Carmona foi PR entre 1926 e 1951, a propaganda fascista fazia
dele uma personagem bondosa, um simpático e inofensivo “corta fitas” fazendo
festinhas às crianças. Esta imagem é falsa. Carmona tornou-se de facto um adorno
do salazarismo, depois de ter colocado Salazar no poder absoluto e ser instaurado
o fascismo.
O papel de Carmona foi o de um exemplar intriguista,
eliminando a contestação republicana e simples vestígios de democracia até a
ditadura ser implantada com o apoio da oligarquia monopolista e latifundiária e
da hierarquia católica.
Carmona, surge incontestado após serem eliminados os outros
elementos do golpe de direita de 1926 (Mendes Cabeçadas e Gomes da Costa).
Conseguiu, mesmo através de intensa contestação popular e militar republicana, unir as direitas à volta de um programa fascista mascarado de nacionalismo e
tradição: Deus, assente na superstição e ignorância popular; Pátria, entregue à
oligarquia nacional e estrangeira com o povo submetido a cruel repressão;
Família, oprimida na pobreza, miséria, tuberculose e alcoolismo. A propaganda
fascista chamava a isto: “Caminhando para uma vida melhor”.
Cavaco e a sua “Salvação Nacional” foi uma tentativa de
comprometer o PS numa política dominada pela direita, válida para quem quer que
governasse. Cavaco pretendia eleições tal como no salazarismo após a II Guerra
Mundial: havia eleições, mas não escolha de alternativas políticas.
Criava-se assim um sucedâneo da União Nacional salazarista ou
da ANP marcelista. As políticas estavam à partida definidas na agenda de Cavaco
– na submissão total à troika e aos mercados sempre em nome do “superior
interesse nacional”. A comunicação social controlada se encarregaria de garantir que não houvesse desvios.
A forma como a direita convive mal com a democracia
expressa-se nestas palavras de P. Coelho a 18 de julho perante jornalistas, no
Conselho nacional do PSD: “Não há coisa mais incerta que as eleições, se não
tivermos cuidado a lidar com este tópico específico, podemos estar a criar condições
de incerteza que acabem por comprometer os esforços que queremos realizar de
(sic) regressar aos mercados com confiança dos investidores”.
O entendimento entre Cavaco e P. Coelho é neste "tópico"total e Cavaco
lança mais uma acha para a fogueira do populismo antidemocrático ao dizer: “os
portugueses tirarão as suas ilações sobre os agentes políticos se não houver acordo”.
A jornalista Maria Avilez dizia na SIC Notícias (23/07) perante
um embevecido M. Crespo (sempre pronto a interromper ou fazer o contraditório a
quem se afaste da linha oficial da direita) “uma enorme, uma esmagadora maioria
do país, talvez 98% querer o acordo que o PR falou”. Quer dizer: PCP, BE, parte
significativa do PS são 2% ou já não contam como portugueses.
A Diferença entre Carmona e Cavaco é que o primeiro foi PR da
“Ditadura Militar”, depois “Ditadura Nacional”, resultante do golpe militar de
direita de 1926. Cavaco é PR de um regime saído de uma Revolução que derrubou o
fascismo e dispõe de uma avançada Constituição democrática. Ao contrário dos
passados anos 20 e 30 hoje existe um movimento sindical forte e bem
estruturado, um movimento popular determinado e, o que mais lhes custa, um PCP
unido e fortalecido.
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