Para perceber os detalhes dos OE das políticas de direita, vamos aos seus fundamentos, inscritos nas teses neoliberais que regem a UE, conforme a entrevista do jornalista premiado Chris Hedges. a George Monbiot autor (com Peter Hutchison) de The invisible Doctrine: The Secret History of Neoliberalism. (1)
A ordem mundial atual é projetada para ser complexa e confusa, obscurecendo as origens e filosofia subjacente. Políticos, media, os chamados intelectuais em think tanks — junto com falsidades sistémicas — perpetuam esse sistema velado. O neoliberalismo manteve seu domínio explorando a maioria para sustentar a prosperidade de poucos.
Chris Hedges: O neoliberalismo é uma ideologia furtiva, que imediatamente domina nossas vidas, mas existe em relativo anonimato. Seus efeitos reconfiguraram radicalmente as sociedades ocidentais por meio da desindustrialização, austeridade, privatização de serviços públicos, serviços postais, escolas, hospitais, prisões, polícia, partes das forças armadas, transportes, além de gerar estagnação salarial e servidão pela dívida. Deformou o sistema tributário e destruiu regulamentações para canalizar riqueza para cima, criando desigualdades que rivalizam com o Egito faraónico. No entanto, o neoliberalismo permanece em grande parte não mencionado e não examinado, especialmente pelas universidades e os media capturados por uma classe dominante que lucra com a doutrina neoliberal.
O neoliberalismo esteve por trás do colapso financeiro catastrófico de 2007 e 2008. Está por trás do aumento do subemprego e desemprego crónicos, do ataque ao trabalho organizado, da queda nos padrões de saúde e educação, da pobreza infantil, da degradação do ecossistema e da ascensão de demagogos e da extrema direita. No mundo do neoliberalismo, tudo, incluindo os seres humanos e o mundo natural, são mercadorias exploradas até a exaustão ou o colapso. O deus é o mercado. Todos serão sacrificados diante do ídolo.
George Monbiot: O fascismo pode ser um meio altamente eficaz para resolver o problema da democracia. Quando o fascismo entrou em colapso na Europa em 1945, eles tiveram que encontrar outro meio, e esse meio foi o neoliberalismo, uma maneira altamente eficaz de resolver o problema colocado (aos oligarcas) pela democracia.
Uma ideia fundamental do neoliberalismo é que os sindicatos são contra a ordem natural. O neoliberalismo tenta descrever-se como um tipo de lei natural, não algo que foi inventado por pessoas, é apenas a maneira como temos de interagir uns com os outros. O que o neoliberalismo envolve é a remoção de todos os impedimentos ao capital, dos meios pelos quais os ricos podem tornar-se ainda mais ricos, seja qual for a forma como desejarem, e a qualquer custo para os seres humanos e o mundo vivo. Um dos principais impedimentos ao capital são os sindicatos, porque os sindicatos querem que os trabalhadores obtenham uma parcela maior do valor que produzem, em vez de se verem completamente explorados e sua produção confiscada por outros.
Em 1944, com Friedrich Hayek em O caminho para a servidão e Ludwig von Mises em Burocracia, vimos o ataque concertado aos sindicatos. Em 1947, com a Sociedade Mont Pelerin, vimos o desenvolvimento de uma internacional neoliberal, uma rede de organizações apoiada por algumas das pessoas mais ricas do mundo, que despejavam dinheiro nisso, um de seus principais objetivos era esmagar a negociação eleitoral e a organização sindical e, quando seus políticos favoritos chegaram ao poder por meios justos ou injustos - Pinochet, Margaret Thatcher, Reagan - os sindicatos foram esmagados.
O caminho para a servidão, é uma falácia gigantesca. Diz que se houver um movimento em direção à proteção das populações como um todo, à redistribuição de riqueza, à criação de serviços públicos robustos e uma rede de segurança económica, isso inevitavelmente levará ao totalitarismo. É um absurdo filosófico, mas ficaram felizes em adotá-lo porque os serviu.
A constituição da liberdade, de Hayek (1960) , é um livro totalmente louco, dizendo que não importa como a riqueza foi adquirida. Se você é rico, é fantástico, é uma pessoa brilhante. As pessoas que ficaram ricas, quer tenham herdado, roubado ou de qualquer forma adquirido esse dinheiro, são o que o resto da sociedade deve seguir. Ele abandonou sua oposição aos monopólios. Disse abertamente, nós só temos que explorar e destruir o mundo natural, extrair o máximo de dinheiro que pudermos e reinvesti-lo em outro lugar. E não importa o dano que fizermos. Uma proposição maluca, mas o desenvolvimento da doutrina foi a resposta aos desejos da classe oligárquica.
O termo neoliberalismo foi usado até a década de 1950, então começaram a abandoná-lo. Não deram nenhum termo para substituí-lo. Apenas disseram, esta é uma lei natural. Não precisa ter um nome. Começou-se a chamar isso de coisas como Thatcherismo, Reaganismo, monetarismo ou economia do lado da oferta. E como não conseguimos identificar a sua fonte, não conseguimos combatê-lo.
O termo “think tank” disfarça muita coisa. É um desses muitos termos que não é projetado para esclarecer, mas para disfarçar, e dá a impressão que são pessoas independentes que pensam sobre as coisas. Realmente não pensam: são revendedoras de ideias de segunda mão.
Os chamados think tanks, ou junk tanks, como prefiro chamá-los, pegaram em propostas muitas vezes ultrajantes vendendo-as ao público como coisas boas para todos, para nosso benefício, em vez de serem devastadoras para a sociedade, para os trabalhadores, para os cidadãos em geral. É para isso que esses tanques de lixo existem. Mas eles estão sussurrando aos ouvidos dos políticos.
1 - Texto completo em: O Relatório Chris Hedges: A História Secreta do Neoliberalismo
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