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27 de dezembro de 2024

Conjeturas sobre a guerra mundial em curso

 A guerra mundial entre os dois blocos em confronto prossegue, sobre a qual apenas se podem fazer conjeturas sobre o que vai ocorrendo. No Médio Oriente, terroristas, assim classificados até então pelos EUA e também pela ONU, aparecem de fato e gravata e são acarinhados pelo ocidente, na versão de que a Rússia sofreu uma derrota. Errado.

Neste episódio da guerra global o verdadeiro derrotado é o povo mártir da palestina. A tragédia desse povo prossegue, esmagado nos meandros da geopolítica. Israel mata-os impunemente seja com bombas, pela fome, pela ausência de cuidados médicos. Tartufos indignados por a Rússia não cessar ataques no dia de Natal - tréguas recusadas pela Ucrânia - ignoram o drama palestino enquanto com recorrente hipocrisia debitam no mesmo dia frases sobre solidariedade, paz, humanidade. 

Os mesmos que qualificam as ações da Rússia na Ucrânia como "um brutal ato de guerra", uma "invasão totalmente contra o direito internacional", perante o avanço das tropas israelitas no território Sírio, usam eufemismos como: "Israel reforça a sua presença na Síria", justificando que "a ação de Israel na Síria para proteger as suas fronteiras não surpreende." Não disfarçam a satisfação ou mesmo cumplicidade com o fim do "regime de Assad" substituído pela "nova liderança" - já não existe "regime", aliás não existe coisa alguma porque não há uma Constituição, apenas força das armas, que o ocidente vê com "esperança, apesar dos riscos", enquanto os EUA anulam a recompensa de 10 milhões de dólares pela prisão como terrorista, do atual líder na Síria, Abu Mohammed al-Jolani.

Dizer que a Rússia sofreu uma derrota na Síria é tomar os desejos por realidades: compare-se com a evacuação caótica e desesperada dos Estados Unidos em Cabul. A Rússia não foi hostilizada pela "nova liderança" síria, desenvolvendo, segundo Putin, relações de trabalho em Damasco, apesar de provavelmente acabar por transferir as suas bases para a Líbia ou mesmo Argélia. Entretanto sem ser incomodada, tem retirado efetivos e material.

O interesse estratégico da Rússia está no Irão, e vice-versa. Formalmente a Rússia não considera Israel "país hostil", como gostam de dizer, quanto à questão palestina agirá de acordo com os países do dito "mundo árabe". Mas estes, tal como a Turquia, na prática consideram os palestinos um empecilho para terem relações normais com Israel e os EUA.

Portanto, Israel está mais à vontade para ocupar totalmente a Cisjordânia e Gaza. Era desde o início evidente que o Hamas só poderia manter-se se outras frentes de resistência a Israel fossem abertas. Mas será que Israel tem as mãos livres para a sua expansão e ganhou a partida? De forma alguma.

O Irão mantém o seu potencial militar.  Khamenei refutou a especulação de que a vontade de resistir estava enfraquecida. As linhas da resistência regional para combater a Israel e a HTS, reencarnação da Al-Qaeda, agora na Síria, serão retomadas com o Iraque e o Iêmen. Quanto ao Hezbollah, momentaneamente paralisado com as suas linhas de abastecimento interrompidas, mantém o potencial militar.

O Irão apoiará o que restar do antigo exército sírio contra o HTS. Um general sírio, Maher al-Assad, levou toda a sua divisão blindada para o Iraque. Em novembro o Irão colocou em operação novas centrifugadoras para enriquecimento de urânio, em resposta à adoção de uma resolução anti-iraniana pela AIEA. Intel Slava Z – Telegrama 24/11

Quanto custou aos EUA o que parece ser uma "vitória pírrica"? Israel alarga fronteiras instáveis, tem de manter um exército reforçado em pé de guerra, ataca os Houtis e não desiste contra o Irão. Quem paga? A Síria retalhada por Israel, a Turquia e os EUA - que não retirarão das zonas petrolífera que ocupam - como vai sobreviver como Estado, a sua população e o exército que terão de manter? Quem paga?

O que é saudado pelos propagandistas não passa dos EUA aprofundarem o atoleiro em que o Médio Oriente se encontra, num acréscimo de caos e despesas para o império. O que era o Estado sírio dissolveu-se, a polícia e o exército deixaram depósitos de armas abertos ao saque. Desde a queda de Assad, dezenas de sírios foram mortos em atos de vingança, a grande maioria deles pertencentes à comunidade minoritária alauita, uma ramificação xiita à qual Assad pertence.

Segundo as "novas autoridades sírias" 14 elementos de forças ligadas aos grupos que tomaram o poder no país do Médio Oriente, foram mortos em confrontos com homens armados ligados ao "anterior regime". O ataque a um santuário alauita está na origem das manifestações que eclodiram em várias cidadesPor outro lado, pelo menos 66 pessoas morreram devido à explosão de minas e engenhos não detonados, um dos maiores obstáculos ao regresso dos refugiados e deslocados. (Lusa 26 e 25 /12)

A China as mudanças na Síria como uma ameaça ocidental às suas próprias linhas comércio e segurança energética que atravessam o Irão, a Arábia Saudita e o Iraque. Podemos conjeturar que irá ter a palavra decisiva a dizer - como já o demonstrou no passado na região.



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