Uma série de "façanhas" do Parlamento Europeu mostram estar cada vez mais dominado pela direita, influenciada pela extrema-direita, enquanto a fação maioritária dita de esquerda e ecologistas junta-se ao coro russofóbico e sinofóbico. Porém, como explicar que iniciativas do PE suscitem tão pouca oposição ou interesse entre os cidadãos europeus, não fazendo ideia das suas consequências?
Uma resolução recentemente adotada pelo PE - 432 votos a favor, 60 contra e 71 abstenções - pretende a admissão de Taiwan em organizações da ONU, opondo-se à Resolução 2758 da ONU de 1971, que exclui os representantes de Taiwan na ONU e suas organizações. Ataca de frente o que Pequim considera uma linha vermelha cujo não cumprimento levaria a reações severas. O PE também aprovou por larga maioria uma resolução que assume uma posição firme contra a China no conflito sobre Taiwan e pede medidas que apoiem a separação da ilha do continente. Diz-se, que Taiwan é um "parceiro-chave" da UE com o qual pode cooperar mais estreitamente no futuro, são enviadas delegações de parlamentares a Taipé, e pretende manter intercâmbios mais intensos "a todos os níveis". Isto segue uma plano aprovado em 2023 pelo Congresso dos EUA, atacando a Resolução 2758 da ONU com alegações contrárias à verdade.
Por detrás disto está a Aliança Interparlamentar para a China (IPAC) fundada em junho de 2020, reunindo cerca de 250 deputados de quarenta parlamentos, que se consultam sobre medidas contra a China. Isso possibilita aprovar resoluções contra Pequim em vários parlamentos e dar a impressão de que há um descontentamento internacional generalizado com a República Popular.
Quanto às linhas vermelhas da China em relação a Taiwan, os países ocidentais terão que decidir qual o caminho que pretendem seguir. Desde 24 de fevereiro de 2022, sabe-se o que pode acontecer se não respeitarmos as linhas vermelhas de um Estado. (1)
Mostrando ao serviço do que estão, no PE não medem consequências, a linha geral é a mentira e o confronto, além da subserviência ao hegemónico. Em 25 de outubro, o PE atribuiu o Prémio Sakharov, mais alta distinção da UE para os direitos humanos, a Maria Corina Machado e Edmundo González, respetivamente líder e candidato da oposição venezuelana nas eleições presidenciais. Mais uma vez, a uma iniciativa execrável do PE e uma flagrante falta de pensamento crítico por parte da imprensa.
A presidente do PE, Roberta Metsola, com base no apoio de Washington, diz que os premiados defendem "valores que são caros a milhões de venezuelanos (...): justiça, democracia e Estado de direito". Guaidó saiu de cena, substituído por outros fantoches dos EUA, candidatos a líderes da extrema da extrema direita venezuelana com passado de colaboradores da CIA na América Latina.
Em 19/09/2019, por 535 votos a favor, 66 contra e 52 abstenções, o PE votou uma resolução que colocava o nazismo e o comunismo em pé de igualdade, como se o regime genocida de Hitler, baseado no racismo biológico, pudesse ser colocado a par do sistema que o derrotou. Esta amálgama foi denunciada numa carta branca assinada por professores universitários, ensaístas, escritores e cineastas.
Em 09/06/2022, o PE alinhava na conspiração anti China, com "evidências confiáveis sobre medidas de prevenção de natalidade e a separação de crianças uigures de suas famílias constituem crimes contra a humanidade e representam um sério risco de genocídio". Faziam-se eco de fantasias de propagandistas. Perante a evidência da mentira, calaram-se...
Em 23/10/2008, o PE qualificou o Holodomor como um "crime contra a humanidade". Em 15/12/2022, para o PE o mesmo fato histórico tornou-se um "genocídio". Em que revelações, arquivos recém-descobertos se basearam para dar este passo? Muitos especialistas mostraram que a acusação é baseada em nada, como historiadores de várias nacionalidades o provaram, incluindo de origem ucraniana. Menção especial a Oleg Nesterenko, cujos avós foram confrontados com a terrível fome de 1930, que assolou outras repúblicas da URSS além da Ucrânia.
Isto é possível, porque nos grandes media desapareceu o pensamento crítico. A Carta de Munique, obriga todo jornalista a "nunca confundir a profissão de jornalista com a de anunciante ou propagandista (art. 9) e a "retificar qualquer informação publicada que se mostre imprecisa" (art. 6). É sintomático, por exemplo, que entre os signatários da carta branca que denuncia a amálgama entre nazismo e comunismo, haja apenas dois jornalistas aposentados, Jean-Marie Chauvier e Hugues Le Paige.
O "jornalismo de reverência" denunciado por Serge Halimi, domina o espaço informativo, devido em particular à concentração dos media nas mãos de bilionários que têm todo o interesse em manter a "desordem estabelecida". Muito raros são os jornalistas, especialmente jovens, que têm a liberdade de nadar contra a maré. Para não serem demitidos, são forçados a autocensura. Felizmente, existem outros canais, regularmente acusados de teorias da conspiração pela simples razão de que não acompanham o resto do rebanho. (2)
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