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16 de dezembro de 2021

O fim da União Soviética não significou o fim do comunismo

 "La commune n'est pas morte", foi uma canção que lembrava aos trabalhadores franceses do final do século XIX, que a comuna tinha sido derrotada, mas não o seu espírito, as suas causas, as suas lições. Por isso, temos de recordar que apesar da intoxicação dos media em permanente campanha pela "democracia" liberal/oligárquica, o fim da União Soviética e outros países socialistas, não significou o fim comunismo. Vem isto a propósito de um texto de Bruno Guigue de que transcrevemos a parte que corresponde ao nosso título.

"Aqueles que proferiram a oração fúnebre podem ter considerado os seus desejos realidade. Ao contrário do que acreditaram, o socialismo real não desapareceu de corpo e alma. O facto da bandeira vermelha não pairar mais sobre o Kremlin não significa a sua extinção no planeta: 1,5 mil milhões de chineses vivem sob a liderança de um Partido Comunista que não mostra sinais de perder força. O Vietname socialista está indo muito bem. Na Rússia, o Partido Comunista continua a ser a principal força de oposição. Os comunistas governam o Nepal e o Estado indiano de Kerala. Apesar do bloqueio imperialista, os cubanos continuam construindo o socialismo. Os comunistas tiveram sucessos eleitorais no Chile e na Áustria.

Dizer que o comunismo deixou apenas más lembranças e pertence a um passado longínquo é cometer um duplo erro de análise. Ele não somente contribuiu para o bem-estar de um quarto da humanidade, mas também não há indicação de que tenha dito a sua última palavra. Não está condenado pelo seu passado nem privado de um futuro. Pode registar a seu crédito a luta vitoriosa contra o nazismo, uma contribuição decisiva para a queda do colonialismo e uma resistência obstinada ao imperialismo. Este triplo sucesso é suficiente para dar-lhe cartas de nobreza revolucionárias. O seu passado é também a longa série de avanços sociais e milhões de vidas arrancadas da pobreza, analfabetismo e doenças. O comunismo foi e é um esforço titânico para tirar as massas da ignorância e dependência.

Permanecendo na URSS em 1925, o pedagogo Célestin Freinet expressou "sua surpresa e seu assombro, especialmente considerando as condições em que este imenso progresso foi feito". Pedagogos russos, escreveu ele, "encontraram na sua dedicação à causa do povo e na atividade revolucionária clareza suficiente não apenas para elevar a sua pedagogia ao nível da pedagogia ocidental, mas para ir mais além, e de longe, das nossas tímidas tentativas."

Nenhuma outra força política poderia ter tirado do subdesenvolvimento os países atrasados, coloniais e semicoloniais, pelos quais os comunistas foram responsáveis no século XX. O que seria a Rússia se tivesse permanecido nas mãos de Nicolau II ou Alexander Kerensky? O que seria a China se não tivesse escapado a Chiang Kai-shek e à sua camarilha feudal? Onde estaria Cuba se tivesse permanecido nas garras do imperialismo e seus mercenários locais?

A revolução comunista em todos os lugares foi a resposta das massas proletarizadas à crise estrutural de sociedades em degradação, num cenário de atraso económico e cultural. Se essa revolução aconteceu, foi porque respondeu às emergências da época. Na Rússia, na China e em outros lugares, foi fruto de um profundo movimento na sociedade, de um amadurecimento das condições objetivas. Mas sem o Partido, sem uma organização centralizada e disciplinada, tal resultado revolucionário seria impossível. Na ausência da liderança personificada pelos comunistas, com que vanguarda as massas poderiam ter contado? E por falta de alternativa, a que desespero teria levado o aborto das promessas revolucionárias?

O facto das formas de luta pelo socialismo não serem mais as mesmas não altera a questão. Esta luta ainda está viva ainda hoje. Os países capitalistas desenvolvidos estão em crise, e a única solução para essa crise é a formação de um bloco progressista em oposição ao bloco burguês. China, Vietname, Laos, Síria, Cuba, Kerala, Nepal, Bolívia, Venezuela e Nicarágua estão a construir um socialismo original. Fingir ser comunista enquanto se lança um olhar desdenhoso para essas conquistas concretas é ridículo. Mas é o que fazem as incontáveis capelinhas do esquerdismo ocidental.

O trabalho diário dos médicos cubanos, professores venezuelanos e enfermeiras nicaraguenses, a seus olhos, não atinge a dignidade da revolução mundial. Para esses “vestais” do fogo sagrado, tais conquistas são modestas demais para despertar o entusiasmo de um futuro brilhante. Guardiões intransigentes da pureza revolucionária, os esquerdistas adoram distribuir cartões vermelhos para aqueles que constroem o socialismo. Sem agirem em casa, ditam julgamentos sobre o que os outros fazem. E o pior é que aplicam os critérios da ideologia burguesa."

Noutro ponto do texto BG refere também a Coreia do Norte. Um tema que também merece ser recordado. Fica aqui a promessa.

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