“Foram dias felizes para Putin, infelizes para Guterres. Putin
conseguiu trazer à Rússia 32 delegações e 24 países naquela que foi,
certamente, a maior cimeira diplomática organizada em solo russo desde a
célebre Conferência de Ialta, que pôs termo à Segunda Guerra em 1945. E
de caminho mostrou ao mundo que não está internacionalmente isolado.
Tudo com pompa e circunstância. Guterres foi à Rússia e, com sua
presença e uma vénia reverencial ao ditador, deitou a perder três anos
de defesa firme do direito internacional.”
Daqui se conclui que os salvadores da Humanidade são os nazis democráticos do Batalhão Azov em que Zelenski se apoia.
Por baixo, com título “Pela ordem e pela Pátria”, o mantra do Chega,
do Nuno Melo, do Severiano de sei lá quantos devotos de Salazar, o
cronista Manuel Loff, professor universitário e ex-deputado, regista uma
pequena série dos assassínios policiais praticados ao abrigo do sagrado
dever de impor a tal ordem a esta nossa acrisolada pátria.
Citemos:
“1987, Fernando Semedo, Queluz; Romão Monteiro, 33 anos, cigano, morto
em Matosinhos enquanto estava detido e algemado, 32001; Ângelo Semedo,
17 anos, 2002; António Pereira, 25 anos, operário, membro do Centro
Cultural Africano de Setúbal, morto no Bairro da Bela Vista, 2003;
Carlos Reis (PTB), 20 anos, morador no Zambujal (o mesmo bairro de Odair
Moniz), baleado na cabeça por um agente da PSP durante uma ‘operação
stop’, 2004; José Carlos Vicente (“Tete), 16 anos, morador no Bairro 6
de Maio, Amadora, morre no hospital dois dias depois de ter sido
identificado na esquadra da Reboleira, 2005; João, 17 anos, morador no
Bairro Amarelo, Almada, morto pela GNR, Quinta do Raposo de Cima, Monte
da Caparica, 2009; Elson Sanches (“Kuku”), 14 anos, na Quita da Lage,
Amadora, abatido à queima-roupa, 2010; McSake (Nuno Rodrigues) rapper,
2013, Diogo Filipe Borges Seidi (“Musso”), 15 anos, Bairro 6 de Maio,
morre no Hospital Amadora-Sintra, depois de se queimar e de ter sido
torturado pela polícia na esquadra de Alfragide. E, agora, Odair Moniz,
43 anos, Zambujal. Quatro tiros, dois mortais, disparados a curta
distância. (E a esta lista falta acrescentar todos os outros
afrodescendentes e ciganos que, abordados na rua, em casa, detidos em
esquadra, foram espancados, torturados, humilhados com insultos
racistas.
“A retórica do Chega e de vários
sindicatos policiais sabe-se bem que não tem motivos para se queixar da
magistratura: quando estes agentes foram a tribunal – em muitos casos a
justiça decidiu não acusar nenhum membro das forças de segurança –, os
agentes policiais foram condenados a penas suspensas ou mesmo
absolvidos, o que faz com que, desde há muito, a Comissão Europeia
contra o Racismo e a Intolerância (ECRI), do Conselho da Europa,
denuncie “que os agentes das forças da ordem processados por violências
racistas são raramente condenados, (bastando-lhes) invocar a legítima
defesa para serem absolvidos”
“Em vários casos,
o Ministério Público acusou-os de falsificar relatórios e testemunhos e
manipular provas. No seu relatório de 3013, a ECRI voltou a (convidar)
as autoridades a proceder a um inquérito sobre a possível existência de
uma cultura institucional de racismo ou discriminação racial no seio da
polícia.”
Basta de citações. É já insuportável a minha vergonha.
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