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11 de dezembro de 2020

Clientelas ?

 Agostinho Lopes

CLIENTES E CLIENTELAS


O debate e a votação do OE2021 continuou a merecer ouro, incenso e mirra das pérolas do comentariado nacional. Não, nem sequer é preciso ir ao Diabo (o jornal, não vá haver enganos...) para que tais dádivas ao menino/bloco central se possam ler nos principais órgãos da nossa imprensa e restante media. É certo que alguns abusam, como o Expresso e o Público... (Aliás não deve haver reuniões dos conselhos redactoriais senão era impossível pôr 3, 4 ou 5 dos «habituais», dos que têm assinatura, a dizer a mesma coisa na mesma edição... Quem tiver dúvidas deve ver o Expresso de 04DEZ20 e os textos do JVP na 2.ª página, MST na 12.ª e LM na 8.ª do Caderno Economia. Aliás, glosando-se uns aos outros e ao que eles próprios tinham escrito nas semanas anteriores! Viva a liberdade de Imprensa! Aliás, reiterando o que outros escreveram no Público, e etc….

Cabe hoje restringir o texto aos notáveis Editoriais de Manuel Carvalho, Director do Público, nos dias 20, 25 e 27 de Novembro (só os títulos davam um romance) e a consolidada e reiterada tese dos clientes (outros dirão «clientelas») do PCP. No dia 20, «Uma votação contaminada pelo ridículo», MC escreve: «A tenda montada pelo PS favorece claramente os clientes do PCP para levar o orçamento a bom porto e deprecia todos do outros.» No dia 27, «O Orçamento em que todos perderam», conclui: «(…) o ruidoso mercado das medidas que se instalou em S. Bento (…) é igualmente o testemunho de um Parlamento mais dependente dos humores (…) do comité central ou da direcção dos partidos do que das necessidades do país.» e «Perante a fraqueza do Governo, a tortura minuciosa do PCP (...)», certamente para satisfazer cada um dos seus clientes! Dias atrás (20NOV), «O Orçamento de novo entre o rigor e o populismo», o medo de MC era outra «crise de pagamentos» pois «Com a opção do BE e PCP, haveria dinheiro a rodos para pagar todas as perdas e calar todas as reivindicações (...)». Mas hipócrita, insistindo na bacoca ideia de que no meio é que está a virtude (embora ninguém justifique porquê!), frade capuchinho compungido, edita: «Se acreditar que há meios para responder a todos os problemas é um delírio demagógico, segurar as “franjas” dos que se arriscam a sofrer e perder mais com a crise é um dever». Como é piedosa esta alma! 

É lamentável que este director de um periódico de referência não enumere as ditas “franjas”, ou que pelo menos desvendasse quais os «clientes» do PCP! Serão os trabalhadores atingidos pelo Lay Off, que vão passar a ter os salários a 100%??? Serão os reformados com baixas pensões, que vão ter pelo quinto ano consecutivo mais 10 euros por mês??? (Que bem acompanha MC as preocupações da CE!) Serão os utentes e profissionais do SNS pelas melhorias introduzidas no OE pelo PCP e que esperamos que sejam concretizadas! Serão os MPM Empresários pelo que conseguiram graças ao PCP, e que só não foi o necessário porque o PS e PSD a isso se opuseram???

E é pena que os apologistas da tese do OE para servir «clientes/clientelas» nunca se lembrem dos clientes/clientelas quando o PS, PSD e CDS baixam a taxa do IRC, acabaram com o imposto sucessório, ou alargam e engordam os benefícios fiscais!  

Não se diz que o OE2021 é um bom Orçamento. Ancorado pelo PS nas imposições europeias do défice e da dívida, falha na resposta suficiente à crise económica e social. Falha nas respostas estruturantes às necessidades do país no médio e longo prazo. 

Eles não querem dizer que o OE2021 é mau, até porque salvaguarda os comandos comunitários nas restrições de despesa e investimento públicos. Mas o que queriam e querem desesperadamente, são orçamentos com a bênção do Bloco Central. Do que querem fugir, como o diabo da água benta, é de orçamentos onde o PCP, em defesa dos trabalhadores e das “franjas” contou. O anticomunismo conta muito para essa gente. Por exemplo, para MC, conta tanto que um destes dias, num desses «pluralistas» debates da RTP1 (É Ou Não É), acossado pelos compinchas de catecismo de que estaria a defender o PCP, não teve dúvidas, em defesa da sua profissão de fé anticomunista, de lhes pedir que lessem os seus editoriais no Público... Estava certo… desta vez.    


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