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23 de dezembro de 2021

A lei de Murphy na geopolítica

 Qualquer quadro técnico conhece, até por experiência própria, que "se alguma coisa pode correr mal, há de correr". E a probabilidade é tanto maior quanto maior for incompetência ou inconsciência (que para o caso é o mesmo). Ora é o que também se pode aplicar à situação internacional, à atual questão de guerra e paz. Que pensar quando Putin diz que a situação está a ir continuamente de mal a pior, que a Rússia tem de responder a cada passo (na sua direção) e não tem por onde recuar.

As tensões político militares na Europa aumentam e cada parte NATO-Rússia acusam-se mutuamente de serem agressores. A corrida aos armamentos e a desconfiança acentuam-se, além do papel dos media na diabolização do adversário. 

As despesas militares dos EUA para 2022 sobem para o astronómico montante de 778 mil milhões de dólares. A Doutrina Wolfowitz, como divulgada pelo The New York Times, mostrou que após o fim da URSS os EUA resolveram prevenir a todo custo o surgimento de outra superpotência, dando início a uma nova era sem precedentes de expansionismo militar e guerras de agressão. Por seu lado, Moscovo investirá 3,5 mil milhões de dólares nos próximos anos para desenvolver e implementar novas tecnologias militares capazes de combater com eficácia ameaças militares. Moscovo acusa a NATO de encorajar as autoridades de Kiev a provocar a Rússia e procurar uma solução militar para o Donbass. “Se o Ocidente não pode conter a Ucrânia - e realmente a encoraja - é claro que tomaremos todas as medidas necessárias para garantir nossa segurança”, afirmou em novembro o ministro Lavrov.

A Rússia apresentou um conjunto de propostas com a intenção de "passar de um cenário militar ou técnico-militar para um processo político visando reforçar a segurança dos países da área Euro-Atlântico e Eurásia. Se isso não for alcançado "também passará a criar contra-ameaças, mas será tarde demais para nos perguntarem por que tomamos essas decisões e por que implantamos esses sistemas." Há a convicção de que se a NATO implantar sistemas anti-mísseis ou outras armas estratégicas na Ucrânia, Moscovo lançaria um ataque cirúrgico para destruí-los.

Numa reunião com altos comando militares, Putin disse que a atitude dos EUA e do seu bloco militar em relação à Rússia é impulsionada por “uma análise incorreta” do status quo. Segundo ele, o Ocidente acredita que pode adotar uma “linha agressiva” em relação a Moscovo devido à perceção de ter vencido a Guerra Fria. A Rússia tem “todo o direito” de tomar medidas para se defender e apontou uma série de novos sistemas de armas que estão a ser testados. A Rússia está “seriamente interessada” em obter “garantias legais firmes e confiáveis” que excluíssem a NATO de avançar mais para o Leste Europeu, bem como a implantação de “sistemas de armas de ataque ofensivo” nas suas proximidades. No entanto, mesmo se os EUA ofereçam tais garantias, seria difícil confiar que as autoridades americanas as manteriam. Putin, como prova, apontou o Tratado de Céus Abertos, o Tratado de Mísseis Antibalísticos e documentos desclassificados em 2017, que mostram como as autoridades americanas, britânicas e alemãs ofereceram garantias verbais ao Kremlin na década de 1990 de que a NATO não se expandiria para as nações do Leste Europeu, antes de admitir países como como Polónia, Lituânia, Letónia e Estónia.

Precisamos de garantias juridicamente vinculativas de longo prazo. Mas "sabemos muito bem: sob vários pretextos, inclusive com o propósito de garantir sua própria segurança, que atuam a milhares de quilómetros de distância de seu território nacional”. “Quando o direito internacional e a Carta das Nações Unidas interferem, eles declaram que tudo está obsoleto e desnecessário.” Putin enfatizou que a Rússia está pronta para tomar medidas tanto militares quanto técnicas em resposta ao que considera as medidas hostis tomadas por Washington. A Rússia promete 'resposta militar' a qualquer nova expansão da NATO As propostas da Rússia referem a movimentação de militares e equipamentos e a exigência de que os pedidos da Ucrânia para se tornar membro do bloco não sejam atendidos. Um documento separado pede que os atuais membros da NATO desistam de qualquer atividade militar no território de Kiev, bem como na Europa Oriental, Sul do Cáucaso e Ásia Central.

Se isto for considerado pela NATO como um ultimato, estão criadas as condições para uma "tempestade perfeita".

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