Em Constantinopla, prestes a cair na mão dos otomanos, consta
que os teólogos se ocupavam a discutir o sexo dos anjos. Em Belém, os
conselheiros de Estado não fizeram outra coisa relativamente aos problemas do
país.
Nem algo diferente era de esperar deste PR, que está em
competição com o fascista Américo Tomás em reacionarismo e dislates.
O comunicado final traduz a decadência que a pseudo elite
(anti Constituição, diga-se) deste país atingiu: uma invocação à UE, para ter “piedade
de nós”. Uma espécie de “miserere”, a que (com Nossa Senhora de Fátima ou sem Ela)
a troika responde com um “dies irie”.
Um Conselho de Estado, funcionalmente antidemocrático, onde
não existe ninguém à esquerda do PS, (mas onde tinha assento quem esteve
implicado nas vigarices do BPN) onde não se sabe o que se discutiu, onde não
pode ser comunicada a posição de cada conselheiro.
Entretanto,
o indizível ministro das finanças vai a Berlim ao beija-mão de Wolfgang Schaüble, homólogo
alemão, em ato de contrição fazendo promessas de esmifrar o povo português o
mais que poder “ad gloriam” da finança europeia, a começar pela alemã.
Agora os acólitos da teologia neoliberal, anunciam – alguns com
visível satisfação – que no “pós-troika” a austeridade é para continuar, “pensavam
que o regabofe ia voltar”, dizia um sr. que já foi ministro do PS com Mário Soares
– como se alguma vez o regabofe tivesse cessado para a camada oligárquica.
O Conselho de Estado mostra a deliquescência do clã
neoliberal, de que o PS não se demarca. Discutir os problemas do país seria em
primeiro lugar discutir as causas dos problemas e interrogar-se se seria possível
o desenvolvimento económico e social com:
- uma moeda como o euro demasiado sobrevalorizada para a
nossa economia
- livre transferência de capitais e rendimentos para paraísos
fiscais, traduzido nas diferenças entre PIB e RN
- concorrência fiscal entre países da UE
- os Estados obrigados a irem financiarem-se aos
especuladores
- sem aumento da procura interna
- com escandalosos benefícios fiscais para o grande capital e
finança e escapes na lei favorecendo os oligarcas
- privatizações e "consessões" de serviços públicos criando monopólios privados,
- etc, etc.
A terminar um recente trecho de Mike Whitney:
“A Europa persistirá na
austeridade até as elites da UE alcançarem o seu objetico, que é dizimar o
modelo social que propicia cuidados de saúde, pensões e proteções laborais. É
disto que se trata. Quando os trabalhadores da UE estiverem reduzidos à pobreza
do terceiro mundo, então os fazedores da política voltarão às estratégias de
crescimento, mas não antes”. ( http://www.counterpunch.org/2013/04/26/back-to-recession )
Será que nenhuma daquelas almas que saia de Belém com ar
acabrunhado, pensou nisto? Será que pensaram primeiro nos interesses dos oligarcas
ou nos dos trabalhadores?
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