1. 90% dos trabalhadores do Estado (funcionários públicos e trabalhadores das
empresas públicas) cerca de 685 mil trabalhadores, vão sofrer um corte nos
seus salários que variará entre os 2,5% para os trabalhadores com salários
de 600 euros e os 12% para os trabalhadores com salários superiores a 2000
2. Com este corte são particularmente penalizados os trabalhadores com salários
entre 600 e 1500 euros mensais, cerca de 40% do total dos trabalhadores do
Estado (305 mil trabalhadores), trabalhadores que mantiveram os seus salários
congelados em 2011, enquanto os salários superiores a 1500 euros sofreram
3. O salário médio mensal praticado na Administração Pública que desde 2011
estava sujeito a um corte salarial de 3,5%, vê esse corte agora mais do que
duplicar e passar para 9,3%. Na prática o corte salarial anual para estes
trabalhadores é equivalente a mais do que um salário mensal.
4. Para os trabalhadores do Estado com salários entre os 1800 e os 2000 euros, o
corte salarial mais do que triplica em relação a 2011;
5. Os cortes na despesa do Estado em 2014 passarão para além dos cortes
salariais, pelo aumento do horário de trabalho, pela redução de efectivos
por aposentação, pela redução do trabalho suplementar, pela execução
de programas de rescisão por mútuo acordo, pela utilização do sistema de
requalificação de trabalhadores, pelas reformas estruturantes no sistema
educativo, por outras medidas sectoriais, pela reforma hospitalar e optimização
de custos na área da saúde, pela redefinição de processos nas áreas da
segurança e da defesa, pela convergência da fórmula de cálculo das pensões
da CGA com as da Segurança Social, pelo ajuste da idade de acesso a pensão de
velhice com base no factor de sustentabilidade e pela introdução de condição
de recurso nas pensões de sobrevivência;
6. 82% do impacto esperado com as medidas de austeridade (3184 milhões
de euros) resulta de cortes na despesa do Estado com apenas 18% a
resultarem de medidas com impacto sobre o aumento da receita (aumento de
impostos, aumento das contribuições para a ADSE, aumento da contribuição
extraordinária sobre o sector bancário, contribuição extraordinária sobre o
sector energético);
7. 302 mil aposentados, cerca de 50% dos actuais cerca de 610 mil aposentados
do Estado, irá sofrer um corte médio de 10% com a convergência das pensões
da CGA com as pensões da Segurança Social. Estima-se que o impacto bruto da
convergência de pensões da CGA seja de cerca de 728 milhões de euros;
8. Os cortes de 100 milhões de euros nas pensões de sobrevivência irão afectar
pensões acima dos 419 euros;
9. Mais de 1 milhão de trabalhadores e pensionistas do Estado serão afectados
com estes cortes nos salários da Administração Pública e da CGA;
10. Se 82% do valor das medidas de austeridade, cerca de 3200 milhões resultam
de cortes da despesa do Estado, (cortes na função pública, reformados,
educação e saúde), só 4% resultam de taxas sobre a banca, as empresas
petrolíferas e as redes de energia; Este é o OE que uma vez mais ataca os
trabalhadores e os rendimentos e protege o grande capital;
11. Perto de 2/3 do valor das medidas de austeridade cerca de 2211 milhões são
directamente suportadas por cortes nos salários e pensões dos funcionários
públicos e aposentados da CGA;
12. Após um ano de 2013 em que se registou um enorme aumento do imposto
sobre os rendimentos do trabalho (IRS) +28,2%, +2564 milhões de euros, o
Governo ainda não satisfeito quer em 2014 arrecadar +426 milhões de euros
de IRS +3,5%. Ao mesmo tempo a taxa de IRC vai baixar 2 pontos percentuais o
que vai custar pelo menos 70 milhões de euros ao Estado. Enquanto o IRS não
para de subir, o IRC baixa;
13.Enquanto os pensionistas e aposentados sofrem um corte de 100 milhões de
euros nas suas pensões de sobrevivência, o Governo quer devolver 70 milhões
Enquanto em 2011 os trabalhadores
portugueses já pagavam de IRS quase o dobro do IRC pago pelas empresas, em
2014 com este Orçamentos os trabalhadores portugueses irão pagar de IRS
quase o triplo do IRC pago pelas empresas
de euros de IRC aos grandes grupos económicos;
14. Ao mesmo tempo que aumenta os impostos sobre os rendimentos do trabalho
o Governo reduz a carga fiscal sobre os rendimentos do capital. Entre 2011
e 2014, se este Orçamento de Estado for aprovado, o Estado irá arrecadar
anualmente mais 2 mil milhões de euros de IRS ao mesmo tempo que cobrará
menos 745 milhões de euros de IRC..
15. Em 2014 o Governo ao mesmo tempo que quer baixar a taxa nominal de IRC
de 25 para 23%, dá mais tempo às empresas para abater prejuízos fiscais,
reduz o limite máximo desses prejuízos que as empresas podem apresentar
anualmente, alarga o tipo de despesas de actividade que podem ser abatidas
ao IRC, introduz um lucro fiscal de 10% para lucros reinvestidos e isenta de IRC
a recepção e exportação de dividendos;
16.Com este OE os aposentados das empresas públicas só terão direito a
complementos de pensões se a empresa para a qual trabalhavam não tiver
apresentado prejuízo nos últimos 3 anos. Tendo em conta que a maioria das
empresas detidas pelo Estado são deficitárias, esta medida deverá afectar uma
grande maioria dos aposentados passados e futuros do sector empresarial do
Estado e pressupõe tratamentos diferenciados dos reformados, de acordo com
os resultados das empresas em que trabalham.
17.Este Orçamento prevê ainda que estes complementos só voltem a ser pagos
quando as empresas apresentem 5 anos consecutivos de resultados positivos,
com a liquidação ao longo de 3 anos, na proporção de 1/3 por ano;
18.As empresas públicas, com excepção dos hospitais E.P.E., estão obrigados a
reduzir o nº de trabalhadores em 3% em 2014, face a Dezembro de 2012;
19. As empresas públicas deficitárias devem cortar 15% os gastos operacionais face
20.O limite de endividamento das empresas públicas fica definido em 4% para
21. As indemnizações compensatórias irão ser reduzidas em 108 milhões de euros
22.O Governo em 2014 vai proibir as Câmaras Municipais de preverem receitas
relativas à venda de imóveis que sejam superiores à média dos 3 anos
23.O Ministério da Saúde tem um corte na sua despesa efectiva de 9,4% (-
848 milhões de euros), o Ministério da Educação sofrerá um corte de 570
milhões de euros (-7,1%), a Justiça um corte de 95 milhões de euros (-6,8%), a
Administração Interna um corte de 134 milhões de euros (-6,5%).
24. Em 2014 o Governo pretende reduzir o défice orçamental em 3 mil milhões de
euros, passando-o de uma estimativa actual de 5,9% em 2013 (9778 milhões
de euros), para 4% em 2014 (6793 milhões de euros), ou seja, quer reduzir
o défice orçamental em 30% num ano. Vale a pena lembrar que no corrente
ano apesar do enorme aumento de impostos (+ 2613 milhões de euros de
receita fiscal na quase totalidade IRS) essa redução deverá ser de apenas
863 milhões de euros. Ninguém acredita que o Governo consiga atingir esse
objectivo, mas entretanto a ser aprovado este Orçamento chegaremos ao final
de 2014 com os trabalhadores, e em especial os trabalhadores e aposentados
da Administração Pública, a sofrerem mais um enorme corte nos seus salários e
25. Paulatinamente este Governo vai destruindo o Estado e em particular o Estado
Social, reduzindo as prestações sociais, cortando na saúde, na educação e
na segurança social, vai destruindo e precarizando o emprego, vai reduzindo
continuamente os salários e pensões de trabalhadores e reformados,
desequilibrando cada vez mais a distribuição do rendimento entre trabalho e
capital, vai aumentando continuamente a carga fiscal sobre os trabalhadores
(IRS) e as famílias (IVA), tornando o sistema fiscal cada vez mais injusto e
dependente da carga fiscal sobre os rendimentos do trabalho e sobre o
consumo. Se é verdade que nem o défice, nem a dívida foram reduzidos de
forma sustentada com a assinatura do Pacto de Agressão podendo por isso
dizer-se que nenhum destes propalados objectivos foi conseguido, também é
verdade, e esse grande objectivo foi por este Governo de direita conseguido,
que o nosso país é hoje um país, muito mais injusto, mais dependente, mais
desigual e desequilibrado, do que antes da assinatura do pacto de agressão.
26.Para reduzir o défice em 2014 em 3 mil milhões de euros o Governo
pretende cortar cerca de 1,7 mil milhões de euros em salários e pensões na
Administração Pública, cerca de mil milhões de euros em Investimento Público
e arrecadar mais 800 milhões de euros em impostos sobre os trabalhadores
(IRS) e sobre as famílias (impostos sobre combustíveis +2,1%, sobre veículos
+5,8%, sobre tabaco +9,5%, sobre bebidas alcoólicas +7,0% e sobre a circulação
de veículos +23,2%).
27. O Governo apresenta com este OE um pacote de austeridade de 4 mil milhões
de euros embora a redução do défice pretendida seja de 3 mil milhões de
euros. A almofada de mil milhões de euros visa pagar o acréscimo da despesa
com PPP, que sobe de 869milhões em 2013 para 1645 milhões de euros em
2014, +776 milhões de euros e os acréscimos com os juros da dívida (+135
milhões de euros). Vale a pena registar que o acréscimo de despesa com as PPP
é ligeiramente superior à receita que o Governo quer arrecadar com a corte das
pensões de 302 mil aposentados da CGA (728 milhões de euros).
28. Este Orçamento de Estado para 2014 confirma que para este Governo se gasta
muito em salários e pensões na Administração Pública e por isso quer cortar
2211 milhões de euros nestas despesas, que para este Governo se gasta muito
em Saúde e Educação com os portugueses e por isso quer gastar menos 1
420 milhões de euros com estas áreas, se gasta muito em abonos de família
e por isso quer cortar 13,5 milhões de euros nesta rubrica, se gasta muito
no apoio aos idosos e por isso se corta 6,7 milhões de euros, se gasta muito
com o rendimento social de inserção e por isso se corta 10 milhões de euros.
Mas este Orçamento de Estado também confirma que com este Governo a
banca portuguesa está sempre garantida. Para 2014 o Orçamento de Estado
dá ao Governo autorização para garantir emissões de dívida realizadas pelas
instituições de crédito no montante de 24 670 milhões de euros, mais 2,28%
do que foi disponibilizado em 2013 (+550 milhões de euros). Neste momento o
stock da dívida garantida pelo Estado à banca é já de 14 475 milhões de euros.
O BES tem garantida pelo Estado a dívida que emitiu de 4 750 milhões de
euros, a CGD 4 600 milhões de euros, o BCP 4 250 milhões de euros, enquanto
o BANIF tem garantidos 875 milhões de euros de dívida que emitiu.
29. Apesar de desde a assinatura do pacto de agressão terem sido aprovadas por
este governo nos últimos 3 anos mais de 20 mil milhões de euros de medidas
de austeridade, cortes nos salários e pensões, cortes na saúde, na educação,
nas despesas com prestações sociais (do subsídio de desemprego, ao abono
de família, ao complemento solidário para idosos, ao rendimento social de
inserção, ao subsídio de doença, à acção social) e aumento da carga fiscal
sobre trabalhadores (IRS) e famílias (IVA), aumento das taxas moderadoras
e dos descontos para a ADSE, a verdade é que descontando as receitas
extraordinárias resultantes do fundos de pensões, o défice orçamental pouco
deverá cair entre o final de 2010 e 2014.
30.Depois de em 2013 termos tido um Orçamento de Estado marcado por um
brutal aumento de impostos, em particular o IRS, em 2014 o Orçamento de
Estado será marcado por um brutal ataque aos trabalhadores e aposentados da
Administração Pública, com cortes significativos nos salários e pensões e com
uma grande instabilidade nas condições de trabalho e no emprego.
31.Como disse o Octávio Teixeira numa crónica na rádio esta semana, este
Orçamento é brutal, estúpido e mentiroso. Brutal pelo que atrás referi,
estúpido porque vai levar a que economia se continue a afundar e mentiroso
porque não vai baixar o défice e a dívida e ao contrário do que disse o Primeiro-
Ministro a penalização dos funcionários públicos não é igual há de 2012,
porque junta ao corte de 2012 o enorme aumento de impostos de 2013.
32.Por fim e para já umas breves notas sobre o cenário macroeconómico
subjacente a este Orçamento de Estado para 2014. Este à imagem dos de anos
anteriores tem todas as condições para não ter qualquer aderência à realidade.
Entusiasmado pela melhoria conjuntural dos indicadores macroeconómicos nos
últimos meses o Governo avança com a previsão de um crescimento do PIB em
2014 de 0,8% e com o consumo das famílias, o investimento e as exportações
também a crescerem. Com a aprovação deste pacote de austeridade com
quase toda a certeza o nosso país em 2014 vai manter-se em recessão, tendo
em conta o efeito recessivo que este pacote de medidas tem sobre o consumo
e o investimento.
CAE, 19 de Outubro
José Alberto Lourenço
1 comentário:
O artigo do J.A. Lourenco tem varios saltos de texto, com omissoes de palavras e ate' de frases inteiras.
Ver p. ex. os pontos 2, 19 e 20,
que estao incompletos.
Convem rectificar.
J.Figueiredo
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