaria, como tão
bem nos conta Hollywood.
O
saber de experiência feito, como cantava o Poeta, e a cumplicidade dos
nossos incompetentes e desumanos dirigentes com as velhas e novas formas
de fascismo e nazismo, de Kiev a Telavive, garantem-nos que da História
apenas usam as versões falsificadas e deturpadas, tornadas oficiais,
como instrumentos da sua governação de mentira e manipulação.
Isso
significa, repete-se, que depois de se desarmarem para armarem o
nazismo de Kiev e assim sacrificarem inutilmente milhões de ucranianos –
porque as propostas realistas de paz estiveram nas mãos dos contendores
antes de a tragédia atingir as dimensões calamitosas de hoje – os
dirigentes europeus vão ter de repor os arsenais. Como? Bem, nesta
matéria o mercado não é assim tão independente e soberano; e a «mãozinha
invisível» cuidará de proceder a manobras pouco ortodoxas para corrigir
a livre concorrência. As compras serão feitas obrigatoriamente aos
grandes gigantes da indústria da morte, sobretudo norte-americanos,
desde os monos há muito condenados à reciclagem até às maravilhas
tecnológicas de extermínio em massa, mesmo assim inúteis em caso de
apocalipse nuclear.
Os
submissos dirigentes da União Europeia podem ter uma certeza: com Trump
não haverá saldos, atenções ou descontos em compras por atacado; também
não haverá alternativas: os fornecedores terão de ser os da NATO e aos
preços por eles estabelecidos sem quaisquer restrições ao livre
arbítrio.
MAGA, Make
America Great Again, tornar a América grande de novo, lembram-se? É a
receita mágica de Trump, o neoliberalismo puro e duro como o de qualquer
outro presidente, mas com o seu toque de nacionalismo num país onde,
para a esmagadora maioria da população e a quase totalidade dos seus
eleitores, não existe mundo para lá das suas fronteiras. Não se
reconhecem aliados, apenas clientes; não pode haver restrições à
obtenção de lucros máximos; é cada um por si numa competição selvagem e
selvática que terá de ser ganha pelo mais forte por definição, a única
nação indispensável, excepcional, e que nunca poderá deixar de existir,
os Estados Unidos da América. Esta afirmação de unipolaridade sem
sofismas será elevada à máxima potência, em primeiro lugar à custa dos
aliados nos campos económico, financeiro, militar e político
«MAGA,
Make America Great Again, tornar a América grande de novo, lembram-se? É
a receita mágica de Trump, o neoliberalismo puro e duro como o de
qualquer outro presidente, mas com o seu toque de nacionalismo num país
onde, para a esmagadora maioria da população e a quase totalidade dos
seus eleitores, não existe mundo para lá das suas fronteiras.»
Recorrendo
ao histórico da primeira administração, Trump também não dará descanso
aos dirigentes dos países «relapsos» que não cumprem o mínimo de dois
por cento do PIB para financiar a NATO. Há que sugar ainda mais os
contribuintes, com a vantagem de ficarem ainda mais cientes da
obrigatória «mentalidade de guerra».
Nada
disto poderá ser surpresa para a União Europeia e os países europeus da
NATO. Não se justifica qualquer ansiedade, já sabiam com o que deveriam
contar depois de tanto se rebaixarem perante Washington, a pontos de o
chanceler Scholz da outrora determinante Alemanha ter acolhido e
homenageado o presidente norte-americano, no caso Joseph Biden, depois
de este lhe ter prometido, e cumprido, destruir o gasoduto Nord Stream
II; obrigando-o assim a comprar gás natural poluidor norte-americano a
um preço cinco vezes mais elevado do que o anteriormente consumido, de
origem russa. Com este comportamento, não há dignidade nem economia que
resistam; e a realidade está à vista, dispersando por toda a Europa uma
crise de intensidade crescente e sem limites previsíveis
Ao
fim e ao cabo, os dirigentes da União Europeia têm razões para se
encharcarem em ansiolíticos. Mas não culpem Trump por isso: por um lado,
já o conheciam e, apesar da imprevisibilidade e da irresponsabilidade
que o caracterizam, a situação que aí vem não é mais do que um
desenvolvimento da contínua degradação decorrente da sua submissão
repelente – dramática para os povos do continente – aos presidentes
norte-americanos, sejam eles quem forem.
As
verdadeiras causas da vaga de ansiedade que atravessa a clique
governante europeia são o seu comportamento, o seu desrespeito pelas
pessoas, a viciação escandalosa do funcionamento da democracia, a sua
incapacidade inata para ser séria, transparente e falar verdade.
O
resultado só poderia ser a tragédia anunciada que já percorre todo o
continente europeu – isolado, incapaz, improdutivo, desindustrializado,
sem qualquer influência nas grandes mudanças que estão a acontecer no
mundo e o irão atropelar.
Nestes
tempos, a inércia, o conformismo ou mesmo alienação de sectores
populares tendencialmente progressistas e democráticos é um grave perigo
que urge sanar para travar a ameaça de uma hecatombe social e humana.
Abril,Abril
José Goulão
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