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15 de setembro de 2023

A geopolítica dos EUA em colapso

Consta que Montgomery – famoso marechal britânico – disse que na primeira página do livro da guerra deveria estar escrito: não ataquem Moscovo, Napoleão fê-lo, os russos acabaram em Paris; Hitler fê-lo os russos acabaram em Berlim. Atualizando o livro pode escrever-se: os EUA atacaram a Rússia, o império americano entrou em colapso.

A declaração saída da reunião dos G20 foi um golpe para os EUA, destacando-se a ausência de críticas à Rússia e de apoio a Kiev. Tal como a cimeira dos BRICS evidenciou os países do dito ocidente perderam a liderança global perante organizações multipolares, lideradas pela China, Rússia, e Índia.

Apesar dos sinais serem visíveis por exemplo há um ano, seria difícil prever a rapidez e intensidade destas mudanças, embora elas nos remetam para as transformações quantitativas e qualitativas que o materialismo dialético especificou. Lenine disse também que por vezes numa semana se produzem mais alterações que em décadas. Esquecer estas coisas pode levar à alienação e ser-se enganado.

Os BRICS, agora 11 países, têm um PIB total de mais de 33%, contra cerca de 29% do G7. Aliados dos EUA escapam ao seu poder juntando-se aos BRICS, como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, países com grande potencial em combustíveis. Muitos outros países candidatam-se aos BRICS. O presidente da Indonésia, Joko Widodo, reiterou os apelos a que as economias do Sul Global se esforcem pela colaboração e inclusão.

Para o ministro das Relações Exteriores austríaco, “cancelar a Rússia é um erro, a Rússia não vai desaparecer do mapa-mundo. Permanecerá sempre como o maior vizinho geográfico da UE. É necessário ser clarividente e pragmático nas relações com Moscovo.” O mundo mudou, mas em Bruxelas e Frankfurt ainda não receberam autorização de Washington – ou das oligarquias – para tirar as devidas conclusões.

A África acolhe a Rússia – o tal país isolado da “comunidade internacional”! Uma delegação do Ministério da Defesa russo visitou o Mali, a Líbia, a Síria, a República Centro-Africana e Burkina Faso. A Rússia acolhe o 8º Fórum Económico do Leste em Vladivostok, com a presença de mais de 50 países, como a China, Mianmar, Índia, Mongólia.

Segundo Putin o volume de negócios da Rússia com os países da Ásia-Pacífico cresceu 13,7% em 2022 e, no primeiro semestre de 2023, mais 18,3%. A percentagem de exploração do subsolo no Extremo Oriente é, em média, de apenas 35%; assim a Rússia vai desenvolver programa de exploração geológica para o Extremo Oriente e Sibéria. A produção de GNL (gás natural liquefeito) na zona do Ártico deve triplicar até 2030, criando novas linhas e fortalecendo a soberania tecnológica.

Significativo é a formalização do aprofundamento das relações entre a Rússia e a Coreia do Norte. Lavrov opõe-se a sanções contra Coreia do Norte e argumenta que são inadequadas para a atual situação geopolítica. Mais claro não se pode ser. Pelo seu lado, Kim Jong-un diz que as relações com a Rússia são uma primeira prioridade e que a Coreia do Norte estará sempre junta com a Rússia na luta contra o imperialismo.

Claro que os EUA tentam reverter a situação, tentando criar confrontos fronteiriços entre a Arménia e o Azerbeijão; tentam captar o Vietname contra a influência da China no Sudeste Asiático, mas se Hanói – tal como a Índia – não fecha as portas aos EUA não tem interesse em se juntar à coligação anti-China dos EUA.

Se a China fizer um movimento sobre Taiwan, os estoques militares reduzidos pela guerra na Ucrânia tornarão a ajuda a Taiwan muito difícil e cara. Os EUA perderam no Iraque, no Afeganistão e na Síria, mas preparam as bases para derrotas em guerras contra a Rússia e a China – ambas potências nucleares, colocando a civilização humana em risco.

Estas sucessivas derrotas, crise económica e financeira, perda de influência reconhecidas agora por Blincken, que assumiu o mundo multipolar, têm reflexos internamente. A decadência do sistema político dos EUA evidencia-se nas acusações contra Trump e na iniciativa republicana de destituição de Biden.

Talvez mais grave é o facto de 66% dos republicanos do Sul serem a favor de secessão dos EUA. Isto é, voltarem à Confederação ou mesmo independência, tal é o descrédito das políticas de Washington. Marjorie Taylor Greene, congressista republicana, diz que os Estados devem "considerar separar-se da União". Se o governo Biden se recusar a impedir a invasão do tráfico de pessoas e drogas liderado por cartéis no nosso país, os Estados devem considerar separar-se da União". "Das questões culturais doentias e nojentas, às políticas traidoras dos democratas, estamos fartos", disse Greene.

Biden arrastou os EUA para esta guerra por procuração com Rússia que Moscovo está ganhando." Os serviços de informações mentiram descaradamente para os americanos, alegando que a Rússia e seu presidente, Vladimir Putin, querem "tomar a Europa", disse a representante republicana.

A partir de: Geopolítica ao vivo – Telegram e Intel Slava Z – Telegrama (setembro)


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