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30 de julho de 2021

Alterações climáticas, descarbonização e consumos – 2

 No texto anterior vimos a necessidade de com vistas à descarbonização eliminar diversas produções industriais, meios de transporte, agricultura intensiva, consumo de carne. Por exemplo, haveria que encarar o fecho de refinarias de petróleo, petroquímicas (plásticos e adubos), etc.

Os efeitos económicos e sociais da descarbonização no emprego e no modo de vida não estão minimamente avaliados e divulgados. Pelo contrário, a publicidade e os apelos a consumos não essenciais são constantes.

O transporte marítimo e aéreo é crucial para a globalização neoliberal. Como se encara a necessária soberania alimentar, reduzindo consumos trazidos de milhares de quilómetros? Da construção de edifícios sem cimento. Do comércio em grande escala, do turismo, etc.?

Por exemplo, nos EUA as emissões de CO2 por habitante são de 16,4 ton; na China 6,9 ton, ou seja para os EUA atingirem o nível do “maior poluidor mundial” teriam de reduzir as suas emissões uns 60%, alterando completamente o seu modo de vida, mesmo considerando os 50 milhões de pobres...

Nos países capitalistas ricos devido à desindustrialização o consumo de energia elétrica se mantivesse relativamente estável, porém os produtos são produzidos e importados de outros países geralmente muito distantes. Além disto o consumo de energia foi transferido para consumos não essenciais como a exuberância de centros comerciais, etc.

Para além de alarido inconsequente não se veem soluções políticas, económicas e técnicas, para implementar a neutralidade carbónica, não existindo nenhum planeamento definido e a ser posto em prática, além de dinheiro para distribuir aos capitalistas para fazerem “reconversões”.

Não está determinada a energia elétrica necessária para a substituição da frota automóvel para carros elétricos. Porém, as viaturas elétricas são também ambientalmente destrutivas, quer pela extração de matérias-primas necessárias, quer pelo seu processamento. A fabricação de baterias de lítio requer uma ampla variedade de metais, muitos dos quais existem na natureza em concentrações muito baixas. A reciclagem destas baterias é difícil e mesmo mais cara que novos materiais.

A reconversão para viaturas elétricas vai (ou iria…) implicar a fabricação de muitas centenas de milhões de carros e respetivas baterias nas próximas décadas cujo preço está artificialmente reduzido devido aos apoios estatais. A regulação automática do mercado não funciona...

Que quantidade de energia elétrica vai ser necessária no futuro para substituir outras formas designadamente de combustíveis fósseis? Apontam-se metas de CO2 mas como se chega lá permanece nebuloso. Que planeamento além de metas que nada significam se não forem suportadas por programas identificando o quê, quem, como e quando.

Também acerca da descarbonização nada se ouve contra as emissões associadas à corrida aos armamentos, bases militares, manobras, esquadras navais, aviação, conflitos e agressões militares. Nem contra a globalização neoliberal e a desflorestação pelas transnacionais da agricultura intensiva.

Se falamos de descarbonização o que conta são as emissões globais. Então como vão desenvolver-se os países pobres? Como vão dispor de energia barata e acessível? Note-se que as medidas do FMI para estes países levaram à monocultura e destruição de florestas – que reciclam o CO2 - para produzir óleo de palma, soja, pastagens para gado, com vistas à exportação pelas transnacionais e penetração de produtos dos países ricos.

Afirma Andrei Martyanov: Os evangelistas “verdes” parece não entenderem que os telemóveis não crescem nas árvores, que o mundo opera baseado em energia, máquinas, produção real, física básica e engenharia. Necessita de gigantescos recursos de extração mineira, enormes navios metálicos, redes elétricas, etc.

A “democracia liberal” e o seu modelo consumista da “liberdade de escolha – a nível mundial para muito poucos - com que atrai as populações para os mecanismos da exploração capitalista, é de facto um sistema que condena o planeta e o futuro da humanidade.

É duvidoso que a humanidade possa mudar o clima, mas pode mudar o sistema que destrói o planeta. E isto ultrapassa em muito a descarbonização: trata-se dos recursos limitados do planeta e da sua conservação. Problemas, agravados pelo neoliberalismo e o capitalismo monopolista transnacional que não podem ser resolvidos com as políticas que lhe deram origem. As soluções podem ser superando os destrutivos processos capitalistas: o socialismo, a via da paz e do fim do imperialismo. Só assim a Humanidade concretizará as necessárias soluções sociais e ambientais.


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