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24 de janeiro de 2017

As mistificações de classe


PÚBLICA/PRIVADA
A propósito da CGD e do Novo Banco (NB) reacendeu-se a diatribe contra a “maldade” congénita da gestão pública versus a “bondade” intrínseca da gestão privada.
A gente percebe a coisa. Depois do desastre calamitoso da gestão privada da banca privada, da gestão privada de grandes empresas privadas há que defender a dama. Há que justificar, porquê, os conhecidos “contribuintes portugueses”, tiveram e têm de contribuir para esse peditório privado. E não foi apenas na banca. Os ditos processos especiais de revitalização (PER) estão cheios de prejuízos públicos! Naturalmente, continuando a diabolizar a gestão pública ou o que consideram ser gestão pública…para assim absolver a gestão privada.
Camilo Lourenço (CL), repete a tese de outros: o problema não foi da gestão privada, não senhor! Foi das privatizações terem sido feitas a portugueses sem dinheiro, que tiveram de se endividar para adquirir as empresas a privatizar! Ah se tivesse sido a “verdadeiros capitalistas, mesmo que estrangeiros”, “muito provavelmente”, outro galo cantaria! Há pai que é cego…então as que estavam na mão de estrangeiros como a PT? Então o que aconteceu por esse mundo fora, incluindo na Europa, a começar na Alemanha e acabar na Itália? E as que não tinham resultado de privatizações, como o BPN?  
Miguel Sousa Tavares (que se tivesse um pouquinho de pudor ficava pelo anticomunismo e não falaria destas coisas!), declara, que o Governo de Passos Coelho “deveria ter ajudado a salvar o banco”, isto é o BES, dando ordens à CGD para que “subscrevesse 700 mil” dos “dois mil milhões de recapitalização” tentada, já em desespero de causa, por Ricardo Salgado. E, face às propostas de “nacionalização” do NB, pergunta: “Onde é que a gestão pública provou ser alternativa – no Banif, na Caixa, no Novo Banco?”. Extraordinário! Então o Banif tinha uma gestão pública? E no NB, mesmo sem qualquer avaliação positiva da gestão nomeada pelo Governo PSD/CDS, o problema foi da gestão ou do enorme buraco herdado do BES?!
Esta gente recusa pensar o que poderá ser uma “gestão pública”! Para CL o problema é que se deixou que “a gestão de um banco público (CGD) obedecesse a critérios políticos”! Então quais são os critérios que devem presidir, vindos de uma tutela pública?! Critérios privados? O problema é que essa gestão, de pública só tem o nome, porque sucessivas administrações, sempre concretizaram uma gestão com critérios privados, exactamente idêntica às dos bancos privados, de onde aliás vinham os gestores que as compunham! Idêntica nas apostas bolsistas (Berardo/BCP) e imobiliárias (centros comerciais, Vale do Lobo, etc)! Idêntica nos fretes ao grande capital (La Seda, Pescanova, CIMPOR, etc). Idêntica nas aventuras da internacionalização (banca em Espanha e PPP em AE de Espanha e Grécia)! Idêntica na subestimação e desvalorização das PME e sectores produtivos nacionais! E é de facto notável, mas compreensível, que MST, que invectiva a gestão pública da CGD, quisesse que ela se enterrasse mais, fazendo outro enorme frete ao Grupo Espirito Santo!         

Mas, a CGD, apesar da má gestão, contribuiu para os cofres do Estado, entre 2004/2014 com 3,5 mil milhões de euros. É uma pequena, mas substancial diferença…entre gestão pública e privada!
Agostinho Lopes .

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