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24 de dezembro de 2021

Quem quer a paz , quem quer a guerra ?

"Proposta agressiva" russa: Moscovo propõe a paz

Há vários meses que os dirigentes da Aliança Atlântica denunciam a preparação de uma invasão russa da Ucrânia. No entanto, Moscovo nega-o e justifica, sem dificuldade, os seus movimentos de tropas. Finalmente, o Conselho de Segurança russo acaba de clarificar publicamente a sua posição. Publicou um projecto de Tratado de Paz que satisfaria qualquer pessoa sensata. No entanto, desta vez, é Washington que já não responde, porque este projecto evidencia a sua duplicidade.

Federação Russa entregou aos Estados Unidos da América, em 15 de Dezembro, o projecto de um Tratado e de um Acordo para aliviar a tensão crescente entre as duas partes. Os dois documentos foram tornados públicos, em 17 de Dezembro, pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros russo [1]. O rascunho do Tratado estipula, no Artº 1, que cada uma das partes "não empreenda qualquer acção que afecte a segurança da outra parte" e, no Artº 2º, que "procurará assegurar que todas as organizações internacionais e alianças militares em que participe, adiram aos princípios da Carta das Nações Unidas".

No Artº 3, as duas partes comprometem-se "a não utilizar os territórios de outros Estados com o objectivo de preparar ou realizar um ataque armado contra a outra parte". O Artº 4 prevê, também, que "os Estados Unidos não estabelecerão bases militares no território dos Estados da antiga URSS, que não são membros da NATO" e "evitarão a adesão de Estados da antiga URSS à NATO e impedirão a sua expansão para o Leste". No Artº 5 "as partes irão abster-se de destacar as suas forças armadas e armamentos, inclusive no âmbito das alianças militares, em áreas onde tal destacamento possa ser compreendido pela outra parte como uma ameaça à sua segurança nacional". Assim, "devem abster-se de fazer voar bombardeiros equipados com armas nucleares ou não nucleares e de posicionar navios de guerra em áreas, fora do espaço aéreo nacional e das águas territoriais, a partir das quais possam atacar alvos no território da outra Parte".

No Artº 6, as duas partes comprometem-se "a não utilizar mísseis terrestres de médio ou curto alcance fora dos seus territórios nacionais, ou em áreas dos seus territórios a partir das quais tais armas possam atacar alvos no território da outra parte". Finalmente, o artigo 7º prevê que "as duas partes abster-se-ão de utilizar armas nucleares fora dos seus territórios nacionais e devolverão aos seus territórios as armas já instaladas no exterior" e que "não formarão pessoal militar e civil de países não nucleares na utilização de armas nucleares, nem efectuarão exercícios que envolvam a utilização de armas nucleares".

O projecto de Acordo estabelece os procedimentos para o funcionamento do Tratado, com base no compromisso de que as duas partes "resolverão todos os litígios nas suas relações por meios pacíficos" e "utilizarão os mecanismos de consultas bilaterais e de informações bilaterais, incluindo as linhas directas para contactos de emergência". O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo comunica que os EUA receberam explicações detalhadas sobre a lógica da abordagem russa e espera que, num futuro próximo, os EUA tenham conversações sérias com a Rússia sobre esta questão crítica.

Cala-se, por agora, a parte americana. No entanto, faz-se ouvir a Voz da América, o megafone multimédia de Washington que transmite em mais de 40 línguas para centenas de milhões de pessoas em todo o mundo, diz que "muitos peritos estão preocupados com esta jogada da Rússia, que quer explorar o fracasso das negociações como pretexto para invadir a Ucrânia". Cala-se, por agora, a NATO, à espera de ordens de Washington. Cala-se a Itália, por não ser a destinatária directa da proposta russa, mas é parte na discussão: entre as armas nucleares que os Estados Unidos da América expediram para fora do seu território encontram-se as bombas B-61 instaladas em Ghedi e Aviano que, em breve, serão substituídas pelas bombas B61-12, mais mortíferas, em cuja utilização os nossos militares estão a ser treinados, apesar do facto da Itália ser oficialmente, um país não nuclear. Os EUA estão também a preparar-se para instalar em Itália, novos mísseis nucleares de alcance intermédio.

Enquanto os meios de comunicação social fazem descer uma quase total capa de silênco sobre a proposta russa, os grupos parlamentares ignoram-na como se nada tivesse a ver com a Itália, que está exposta a perigos crescentes como base avançada das forças nucleares dos EUA contra a Rússia. Pelo menos, reservem tempo para ler em poucos minutos, o projecto que a Rússia entregou aos EUA para abrir as negociações e tenham a coragem política de expremir publicamente o vosso juízo. Se for negativo, expliquem porque razão é contrário à nossa Constituição e à nossa segurança.

Tradução 
Maria Luísa de Vasconcellos
Fonte

Il Manifesto (Itália) 

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