Uma edição importante no Brasil
Por Marina Machado Gouvêa.
Domenico Losurdo é imprescindível para entender o liberalismo como concepção capitalista fundante, que perpassa todas as suas correntes ideológicas. O autor expõe a relação entre o ideário liberal e o colonialismo, o racismo e a escravidão, bem como sua presença necessária na reprodução capitalista – para além dos processos de colonização formal. Sua obra destrói as noções de “civilização ocidental” e “sujeito universal civilizado”.
Colonialismo e luta anticolonial aborda o caráter racista dos Estados Unidos. Trata de eventos ocorridos no Iraque, na ex-Iugoslávia, na Palestina, no Panamá, na Romênia, na Síria e na Somália e enfoca esses processos no entendimento do colonialismo. Salienta a doutrina Bush, a Otan e a indústria de mentiras como parte da relação entre luta anticolonial e luta de classes. A um só tempo, resgata o marxismo e o caráter da Revolução Soviética como grande capítulo da luta democrática e anticolonial e o papel do movimento comunista no enfrentamento do nazismo – regime cujas raízes no liberalismo capitalista e cuja conexão com o racismo são desveladas pelo autor, um dos maiores críticos à noção anistórica de totalitarismo.
Tem-se aqui um forte golpe na perspectiva abstrata de “liberdade”, central ao liberalismo. O colonialismo requer a construção e a desvalorização de “outros”: em um momento de vitórias das lutas antirracista, feminista e contra a binariogenerificação, reconheçamos o caráter idealista do liberalismo e recuperemos uma apreensão materialista da história presente e passada.
Com seleção apuradíssima de textos, quatro deles inéditos em português, Colonialismo e luta anticolonial permite refletir sobre alguns limites da noção capitalista de democracia, sobre a dinâmica entre revolução e contrarrevolução e sobre a unidade entre universal e particular. É leitura altamente recomendável...
O livro conta com organização de Jones Manoel, tradução de Diego Silveira, Federico Losurdo, Giulio Gerosa, Marcos Aurélio da Silva, Maria Lucilia Ruy, Maryse Farhi, Modesto Florezano e Victor Neves. A edição é de Pedro Davoglio, com diagramação de Antonio Kehl e capa de Maikon Nery. O prólogo é de Caetano Veloso e o texto de orelha é de Marina Machado Gouvêa.
Marina Machado Gouvêa é professora da ESS-UFRJ. Economista, doutora em Economia Política Internacional (PEPI/ IE/ UFRJ). Integrante da Direção da Sociedade Brasileira de Economia Política (SEP) na gestão 2018-2020 e representante do Brasil na Junta Diretiva da Sociedade Latino-americana de Economia Política e Pensamento Crítico na gestão iniciada em 2014.
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