No
texto anterior vimos a necessidade de com
vistas à descarbonização eliminar
diversas produções industriais, meios de transporte, agricultura
intensiva,
consumo de
carne.
Por exemplo, haveria que encarar o fecho de refinarias de petróleo,
petroquímicas (plásticos e adubos), etc.
Os
efeitos económicos e sociais da
descarbonização no
emprego e no
modo de vida
não estão minimamente avaliados e divulgados. Pelo contrário, a
publicidade e os apelos a consumos não essenciais são constantes.
O
transporte marítimo e
aéreo é
crucial para a
globalização neoliberal. Como se encara
a necessária
soberania alimentar,
reduzindo consumos trazidos de milhares de quilómetros?
Da construção de edifícios sem
cimento. Do
comércio em grande escala, do turismo, etc.?
Por
exemplo, nos
EUA as emissões
de CO2
por habitante são de 16,4 ton; na
China
6,9
ton,
ou
seja para
os
EUA atingirem
o nível do
“maior
poluidor mundial” teriam de reduzir as suas emissões uns 60%,
alterando
completamente o seu modo de vida, mesmo considerando os 50 milhões
de pobres...
Nos
países capitalistas ricos devido
à desindustrialização
o consumo de energia elétrica se mantivesse
relativamente estável,
porém os produtos
são
produzidos
e importados
de outros
países
geralmente muito distantes.
Além
disto o consumo de energia foi transferido para consumos não
essenciais como
a exuberância de centros comerciais, etc.
Para
além de alarido inconsequente não se veem soluções
políticas,
económicas e
técnicas, para implementar a neutralidade carbónica,
não
existindo nenhum
planeamento definido e
a
ser posto em prática, além de dinheiro para distribuir
aos capitalistas para
fazerem “reconversões”.
Não
está determinada a
energia elétrica
necessária para a substituição da frota automóvel para carros
elétricos. Porém,
as
viaturas elétricas são também
ambientalmente
destrutivas, quer pela extração de matérias-primas necessárias,
quer pelo seu processamento. A
fabricação de baterias
de lítio requer uma ampla variedade de metais, muitos dos quais
existem na natureza em concentrações muito baixas.
A reciclagem
destas
baterias é
difícil e mesmo
mais
cara que novos materiais.
A
reconversão
para viaturas elétricas vai (ou iria…) implicar a fabricação de
muitas
centenas
de milhões de carros e respetivas baterias nas próximas décadas
cujo
preço está artificialmente reduzido devido aos apoios estatais.
A regulação automática do mercado não funciona...
Que
quantidade
de energia
elétrica vai ser necessária no futuro para substituir outras formas
designadamente de combustíveis fósseis? Apontam-se
metas de CO2 mas como se chega lá permanece nebuloso. Que
planeamento além de metas que nada significam
se não forem suportadas por programas identificando o quê,
quem, como e quando.
Também
acerca
da
descarbonização nada
se ouve
contra as
emissões associadas à corrida aos armamentos, bases militares,
manobras, esquadras navais, aviação, conflitos e agressões
militares. Nem
contra a globalização neoliberal e a
desflorestação
pelas
transnacionais da
agricultura intensiva.
Se
falamos de descarbonização o
que conta são as emissões globais. Então
como vão desenvolver-se os países pobres? Como vão dispor de
energia barata e acessível? Note-se que as medidas do FMI para estes
países levaram à monocultura e
destruição de florestas – que reciclam o CO2 - para produzir óleo
de palma, soja, pastagens para
gado,
com
vistas à exportação
pelas transnacionais e penetração de produtos dos países ricos.
Afirma
Andrei
Martyanov:
Os
evangelistas “verdes” parece não entenderem que os telemóveis
não crescem nas árvores, que o mundo opera baseado em energia,
máquinas, produção real, física básica e engenharia. Necessita
de gigantescos recursos de extração mineira, enormes navios
metálicos, redes elétricas, etc.
A
“democracia liberal” e o seu modelo consumista da “liberdade de
escolha – a
nível mundial para muito poucos -
com que atrai
as
populações
para
os mecanismos da exploração
capitalista, é
de facto um sistema que condena o planeta e o futuro da humanidade.
É
duvidoso
que a
humanidade possa
mudar o clima, mas
pode mudar o
sistema que destrói o planeta. E
isto ultrapassa em muito a descarbonização: trata-se dos recursos
limitados do planeta e da sua conservação. Problemas,
agravados pelo neoliberalismo e o capitalismo monopolista
transnacional que
não
podem ser resolvidos com as políticas que lhe deram origem. As
soluções só
podem
ser superando
os
destrutivos
processos
capitalistas:
o
socialismo, a
via da paz e
do
fim do imperialismo. Só assim a
Humanidade concretizará
as
necessárias
soluções
sociais e ambientais.