Linha de separação


22 de dezembro de 2024

Dilemas dos EUA, Rússia e China

O prof. Michael Brenner, no texto, anteriormente apresentado (1), referindo-se à verborreia belicista na UE/NATO, sem potencial político, económico financeiro e militar, resumiu-a num provérbio texano: Chapéus grandes, mas sem gado!

Estamos vivendo um período de transição global, com grandes crises na Ucrânia, no Oriente Médio e em Taiwan, com potencial para resultarem em consequências desastrosas.

Dilemas dos Estados Unidos
Fala-se muito sobre como Donald Trump agirá rapidamente para resolver o conflito na Ucrânia. Supostamente, ele vê a inutilidade de uma guerra aberta contra a Rússia. Ouvimos indícios sobre o que poderiam ser as cláusulas: um cessar-fogo, uma redução nas sanções, algum reconhecimento de uma associação da Rússia com os quatro oblasts anexados por Moscovo, a Crimeia cedida, o resto da Ucrânia autónomo, com ligações à UE, ou mesmo à NATO. Trump quer ser aliviado do fardo ucraniano, já que não é fã da expansão da NATO. Não está claro se essa abordagem pode atingir o objetivo de acabar com a guerra na Ucrânia e mitigar o tenso confronto com a Rússia.

A Rússia não interromperá os combates até que um acordo firme seja alcançado. Não aceitará ambiguidade quanto ao futuro status dos territórios russófilos em questão. Não tolerará um governo em Kiev controlado pelos raivosos nacionalistas anti russos que o lideram desde 2014. Exigirá um tratado que formalmente torne a Ucrânia neutral no modelo da Áustria do pós-guerra. Pressionará pela criação de uma arquitetura de segurança pan-europeia que dê à Rússia um lugar legítimo.

As perspetivas são sombrias para um acordo rápido deixando estas questões sensíveis indeterminadas, abertas aos caprichos de Washington e capitais europeias. Uma coisa é intimidar os europeus para que assumam total responsabilidade pela sua própria segurança, ameaçando deixá-los entregues à sua própria sorte. Outra mais difícil é reconstruir as relações americanas com seus aliados europeus, com a Rússia e outras partes vizinhas interessadas. Enfrentar este grande desafio requer uma revisão completa pelos Estados Unidos da sua política, em contradição com as presunções americanas de dominação, controlo e privilégio.

Trump, não tem plano, nem estratégia, para qualquer área de política pública, pois não tem a concentração mental necessária nem o conhecimento estruturado para tal. O mesmo vale para lidar com a China. Se Trump tomasse uma série de ações apenas táticas reduzindo a presença americana no mundo, estaria indo contra as crenças nacionais fundamentais no execionalismo e na superioridade americana, embora esteja ameaçada por sinais de perda perante uma Rússia militarmente superior e por sinais de perda na batalha económica perante uma China tecnologicamente superior.

Dilemas da Rússia e China
Estas duas grandes potências, são os principais obstáculos para os EUA manterem a posição global dominante, enfrentando um dilema totalmente diferente. O seu dilema é como lidar com uns EUA incapazes de mudarem a sua visão de mundo e, portanto, permanecendo cegos às mudanças que estão remodelando a geopolítica mundial. Daqui o desejo de reverter um compromisso assumido há meio século, pressionando a autonomia de Taiwan. Daqui os esforços para impedir que a Rússia ocupe um lugar nos assuntos europeus e no Médio Oriente proporcional aos seus interesses nacionais, sua força e sua geografia.

O objetivo minimalista era cortar os laços entre a Rússia e a UE, marginalizando-a como um estado periférico e inconsequente. O objetivo maximalista era provocar uma mudança de regime para obter um fornecedor fraco de recursos naturais baratos, favorável ao Ocidente e aberto às finanças ocidentais predatórias. O projeto da Ucrânia seria a ponta de lança disso.

A resistência dos russos e chineses a esses planos tornou-se o imperativo estratégico abrangente para ambos os países, como evidenciado pela sua intensa colaboração em todas as áreas. Como eles bem sabem, esse movimento importante é ditado pela conduta imprudente dos EUA superpotência em declínio e inquieta, mas na posse de uma enorme força para perturbar e destruir.

Quando se trata de confrontos diretos sobre a Ucrânia ou Taiwan, são forçados a moderar suas ações para evitar uma crise indesejada com uma América que consideram imprevisível e instável. Essa preocupação aplica-se tanto à presidência de Trump quanto à presidência de Biden. Encontrar o equilíbrio certo é um grande desafio.

O resultado é que Putin e Xi estão lidando com cautela em relação aos imprudentes líderes ocidentais que deixaram de prestar atenção aos preceitos básicos da diplomacia. Temos sorte dos líderes chineses e russos terem um caráter forte. Xi e Putin são líderes raros. São sóbrios, racionais, inteligentes, muito bem informados, capazes de uma visão ampla, não têm ambições imperiais e, embora se dediquem a defender os seus interesses nacionais, não são beligerantes.



 

Sem comentários: