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29 de janeiro de 2025

A falência do liberalismo

 O liberalismo, doutrina oficial da UE, aceite de forma acéfala por partidos ditos socialistas, trabalhistas, social-democratas, chegou ao ponto de exibir a sua falência total. Porém, transformado em crença as evidências e a racionalidade tornam-se inúteis. Os partidos do sistema ("arco da governação") vão-se sucedendo criticando-se uns aos outros e basicamente fazendo as mesmas políticas. Os partidos mais à direita aproveitam para reclamar políticas (ainda) mais à direita, ou seja, mais liberalismo.

Claro que nada disto seria possível sem a colaboração ativa dos grandes media em que nenhum jornalista (se se preferir "jornalista") tem a ousadia de perguntar por evidências que justifiquem o que dizem resultar das medidas que reclamam. Aliás a resposta viria debitando os axiomas (dogmas) da "economia de mercado", como verdades de revelação celeste.

Mas as evidências estão por aí. Em 2024, os 500 mais ricos do mundo viram sua riqueza disparar em 10 milhões de milhões de dólares, com os 10 mais ricos aumentando 1,5 milhões de milhões em termos de património líquido (Bloomberg). Mas 2024 não foi exceção, as políticas liberais funcionam para isto - e para a guerra.

Segundo um relatório da OXFAM de 2023, o 1% mais rico sacou quase dois terços de toda a nova riqueza nos últimos dois anos. A inflação degradou os salários de pelo menos 1,7 mil milhões de trabalhadores. As empresas de alimentos e energia mais que duplicaram os lucros em 2022, pagando 257 mil milhões de dólares a acionistas, mas mais de 800 milhões de pessoas foram para a cama com fome. As empresas da Global Fortune 500 aumentaram seus lucros de 820 mil milhões de dólares em 2009 para 2,1 milhões de milhões em 2019, portanto 2,5 vezes.

O 1% mais rico ganhou 74 vezes mais riqueza do que os 50% mais pobres nos últimos 10 anos; 1,2% da população detém 47,8% da riqueza global; 52,2% detém 1,1%. Estes lucros cada vez mais altos são um dos principais contribuintes para a crise do custo de vida. A explicação do liberalismo para a inflação é que ocorre quando a procura excede a oferta, isto é, os trabalhadores estão a ganhar acima das possibilidades da economia, a ganhar demais...

Porém, esta ordem mundial liderada pelos EUA está sendo desacreditada em várias frentes. Economicamente, o Ocidente está a falhar com desigualdade crescente, estagnação, falta de dinamismo na inovação, perdendo para o Sul Global liderado pela China.

O senador independente Bernie Sanders critica o poder político dos ultramilionários nos EUA, argumentando que o país está em plano inclinado. Elon Musk, Jeff Bezos e Mark Zuckerberg, o trio mais rico, possuía mais riqueza do que a metade mais pobre dos EUA - mais de 165 milhões de pessoas. A classe trabalhadora luta para atingir as “necessidades básicas”, enquanto os ultraricos compram iates, mansões e ilhas particulares. Mais de 60% da população dos EUA vive de salário em salário, milhões trabalham por salários de fome, 85 milhões não têm seguro ou têm seguro insuficiente, mais de 60 000 morrem em cada ano porque não conseguem ir ao médico na altura certa.

Seis grandes corporações de media possuem 90% do que o povo americano vê, ouve e lê”, determinam o que é "importante", o que discutimos, o que é "sem importância" e o que ignoramos. Claro que por aqui na UE é a mesma coisa, como dedicados vassalos do hegemónico.

Para Chris Hedges, "a ideologia do neoliberalismo e do capitalismo global é uma grande fraude. A riqueza do mundo, em vez de ser distribuída equitativamente, como os neoliberais prometeram, foi canalizada para as mãos de uma elite oligárquica voraz, alimentando a pior desigualdade económica desde o início do século XX. O neoliberalismo, apesar de sua promessa de construir e difundir a democracia, rapidamente destruiu regulamentações e esvaziou os sistemas democráticos para transformá-los em monstros empresariais."

"Usam clichés e slogans, a maioria absurdos e contraditórios, para justificar a sua ganância e desejo de poder. O culto do eu domina a paisagem cultural. Este culto tem em si os traços clássicos dos psicopatas: charme superficial, grandiosidade e autoimportância; uma necessidade de estímulo constante, uma propensão para mentir, enganar e manipular, e a incapacidade de sentir remorso ou culpa. Essa é, obviamente, a ética promovida pela oligarquia. É a ética do capitalismo irrestrito. É a crença equivocada de que estilo pessoal e promoção pessoal, confundidos com individualismo, são o mesmo que igualdade democrática."

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